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Crítica | Alive (#Saraitda, 2020)

por Luiz Santiago
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Um filme de zumbi cosmopolita com algum burguesinho fechado num apartamento… sim, o que temos neste sul-coreano #Alive (#Saraitda) é essencialmente similar ao que tivemos no francês A Noite Devorou o Mundo, duas safras antes. Desta vez, porém, o impacto da obra é bem mais intenso, pois ela chega em um mundo no meio de uma pandemia; não de zumbis, é verdade, mas de dois tipos de vírus, sendo um deles o da mais pura estupidez.

#Alive é dirigido por Il Cho, um marinheiro de primeira viagem em longas. E para todos os efeitos, ele não começou realmente mal. Sua concepção para a invasão dos zumbis ganha pontos na locomoção dessas criaturas (ágeis e, até onde dá para notar, com algum tipo de inteligência restante) e na forma como acompanha os primeiros dias solitários e desesperadores de Oh Joon-woo (Ah-In Yoo, de Em Chamas), seguidos de sua privação de comida e água, do estresse cada vez maior, da total falta de perspectiva e de uma explicação para o que de fato aconteceu. Basicamente a parte humana e o elemento coreográfico com os figurantes — em ótimas maquiagens e figurinos — se destacam na obra, e isso já é um grande passo à frente para um diretor estreante em longas e tratando de um tema tão exigente quanto este.

Como trabalhar a solidão no meio de um surto que transforma pessoas em criaturas devoradoras de carne humana? Este é o ponto que o roteiro do próprio diretor, em parceria com Matt Naylor, desenvolve na primeira parte da fita. O “Como” o protagonista chegou nesse estágio é a parte ruim da jornada, porque a febre dos mortos-vivos surge absolutamente do nada e não existe sequer um caminho que indique algo inteligível sobre a tal infecção. Espectadores que não gostam ou não estão acostumados com meias-respostas ou ausência orgânica de resposta em filmes provavelmente terão bem mais problemas que eu. Particularmente, não vejo real necessidade de explicações detalhadas. Pode-se perfeitamente seguir com um mistério total envolvendo o apocalipse, mas a construção da obra precisa criar o tipo ideal de receptáculo para essa ausência, o que não acontece aqui.

A revelação sobre a chegada dos zumbis vem forma abrupta, beirando a falta de sentido, algo que infelizmente não recebe um atenuante narrativo ao longo da fita, ao contrário, tem somado às suas divisas uma porção de conveniências que simplesmente nos fazem rir. Por um lado, podemos aproveitar as ótimas cenas de fuga e luta do jovem protagonista (depois ajudado por Kim Yoo-bin, personagem de Shin-Hye Park) com os zumbis, assim como o seu crescente desespero e chegada da depressão num cenário de puro esgotamento emocional, levando-o a tentar suicídio. A vivência no caos e a luta pela sobrevivência se destacam facilmente nesse ambiente. O problema é que as molas que o diretor utiliza para impulsionar a narrativa são pontualmente convenientes, estúpidas ou reticentes demais.

Estar isolado, em desespero e não ter ninguém para interagir muda a pessoa pouco a pouco. Há algumas nuances fotográficas bem interessantes que reforçam essa vivência aqui, embora o filtro doentio e lodoso seja a marca registrada da obra. Vale destacar que o diretor não sobreutiliza a trilha sonora, focando mais no trabalho de edição e mixagem de som (essenciais para um filme desse gênero) e deixando a música apenas para momentos bem específicos, flertando eventualmente com um tipo de drama afetado. Fica agora a dúvida se assim como Invasão Zumbi teremos um novo foco de produção de obras sobre mortos-vivos na Coreia do Sul. O final de #Alive parece não deixar dúvidas quanto a intenção disso, pelo menos. Só que diferente de seu parceiro nacional, #Saraitda tem um número grande de problemas, já de entrada. Será que vinga como franquia?

#Alive (#Saraitda) – Coreia do Sul
Direção: Il Cho
Roteiro: Il Cho, Matt Naylor
Elenco: Ah-In Yoo, Shin-Hye Park, Hyun-Wook Lee, Bae-soo Jeon, Hye-Won Oh, Woon Jong Jeon, Bo-Bi Joo, Hak-seon Kim, Chae Kyung Lee, Kyu-Ho Lee, Hee-Jung So, Jin So-Yeon
Duração: 98 min.

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