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Crítica | Amanhecer Violento (1984)

por Ritter Fan
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  • spoilers.

Lembro-me distintamente, quando terminei de assistir Sinais pela primeira lá nos idos de 2002, que fiz uma associação direta com Amanhecer Violento, filme que sempre gostei muito por fazer parte da minha adolescência oitentista. Assim como no longa bélico de John MiliusM. Night Shyamalan lida com uma invasão de grande escala que é abordada a partir de um ponto de vista diminuto, trabalhando o macro por meio do micro, deixando-nos conhecer apenas o que o pequeno elenco vê ou aprende. Troque os alienígenas de Shyamalan pelos comunistas de Milius e pronto, temos basicamente a mesma estrutura narrativa.

Mas os paralelos com o longa estrelando Mel Gibson param por aí, pois, onde há delicadeza e finesse, Milius usa de truculência e violência. Onde há construção de personagens no filme mais recente, a obra clássica do diretor de Conan, o Bárbaro é um desfile de personagens unidimensionais e recortados em cartolina que, porém, esbanja charme e, visto hoje em dia, reúne elenco que, cada um a sua própria maneira, ganharia destaque no cinema e na TV em maiou ou menor grau.

Encapsulando a paranoia da Guerra Fria, Amanhecer Violento estuda a hipótese de uma invasão soviética, com seus aliados cubanos e nicaraguenses nos EUA a partir da tomada da cidadezinha de Calumet, no Colorado. Paraquedistas caem do céu e, não demora, a cidade está sitiada, com apenas um punhado de jovens conseguindo fugir para as montanhas. Jed Eckert (Patrick Swayze) é o mais velho e o líder, com seu irmão Matt (Charlie Sheen) seguindo-o lealmente. O restante do grupo, que seria conhecido como Wolverines, nome do time de futebol local, é formado por Robert Morris (C. Thomas Howell), Daryl Bates (Darren Dalton), Arturo “Aardvark” Mondragon (Doug Toby), Danny (Brad Savage) e as irmãs Mason, Erica (Lea Thompson) e Toni (Jennifer Grey). Basta ler os nomes dos atores novamente para notar que a força invasora não tem chance, não é mesmo?

Brincadeiras à parte, o pequeno grupo começa, no melhor estilo Resistência Francesa, a desabilitar as forças inimigas com pequenos e precisos ataques nos meses que se seguem, enquanto recebem informações externas quase que exclusivamente do Tenente-Coronel Andrew “Andy” Tanner (Powers Boothe) que tem seu F-15 abatido e logo reúne-se ao grupo. É aí que o roteiro traz um pouco da “invasão macro” para dentro do microcosmo dos Wolverines, deixando claro, um tanto quanto artificialmente, já que é somente por meio de textos e diálogos expositivos, que os EUA estão isolados, com ajuda apenas da Inglaterra nessa guerra (europeus ingratos!). Da mesma maneira, de uma maneira mais do que conveniente e, diria, absolutamente preguiçosa, o roteiro co-escrito por Milius e Kevin Reynolds (este último também autor da história, inicialmente batizada de “Dez Soldados“) tenta explicar que o ataque nuclear soviético foi razoavelmente pequeno e exclusivamente estratégico apenas e que o objetivo seria controlar o país com o uso de tropas no chão. Temos que fechar os olhos e aceitar, caso contrário essa pequena historieta nas Montanhas Rochosas não teria chance de funcionar.

Aliás, para funcionar mesmo temos que aceitar ainda mais. Temos que acreditar que apenas um punhado de jovens inexperientes seria capaz de sobreviver meses no meio do mato e temos que aceitar que as forças invasoras são de uma incompetência tão grande que, até os 30 minutos finais de projeção, só apanham dos Wolverines. Seria pedir demais? Olha, considerando a época em que o filme foi feito e seu objetivo principal, tenho para mim que não. A pegada é despretensiosa, ainda que obviamente ufanista (e não há mal algum nisso), com uma abordagem que até é  surpreendentemente violenta (foi o primeiro filme na história a ser laureado com um PG-13 na classificação etária), mas que ao mesmo tempo consegue ser razoavelmente exangue, com mortes mais “distantes” e frias.

Se o fator divertimento é alto, algo que o compositor Basil Poledouris ajuda com sua trilha sonora militarística, mas muito eficiente para evocar o lado patriótico da fita, é uma pena notar que o roteiro explora tão pouco seus protagonistas. Todos os garotos são basicamente fungíveis e Milius não consegue tirar de nenhum deles uma atuação menos do que teatral. Swayze e Sheen, mesmo com mais tempo de projeção, não tem muito mais o que fazer a não ser liderar, chorar, matar e, no final das contas, morrer como mártires.

A direção também não é muito melhor, com Milius fazendo seus planos gerais que extraem o máximo da bela paisagem natural do estado do Nevada, onde a produção ocorreu, mas sem integrá-la de verdade à narrativa. É algo como “ext. plano geral montanhas – corta para close-up de algum jovem chorando”. Faltou o tal finesse que mencionei no começo da presente crítica, algo que talvez até não tivesse lugar em uma obra como essa, mas que de toda forma está presente em diversas produções parecidas dos anos 80, até mesmo Conan, o Bárbaro, pelo que não seria mortal se também desse as caras por aqui.

Amanhecer Violento é um divertido produto de seu tempo que não faz mais do que o básico com o material limitado que tem. Poderia ser muito mais, mas a fita se contenta em mecanicamente colocar os Wolverines contra os invasores comunistas. E, pelo menos no meu livro, filmes que mostram comunistas comedores de criancinhas tendo suas bundas chutadas por adolescentes americanos ganham pontos sempre! Wolverines!!!

Amanhecer Violento (Red Dawn, EUA – 1984)
Direção: John Milius
Roteiro: John Milius, Kevin Reynolds (baseado em história de Kevin Reynolds)
Elenco: Patrick Swayze, C. Thomas Howell, Lea Thompson, Charlie Sheen, Darren Dalton, Jennifer Grey, Brad Savage, Doug Toby, Powers Boothe, Ben Johnson, Harry Dean Stanton, Ron O’Neal, William Smith, Vladek Sheybal, Frank McRae, Roy Jenson, Pepe Serna, Lane Smith, Judd Omen, Radames Pera
Duração: 114 min.

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