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Crítica | Amargo Reencontro

Um quarto de julgamentos verbais.

por Kevin Rick
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Amargo Reencontro é um filme contado em tempo real num quarto de motel qualquer, onde três amigos conversam sobre o passado, suas personalidades e ressentimentos. Baseada numa peça, a narrativa se passa inteiramente no mesmo local, algo que demanda bastante da direção para manter a experiência dinâmica, e também do roteiro para compor uma história interessante no espaço limitado, principalmente em relação ao uso excessivo de diálogos que seguem esses tipos de cenários.

Antes de falar da história em si, gostaria de pontuar as escolhas estilísticas de Richard Linklater. O cineasta tem uma abordagem um tanto peculiar, optando por uma única câmera na mão e uma fotografia de baixa qualidade, lembrando produções de found-footage. Isso dá um certo aspecto de filme amador à obra, parecendo uma produção de um estudante de cinema num primeiro momento, mas assim como acontece em SubUrbia, a escolha de Linklater aproxima as encenações dos personagens para o meio cotidiano e realista e menos para um palco do material teatral. Dessa forma, a direção visual consegue passar uma sensação natural para a cenografia e as conversas de palco. O roteiro, porém, é um pouco diferente.

Apesar do confinamento, a narrativa é dividida em dois blocos bem claros. A primeira parte da história acompanha Vince (Ethan Hawke), um traficante de drogas e bombeiro voluntário, recebendo no quarto seu amigo Jon Salter (Robert Sean Leonard), um documentarista. Na verdade, Vince alugou o quarto para prestigiar a entrada de Salter num festival de Cinema. A amizade da dupla está, porém, longe de ser amistosa. Os dois se confrontam em conversas cheias de julgamento e discursos morais, especialmente por parte de Jon, enquanto Vince planeja uma espécie de vingança.

As discussões dos amigos perduram por 2/3 da duração do longa, no bloco mais problemático da produção. O maior obstáculo são os tópicos e a falta de naturalidade na conversação dos personagens, dispondo de muitos diálogos pseudo-filosóficos e super moralistas, interações pouco convincentes (principalmente para amigos de longa data) e uma ausência de substância dramática mesmo – também não gostei dos histrionismos de Hawke. O fato da obra não ter muita coisa acontecendo, seja em termos estéticos, de ambientações ou de sonoridade, acabam deixando a experiência monótona. Linklater é quem segura a produção, com uma câmera até enérgica dada as limitações, comandando o espaço com agilidade e muita movimentação.

No entanto, a obra tem uma virada. Eventualmente, Vince e Jon começam a falar sobre Amy (Uma Thurman), a ex-namorada de Vince que no último ano do colegial dormiu com Jon. Existem certas dúvidas em torno do ocorrido, então vemos confrontos, indagações e intimidações muito bem-escritas (parece outro roteiro a partir desta descoberta), levando a uma confissão verbal de Jon que tinha estuprado Amy. Como eu havia dito, Vince estava planejando uma vingança e agiu premeditado, gravando toda a conversa e convidando Amy para o quarto de motel.

A partir do momento que a personagem se junta aos dois amigos, Amargo Reencontro se transforma. A narrativa ganha um corpo de suspense e camadas dramáticas em meio à situação constrangedora e o acontecido terrível. Uma Thurman domina cada frame que aparece, criando uma experiência cheia de tensão e questionamentos em torno do que realmente aconteceu, como será sua reação e quais são as intenções dos personagens – a decupagem de Linklater se torna essencial neste segundo bloco, tornando tudo extremamente real e espontâneo. Não é o suficiente para elevar a produção como um todo, mas o filme tem uma reta final muito boa. No fim, Amargo Reencontro se mostra uma história sobre feridas abertas, muito egoísmo e lutas verbais.

Amargo Reencontro (Tape) – EUA, 2001
Direção:
 Richard Linklater
Roteiro: Stephen Belber
Elenco: Ethan Hawke, Robert Sean Leonard, Uma Thurman
Duração: 86 min.

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