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Crítica | American Crime Story – 3X02: The President Kissed Me

por Iann Jeliel
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The President Kissed Me

  • Contém SPOILERS. Acompanhe por aqui as críticas dos demais episódios de Impeachment, e aqui, as críticas de nosso material da série.

The President Kissed Me cruza uma linha perigosa perante os eventos reais e o ponto de vista de como eles são apresentados, para algumas linhas da proposta da série. A ideia de Ryan Murphy com American Crime Story é ter uma câmera direcionada a uma leitura crítica do incidente na antologia narrada, mas numa construção que preza essencialmente fornecer uma encenação “espetacularizada” a quem não conhece o que aconteceu direito, ter os sentimentos sobre as informações do modo de quem vivenciou os escândalos na época.

O problema disso, nesse episódio, é que vamos passear pelo olhar idealizado de Monica Lewinsky (Beanie Feldstein) e seu romance com Bill Clinton (Clive Owen), levando a uma abordagem beirando um romance clássico de amor impossível, o que traz uma ambiguidade de fácil distorção pelo público-alvo do que está sendo comunicado exatamente na emulação. Por um lado, acho interessante a abordagem pensando num efeito dramatúrgico futuro, quando Monica passará a enxergar as intenções perversas de seu amante. Lembra em devidas proporções, o que foi feito em Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal, investindo imageticamente na inocência de alguém que já foi provado culpado, somente para comunicar certas arrestas hipócritas dos arredores – apontei algumas, no texto do episódio um, e elas foram expostas em outros núcleos deste.

Por outro, mesmo sabendo que a intenção não é ser jornalística, a falta de detalhismo das circunstâncias, tanto nas narrações de Mônica confessando o envolvimento com o presidente para Linda Tripp (Sarah Paulson), quanto na imagética das cenas escolhidas para representar esses encontros – a tensão sexual é evidente, mas precisava ser mais explicita e não só aparentemente cínica –, abrem margem para algum desprevenido comprar o lado do abusador, também sobre projeção de futuro acompanhamento. É complicado porque parece um “problema” inerente pela escolha da fragmentação da história, que através da divisão, cumpri seu papel em trazer o sentimento que era de total desconfiança as intenções de Mônica, geralmente chamada de aproveitadora.

Para passar essa sensação, há um enfoque do texto na sua insegurança sobre aquela relação não poder ser mostrável, além da descritiva dos flertes focar no tesão vindo do poder representativo e imponente da figura, como se ela sentisse atraída somente por este fator, como se ela fosse quem o manipulou por mostrar a calcinha antes do primeiro encontro oficial, como se ela precisasse da afirmação dele com ela para o povo, colocando-a do seu lado nas entrevistas, fazendo-a aproveitar do poder. Isso tudo deve ter sido verdade, afinal, a verdadeira Monica Lewinsky está entre as produtoras da temporada, logo, a preservação de seu ponto de vista certamente tem fundos de verdade, mas que a leitura unilateral dentro de um recorte temporal curto é perigosa a interpretação do cerne crítico da série, ela de fato, é.

Até por isso os outros núcleos, de Paula Jones (Annaleigh Ashford) e os investigadores envolvidos na conspiração para derrubar Bill, entrosam no meio, alongando o episódio para manter firme o posicionamento crítico da série, ainda sob a orientação ambígua da emulação da época. Contudo, dentro de The President Kissed Me, essas narrativas não avançam pouco, ou somente tornam didático o que já havia ficado claro no capítulo anterior, e poderiam ter sido escanteadas para dar um enfoque no desenvolvimento da amizade de Tripp e Monica, de preferência com um pouquinho do ponto de vista de Tripp sobre as suas intenções com Monica, se realmente ela a via como amiga ou como arma para seu movimento político. No recorte, fica um misto. Pela perspectiva de Monica, Linda era um porto seguro realmente, mas numa das últimas cenas do episódio, em que Tripp é perguntada sobre o caso Willey (Elizabeth Reaser), sua resposta dá a entender que ela vai usar a fragilidade da amiga. Agora se isso será independente da amizade ou não, ou até mesmo por conta da amizade, só os próximos capítulos para explorar.

Tirando o destaque evidente a reconstrução de imagens de época – o abraço de Clint com Monica pouco depois da reeleição e a dança do baile com Hillary (Edie Falco) são de uma semelhança impressionante –, The President Kissed Me encalça a história numa dubiedade interpretativa desnecessária, por não corresponder totalmente em execução a ousadia da proposta no encosto da temporada. Não chega a ser ruim, vai depender do que será a abordagem dos próximos episódios, mas ele coloca a temporada em uma encruzilhada.

American Crime Story (Impeachment) – 3X02: The President Kissed Me | EUA, 14 de Setembro de 2021
Showrunners: Ryan Murphy, Sarah Burgess
Direção: Michael Uppendahl
Roteiro: Sarah Burgess, Daniel Pearle (baseado no livro A Vast Conspiracy: The Real Story of the Sex Scandal That Nearly Brought Down a President de Jeffrey Toobin)
Elenco: Sarah Paulson, Beanie Feldstein, Annaleigh Ashford, Edie Falco, Clive Owen, Mira Sorvino, Cobie Smulders, Taran Killam, Rae Dawn Chong, Sarah Catherine Hook, Danny Jacobs, George Salazar, Judith Light, Anastasia Barkow, Emma Malouff, Christopher Wallinger, James Thomas Gilbert, Emil Beheshti, Jeff Elam, Jenny C. Paul, Julie Pearl, Jason Potter
Duração: 60 minutos

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