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Crítica | American Crime Story – 3X05: Do You Hear What I Hear?

por Iann Jeliel
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Do You Hear What I Hear?

  • Contém SPOILERS. Acompanhe por aqui as críticas dos demais episódios de Impeachment, e aqui, as críticas de nosso material da série.

De todos os episódios de Impeachment, Do You Hear What I Hear? é o que melhor extrai o sentimento mais buscado por American Crime Story: envolver o público de uma maneira a deixá-lo ansioso sobre o que vai acontecer na próxima cena, mesmo já sabendo dos fatos a ocorrer. Esse sentimento permeia desde a primeira cena em que temos uma ótima sequência de Linda Tripp (Sarah Paulson) manipulando e convencendo Monica (Beanie Feldstein) a não limpar o vestido sujo de esperma de Clinton (Clive Owen), que ela quer usar na sua festa de Natal. Aquilo era a única prova concreta que Tripp tinha para averiguar a história contada nas gravações de seus telefonemas. Daí surge o suspense, pois ela precisa contornar a situação sem fazer com que Mônica  receie das suas intenções.

Funciona muito pelo cuidadoso desenvolvimento das duas dos episódios passados, a ponto de ficarmos na expectativa por ambas as perspectivas. Por Tripp, em não ser pega para efetivar seu objetivo. Por Monica, em descobrir e deixar de ser um peão da manipulação da “amiga”. Apesar de não se concretizar nessa sequência, mais para frente, Do You Hear What I Hear? trabalha o distanciamento inevitável entre as duas a partir do dilema vindo do pedido de Monica para Tripp, de dar uma declaração falsa e cometer perjúrio sob as intimidações jurídicas dos advogados de Paula Jones (Annaleigh Ashford). Mesmo que Monica acredite ser plausível o motivo de Tripp, a negação em tom de protelação a faz lentamente desconfiar da companheira.

Conforme os desdobramentos ocorrem, esse desconfiômetro converte-se em outra sequência excelente de tensão, no clímax do episódio, onde Linda precisa ludibriar Monica, fazê-la repetir informações que ela já sabe sobre o relacionamento com Clint – a mais importante era a confirmação da vaga de emprego arranjada por Vernon Jordan (Blair Underwood) – no ao vivo, enquanto o comitê de impeachment do FBI gravava a conversa. Há vários elementos que temperam essa sequência, tanto antes, quanto durante ela acontecer. Antes, temos a descoberta de Tripp de que gravações dos telefonemas, sem consentimento no Estado, é considerado crime. Isso torna sua união com FBI inevitável, partindo do pressuposto que só eles poderiam oferecer imunidade a ela, por estarem desesperados por uma liminar que justificasse a abertura do processo de impeachment.

No olhar de Monica, essa conversa já seria para Tripp dar o veredito sobre seu pedido, visto que ela insistiu algumas vezes antes desse almoço acontecer – inclusive no Natal. Só que Tripp não poderia se expor pela questão da gravação. Desse modo, essas premissas dão o valor da conversa como ainda mais derradeira. Durante, há muita liberdade criativa para situações que valorizam  ainda mais o suspense. O microfone caindo e Tripp tentando ajeitar, sendo forçada a ir ao banheiro para isso, logo, fazendo Monica suspeitar, olhando paranoicamente nos arredores nas mesas e vasculhando a bolsa de Linda torna-se um exemplo disso. É uma cena para ficar vidrado, pelas circunstâncias e atuações. Cada fala e gestual de Sarah Paulson reforçam sua ambiguidade, confundido os olhos de Monica. Dada sua ingenuidade, houve diálogos que podiam facilmente fazê-la acreditar na lábia de Tripp, ao mesmo tempo que muitos gestuais desconfortáveis tornam críveis que, mesmo na sua inocência, ela desconfiasse da amiga. Beanie Feldstein traz a sua melhor entrega emocional nesta cena, com o último pedido desesperado para que Tripp assine a declaração falsa.

Por mais que seja o momento de maior força de Do You Hear What I Hear, ainda é preciso destacar outras cenas  isoladas que se complementam no cenário temático da temporada. A primeira foca em Clinton, respondendo perguntas testes de seus advogados em preparação para o caso de Jones, onde ocorre um desabafo muito curioso. Quando um dos membros da sua equipe de Clinton menciona que a dinâmica americana de gênero está mudando, o presidente responde em tom irritado o quanto ele fez pelas mulheres em seu mandato, exemplificando na quantidade de nomeações femininas ao seu gabinete. A escolha dessa cena para um episódio de meio é perfeita para dividir o caminho, aparentemente crescente, de desconstrução, ou melhor, de construção da sua verdadeira face.

Porque quando equiparamos esse desabafo com a segunda cena que destaco, no caso, a entrevista dos seus advogados a Paula Jones, em que o argumento de Bob Bennett (Christopher MacDonald) buscava descredibilizar a mulher pelo seu histórico de relações sexuais anteriores e pelo fator de que Clinton não exatamente a obrigou, cai a mascará dessa defesa feminina do presidente como uma mera desculpa para poder usá-las. Um pretexto nocivo e bem mais amplo do que só o caso específico. Pensemos nas mulheres que são atraídas por homens de discurso feminista, mas que pelas costas são colocadas como prêmios e objetos por eles. Das mulheres que Clinton abusou, quantas não devem ter se sentido “obrigadas”, mesmo sem a obrigação, a  corresponder a um cara com pensamentos progressistas e com  tanto poder?

Ainda acho que Paula Jones, a essa altura da história, poderia ter sido mais explorada. Tudo vem se focando em Tripp e Monica, que é o núcleo mais forte, mas não é o único com potencial. Gostei muito da cena em que a mãe de Jones (Jeannetta Arnette) interage com a filha, mostrando preocupação com a bola de neve em que se meteu, conhecendo que ela não exatamente queria estar ali e deveria ter aceitado o acordo inicial. Falta vermos mais da sua parte nos próximos capítulos e inevitavelmente isso deve acontecer em episódios focados no seu julgamento. Ademais, não há o que reclamar de Do You Hear What I Hear?, o melhor episódio de uma temporada que aparentemente só tem para onde crescer.

American Crime Story (Impeachment) – 3X05: Do You Hear What I Hear? | EUA, 05 de Outubro de 2021
Showrunners: Ryan Murphy, Sarah Burgess
Direção: Laure de Clermont-Tonnerre
Roteiro: Halley Feiffer, Daniel Pearle (baseado no livro A Vast Conspiracy: The Real Story of the Sex Scandal That Nearly Brought Down a President de Jeffrey Toobin)
Elenco: Sarah Paulson, Beanie Feldstein, Annaleigh Ashford, Margo Martindale, Clive Owen, Colin Hanks, Blair Underwood, Darren Goldstein, Dan Bakkedahl, Rae Dawn Chong, Christopher McDonald, George Salazar, Chris Riggi, Jeannetta Arnette, T.J. Thyne, Tim Martin Gleason, Morgan Peter Brown, Teddy Sears, Kara Luiz, Ashlie Atkinson, Judith Light,  Craig Welzbacher, Emma Malouff, Tom Simmons, Jenny C. Paul, Jim Rash, Ryan Nassif, Jamie Baer, Rueben Grundy, Jared Gertner, Kevin Gardner, Laura Richardson, Alan Starzinski, Brandon Bales, Alex Vaughan, Jarod Scott, Dorenda Moore, Milda Dacys
Duração: 58 minutos

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