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Crítica | American Freak: A Tale of the Un-Men

por Luiz Santiago
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Algumas pessoas chegaram a American Freak por acidente, leram a minissérie e simplesmente odiaram. Essas reações negativas, contudo, possuem (pelo menos em sua maioria) um fator em comum: desconhecimento da obra que deu origem aos protagonistas da aventura: O Monstro do Pântano. Realmente fica difícil gostar de uma história que apresenta uma série de monstros medonhos se você desconhece de onde realmente deriva.

American Freak é um spin-off que resgata os eventos passados entre O Homem Que Queria a EternidadeO Homem Remendado e O Homem Que Não Quis Morrer! edições do início de Monstro do Pântano Vol.1 que marcam o aparecimento de Anton Arcane, sua possível morte num castelo da Romênia e o reaparecimento dele e dos Não-Homens (ou Un-Men) nos pântanos da Louisiana. O roteirista Dave Louapre não dá prioridade para a cronologia das criaturas mas podemos assumir que a presença e captura delas pelo Exército americano em sua base científica tem a ver com a ida de Arcane para a região em busca do Pantanoso. Todavia, as semelhanças com a série original param por aí.

A trama de American Freak acompanha a vida de Damien Kane, nascido em 1969, filho de um casal de Não-Homens (a bizarrice começa por aí). Capturado, o pequeno Damien passa por um longo período de testes realizados pelo geneticista David Manguy, que cria uma forma de reverter o processo de mutação e transformar o freak em uma criança normal. O leitor pode até se questionar por que Manguy não conseguiu o mesmo resultado com outras criaturas, mas imagino que a pouca idade de Damien seja a resposta. Não é o bastante e nem a mais interessante resposta, mas é uma explicação lógica, convenhamos. Anos se passam e então estamos em 1994. Damien é um jovem quase normal, atormentado por terríveis pesadelos e sofrendo de dores no estômago. O processo que o transformou de monstro em humano teve efeito curto. Ele agora está em processo de mutação ou, sob o olhar genético, o corpo dele está se curando da doença que é ser humano.

A carga crítica que o texto de Louapre possui é enorme e traz um bom paralelo com o filme Freaks (1932), de Tod Browning. A trama é sustentada pelos questionamentos filosóficos de Damien em seu cruel processo de transformação em monstro (ou retorno ao que ele era). O leitor acompanha a mudança a cada novo tumor no corpo do personagem — numa sequência muitíssimo bem modulada pela arte de Vince Locke — e sofre bastante com ele. As explosões de humor, a violência e o desequilíbrio do jovem são plenamente justificáveis dentro dessa perspetiva. Ele se via como humano, mas era um monstro. Robert Louis Stevenson provavelmente gostaria bastante dessa interpretação para sua famosa história.

Vince Locke desenha e arte-finaliza a trama com traços que nos lembram algo sujo, podre. Traços soltos, muitas vezes inacabados, desenhos sombreados ou preenchidos com rabiscos, deformidades diversas — inclusive os humanos são representados de maneira doentia — também marcam a arte desta minissérie. As cores difusas e escurecidas de Chris Chuckry completam o quadro, acrescentando melancolia e aumentado ainda mais a sensação de doença e podridão do enredo.

American Freak é um conto para poucos. A história é densa e muito interessante, tropeçando nas explicações científicas ou ligação com o original mas mantendo firme o enredo de seu contexto como spin-off. Para quem gosta do universo do Monstro do Pântano e gostaria de ver os Não-Homens em um outro contexto — mas tão bizarro quanto — esta é uma leitura mais que indicada.

American Freak: A Tale of the Un-Men (EUA, 1994)
Série limitada em 5 edições.
Editora:
Vertigo Comics
Roteiro: Dave Louapre (baseado nos personagens de Len Wein e Bernie Wrightson)
Arte: Vince Locke
Cores: Chris Chuckry
135 páginas

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