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Crítica | American Gods – 3X02: Serious Moonlight

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, a crítica dos episódios anteriores.

É natural que Charles H. Eglee, o terceiro showrunner de American Gods, queira impor sua visão sobre o material criado por Neil Gaiman, mas tendo usado o episódio de início de temporada para situar o espectador e fazer as mudanças que tinha que fazer, era de se esperar que ele engrenasse de verdade na narrativa, aproveitando ao oportunidade justamente para tornar sua a temporada. No entanto, Serious Moonlight não só é um episódio picotado demais, como ele não tem função muito maior do que nos apresentar a Lakeside, aparentemente o antro de adoração a Odin.

Tudo bem que as empanadas da cidadezinha gelada parecem mesmo deliciosos como dizem, mas o passeio de Mike por ali revela uma espécie de paraíso na Terra tão artificial que é assustadoramente bizarro, tornando a cena inicial onde vemos a resolução do impasse da arma na nuca do protagonista parecer o menor dos problemas. Sem aquecimento, sem casaco e sem saber muito bem o que ele tem que fazer ali, Mike é recebido muito bem por todos ali, menos por Marguerite Olsen (Lela Loren). Mas é aquele “muito bem” estranho, inquieto, claramente indicando que há algo muito errado por ali, algo que, lógico, tem conexão direta com o extermínio dos nativos americanos por imigrantes nórdicos que vemos no preâmbulo no território do Wisconsin, em 1690. É um momento poderoso que retorna a série à sua crítica sobre a gênese violenta e genocida dos EUA e aos comentários sobre o racismo, algo que é ecoado pelo retorno de Mike à cidade, depois de uma noite em Chicago, quando ele se torna o principal – o único, na verdade – suspeito pelo desaparecimento de Alison (Andi Hubick).

O problema, porém, é que o roteiro de Moises Verneau atira para todos os lados e, pior, assenta Mike em Lakeside por literalmente algumas horas somente para fazê-lo sair de lá para ir ao velório de Zorya Vechernyaya (Cloris Leachman) a convite de Zorya Polunochnaya (Erika Kaar). Gravitando ao redor desse evento, vemos Salim novamente com o Sr. Ibis (o que torna a ausência de Mr. Nancy muito gritante, diria), Odin com Tyr, o Deus da Guerra (Denis O’Hare), agora um dentista sádico e, depois, Mike novamente encarando Czernobog, Odin fazendo as pazes com Cznernobog, Mike no telhado com Zorya Polunochnaya e depois no beco com a sugar baby de Odin. Em outras palavras, é muita coisa acontecendo em sucessão que retira a construção de Lakeside do foco e transforma o episódio quase que em uma colcha de retalhos de tudo aquilo que precisamos lembrar sobre a série, a mesma função de A Winter’s Tale.

A melhor solução teria sido focar em Lakeside por todo o episódio e deixar o velório Zorya Vechernyaya para um segundo momento de maneira que ambos os momentos ganhassem desenvolvimento a contento, sem que a montagem impusesse pulos a cada dois ou três minutos em uma interminável sucessão de assuntos sendo derramados pelo roteiro inchado de Verneau que a direção de Julian Holmes não consegue manter coesos. A sensação é de que praticamente nada aconteceu, a não ser que consideremos o retorno do búfalo, desta vez para um jovem Shadow Moon e o encontro dele, no presente, com uma entidade apavonada, por assim dizer, seja equivalente a desenvolvimento, o que muito claramente não é.

Vejam Alison por exemplo. A menina apareceu ao final do episódio anterior e por alguns segundos flertando com Shadow e vendendo um casaco para ele. Se a intenção era que nos importássemos com seu desaparecimento para além do fato em si – afinal, o sumiço repentino de uma jovem é sempre assustador – então Serious Moonlight falhou miseravelmente. Mesmo o fato em si, usado aqui para tentar salientar o racismo inerente em uma cidade de descendentes de escandinavos olhando feio para Shadow, é jogado de qualquer jeito, sem maior cerimônia ou urgência, logo sendo “esquecido” em razão do assunto mais urgente que é o aquecimento do apartamento do protagonista.

A Winter’s Tale foi um ótimo começo para a 3ª temporada da série e eu realmente esperava que pelo menos a mesma qualidade estivesse presente em Serious Moonlight. Infelizmente, porém, apesar dos costumeiros ótimos efeitos especiais, do retorno do preâmbulo histórico e da repetição da cena de sexo de Bilquis (mas sem nem um átimo de efetividade), o que Eglee nos entregou foi um capítulo que, na melhor das hipóteses, anda de lado no que se refere aos Antigos Deuses e esquece completamente os Novos Deuses.

American Gods – 3X02: Serious Moonlight (EUA, 17 de janeiro de 2021)
Showrunner: Charles H. Eglee
Direção: Julian Holmes
Roteiro: Moises Verneau
Elenco: Ricky Whittle, Ian McShane, Emily Browning, Yetide Badaki, Bruce Langley, Omid Abtahi, Ashley Reyes,  Dominique Jackson, Eric Johnson, Julia Sweeney, Lela Loren, Peter Stormare, Andi Hubick, Cloris Leachman, Erika Kaar, Denis O’Hare
Duração: 52 min.

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