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Crítica | American Gods – 3X06: Conscience of the King

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, a crítica dos episódios anteriores.

Conscience of the King é um daqueles episódios que talvez tivesse mais força lá pelo começo da série, enquanto ela ainda mostrava vigor e um caminho certeiro em direção à tão propalada guerra. Afinal, ele reúne boas qualidades narrativas, especialmente a história do trágico casamento de Odin com Deméter que sem dúvida teriam ajudado a dar ainda mais contexto para o Pai de Todos. No entanto, aqui na 3ª temporada, o capítulo é apenas mais outro que, mesmo sendo bom por seus próprio méritos, não acrescenta lá muita coisa ao que já sabíamos no que toca a história macro, pouco fazendo-a caminhar para a frente.

Se em Sister Rising o Garoto Técnico conseguiu, talvez pela primeira vez em toda a série, ter uma participação interessante, com uma “história de origem” críptica que parece indicar que ele um dia foi humano, aqui ele retorna à sua boa e velha presença cansativa e pouco inspirada que frustra demais especialmente depois de receber uma introdução dessas no episódio anterior. E o pior é que sua participação vem casada com outro personagem que, se um dia chegou a ser minimamente intrigante, agora simplesmente parece um artifício bobalhão que Charles H. Eglee encontrou para chamar a atenção do espectador. Falo de Mr. World que mais uma vez, inexplicavelmente, muda sua aparência, desta vez assumindo a forma de Danny Trejo, ator sempre divertido de se ver, mas que, aqui, parece extremamente deslocado, talvez por não haver contexto razoável para esses truques baratos. E, com isso, os Novos Deuses continuam sendo muito mal aproveitados, quase que completamente perdidos.

Pelo menos a história do romance de Odin, com direito à flashback para depois do fim da Revolução Americana, com ele e Tyr mais novos, em dupla, refestelando-se com os espólios de guerra, que ganha evolução no asilo onde Deméter se encontra e até mesmo um teatro de sombras, é interessante constantemente, seja pelas atuações de Ian McShane e Blythe Danner, seja pela forma como percebemos o amor dos dois até os dias de hoje que encontra uma barreira intransponível na personalidade destrutiva de Ofnir, seja pelo desfecho anticlimático com Deméter “indo embora”, o que parece ser o equivalente ao suicídio para os deuses. Romântico, trágico e onírico ao mesmo tempo, mesmo que, como disse no parágrafo introdutório, completamente deslocado na série como um todo, com o agravante de fazer com que o investimento de tempo nessa relação desde o início da temporada parecer narrativamente inútil, pelo menos até prova em contrário.

Falando em inútil, o que posso dizer de Shadow Moon em Lakeside? Talvez que o ator esteja em ótima forma física e que, de quebra, sabe gingar direitinho enquanto pinta paredes, pois, em termos de história não há muito o que falar. Sim, Sam Blackcrow (Devery Jacobs) retorna à série depois de sua ponta minúscula lá atrás em Muninn e a personagem é importante no livro de Neil Gaiman, mas novamente sua presença é rápida, tão rápida que não há tempo de o espectador sequer lembrar direito quem ela é ou aclimatar-se à jovem, o que acaba esvaziando todo o elaborado encontro deles. Além disso, não há muito mais o que falar a não ser o lembrete de que a menina desaparecida continua desaparecida, da indicação de que Derek tem um segredo que provavelmente faz conexão com o sumiço e, claro, que Marguerite e Shadow sentem-se atraídos.

Chega até a ser curioso como Laura, que vinha literal e metaforicamente sendo uma morta-viva na temporada, de certa forma inverta o papel com Shadow momentaneamente. Em Sister Rising, sua participação só teve como vantagem não ser mais enrolação pura, mas, aqui, mesmo que ela não tenha mudado da água para o vinho, sua presença consegue ser menos inútil que a de seu ex-marido. Era óbvio que Shadow não iria entregar seu pai assim tão fácil, mas é importante que Laura saiba desse parentesco, assim como sua interação com Shadow e, depois, com ele e Marguerite, tenha funcionado bem para causar aquele momento embaraçoso. Da mesma maneira, a ampliação de sua conexão com Salim é bem-vinda, pois reúne os dois personagens que podem ser facilmente categorizados como os mais externos ao coração da série em uma dupla disfuncional, mas crescentemente simpática.

No entanto, mesmo os aspectos positivos de Conscience of the King combinados com os de Sister Rising não são ainda suficientes para tirar a temporada do torpor em que ela se encontra. Sem dúvida que, no cômputo geral, o episódio é outro passo na direção certa, mas é um passo tímido e desajeitado, sem nenhum sinal de confiança no material que carrega nos ombros e, pior, sem mostrar uma direção certeira, um norte que o espectador possa vislumbrar para além do já cansado “a guerra está chegando”.

American Gods – 3X06: Conscience of the King (EUA, 21 de fevereiro de 2021)
Showrunner: Charles H. Eglee
Direção: Mark Tinker
Roteiro: Aric Avelino
Elenco: Ricky Whittle, Ian McShane, Emily Browning, Yetide Badaki, Bruce Langley, Omid Abtahi, Ashley Reyes, Eric Johnson, Julia Sweeney, Lela Loren, Andi Hubick, Cloris Leachman, Erika Kaar, Denis O’Hare, Blythe Danner, Herizen F. Guardiola, Danny Trejo, Devery Jacobs
Duração: 51 min.

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