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Crítica | American Horror Stories – 1X01 e 02: Rubber (Wo)man

por Kevin Rick
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Eu fiquei intrigado quando soube do lançamento de um spin-off de American Horror Story, afinal, a série original tem o formato antológico por temporada, em que vemos uma história de horror anual ambientada em diferentes subgêneros e locais habituais do terror, como slasher, bruxas e asilos, logo, não fazia muito sentido termos um derivado. Foi apenas com a aproximação do lançamento de American Horror Stories que descobri se tratar de uma antologia episódica, no qual iremos acompanhar espécies de “contos” de terror ao longo do ano, novamente produzida pelo incansável Ryan Murphy. E eu gosto da proposta. Traz a abordagem do show para algo ainda mais restrito, anula muitos problemas de ritmo que acompanham a série original, além de trazer um charme de inovação semanalmente com a contínua apresentação de diferentes histórias. Infelizmente, o show não teve um bom início.

Englobando dois episódios, a primeira história da série acompanha o casal Michael (Matt Bomer) e Troy (Gavin Creel), que, juntos de sua filha Scarlett (Sierra McCormick), se mudaram para uma casa mal assombrada. Intitulado Rubber (Wo)man, o episódio duplo é uma espécie de homenagem/nostalgia à Murder House, a primeira temporada de AHS, não só na ambientação da mansão cheia de fantasmas, como também na narrativa do assassino que usa a sadística roupa de látex.

O roteiro de Brad Falchuck e Ryan Murphy preza pelo previsível e o rotineiro na construção narrativa. Vemos esses personagens chegarem na casa, há descrença e risos da existência do sobrenatural, alguns jump scares com trivialidades do gênero como a trilha sonora de cordas “arranhadas” e um assobio que segue o fantasmagórico, e então a matança se desenrola. Chega a ser risível a calculada direção de Loni Peristere com planos estáticos evidenciando a violência vazia sem produzir efeitos de suspense ou impacto, além de não desenvolver qualquer tipo de terror com seu maior artifício: a casa mal assombrada.

Agora, tematicamente falando, esta história é estranha. Seguindo o molde da série original, Rubber (Wo)man utiliza a estética para abordar conceitos sociais e medos específicos das suas Eras retratadas. Aqui, para mim, o discurso temático busca trazer à tona a libertação sexual feminina. Coloca em enfoque a repressão dos desejos sexuais da Scarlett nas punições parentais, as sessões de terapia e a humilhação alheia escolar, e traz o horror (a roupa de látex, a morte dos opressores, a história de amor sobrenatural) como meio de liberar a protagonista para seu destino de femme fatale. Eu entendo a proposta de libertação de gênero e sexualidade, algo habitual nas obras de Murphy, mas por se tratar de sadismo e violência corporal, passa uma bizarra mensagem de defesa da brutalidade causada pela personagem. Tenta embelezar o “amor” hostil como escolha.

Assim, a forma é genérica, e o conteúdo é estranho, restando apenas um ponto positivo: o humor. Apesar de raro e pontual, Rubber (Wo)man tem umas injeções de horror cômico que surpreendem e até fazem rir, guardadas as devidas proporções. A maneira como os personagens reagem às suas mortes, como tratam do fato de serem fantasmas e a terapia dos mortos são alguns momentos de humor que trazem um diferencial de abordagem. Infelizmente, essa veia de horror cômico é pouco espalhada na narrativa que procura esticar a chatíssima dramatização juvenil reprimida sexualmente.

Não começamos bem. Considerando que séries de antologia episódica normalmente deixam suas melhores histórias para o início e o desfecho, se torna preocupante a expectativa dos próximos episódios. Pelo menos o formato abre espaço para a curiosidade semanal com a nova história de horror, e nos deixa menos preocupados com a qualidade contínua da narrativa geral, mas Rubber (Wo)man estabelece um péssimo tom inicial. De atuações robóticas a direção genérica, discurso temático desagradável ao drama superficial, American Horror Stories não inicia uma caminhada promissora.

American Horror Stories – 1X01 e 02: Rubber (Wo)man (EUA, 15 de julho de 2021)
Direção: Loni Peristere
Roteiro: Ryan Murphy, Brad Falchuk
Elenco: Matt Bomer, Gavin Creel, Sierra McCormick, Paris Jackson, Belissa Escobedo, Aaron Tveit, Merrin Dungey, Selena Sloan, Ashley Martin Carter, Celia Finkelstein, Valerie Loo
Duração: 92 min.

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