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Crítica | American Horror Stories – 2X04: Milkmaids

Nojeiras e mais nojeiras.

por Kevin Rick
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  • Há SPOILERS. Leia aqui as críticas dos outros episódios.

A história dessa semana em American Horror Stories nos leva para a Nova Inglaterra de 1750, durante o auge do surto de varíola. Acompanhamos um pequeno vilarejo ser tomado pela doença, com foco na perspectiva de um marido que perdeu a esposa, um pastor e duas leiteiras. Conceitualmente, Milkmaids é um dos episódios mais interessantes da antologia, tocando em temas como religião X ciência, relações lésbicas e luto, assim como traz uma narrativa com muitos territórios comuns do terror, como epidemias, canibalismo e o horror realista das sociedades preconceituosas do século 18.

Como sempre, porém, a qualidade de American Horror Stories tem parada no conceito. Um dos principais problemas é justamente a variedade de tópicos e linhas narrativas que o roteiro propõe, deixando de dar destaque para qualquer um deles. Temos até momentos sugestivos que a história se encaminha para bruxaria, mas nunca vemos nada desenvolvido por esse lado também, demonstrando a falta de direcionamento do texto de Our Lady J, uma mulher com estranho nome artístico, mas com uma interessante carreira como pianista. Infelizmente, pelo menos pelo que vejo aqui, a artista não leva muito jeito como contadora de histórias.

O episódio nunca se aceita como algo, tentando fazer de tudo um pouco. A narrativa acaba virando esse grande mosaico de momentos, com um pastor caricato e exagerado para as críticas religiosas do período; um marido de luto que parece mudar a todo momento seus ideais (ora bonzinho, ora maléfico); e também uma das piores representações femininas e de identidade de gênero que vi numa obra desse tipo. O relacionamento das leiteiras é inorgânico, estranhamente sem química e até nojento considerando o foco que a obra dá para as feridas de uma delas – temos até uma cena em que seus “buracos” estão sendo acariciados ? .

Isso afeta diretamente a direção de Alonso Alvarez. É bastante perceptivo como o cineasta está perdido em suas encenações e na atmosfera geral da história. Temos alguns shots até interessantes, como a cena inicial da mulher na cama e depois o recolhimento de corpos. Há uma proposta visual sobre o terror do surto de doenças aqui (histórias desse tipo sempre me aterrorizam e me deixam pessimista, principalmente no contexto pandêmico que vivemos hoje), mas nada disso é carregado para o restante do episódio.

Também temos diversas cenas simplesmente grotescas, com a que citei das feridas, e também pessoas comendo pus e devorando corações. Tanto o roteiro quanto a direção não têm qualquer tato para transformar essas nojeiras em algo remotamente macabro. É nojento por ser nojento, sem qualquer tipo de substância narrativa que não seja fazer querer que o espectador vomite – é bem diferente, por exemplo, do ar mórbido, sinistro e desconcertante que Cronenberg traz em muitas das cenas grotescas de seus longas.

Outro problema crucial é a péssima representação da época. O design de produção é até razoável, mas há uma dificuldade imensa do roteiro em se distanciar do nosso período. Os diálogos são terríveis, com mulheres falando e se comportando como se estivessem em 2022, e os diversos comentários sociais sobre patriarcado, preconceito e fanatismo acabando nas caricaturas bobas, como o pastor maldoso ou o vilarejo intolerante. Há diversos momentos que são simplesmente burros, como uma leiteira tendo conhecimentos científicos complexos à época ou então aquela reviravolta sem graça e sem impacto com o garotinho assassino. A narrativa também acaba sendo tediosa, com pouca qualidade em nos fazer sentir empatia pelos personagens, suas dores e paixões. Enfim, outra aberração dessa série.

American Horror Stories – 2X04: Milkmaids | EUA, 11 de agosto de 2022
Criação: 
Ryan Murphy, Brad Falchuk
Direção: Alonso Alvarez
Roteiro: Our Lady J
Elenco: Cody Fern, Julia Schlaepfer, Seth Gabel, Ian Sharkey
Duração: 39 min.

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