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Crítica | American Horror Story – 10X04: Blood Buffet

por Iann Jeliel
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Blood Buffet

  • Contém SPOILERS! Acompanhe aqui, as críticas dos demais episódios de Double Feature, e aqui, todo nosso material sobre American Horror Story.

Desde que comecei American Horror Story poucas semanas antes de começar a cobrir esta nova temporada, percebo o quanto é uma série que preza mais pelo enredo do que pela forma de contagem em si da história, sendo esta muito entrelaçada a um tipo de conteúdo que a dupla criadora Ryan Murphy e Brad Falchuk gostam de trabalhar para dialogar com um certo público de massas de “minorias”. Por isso, todas as temporadas, ainda que sejam em ambientações totalmente distintas, geralmente, embarcam na mesma vibe. Cheia de personagens extravagantes sexualmente, com trajetórias detalhadas em contextos, sobre como adentraram na ambientação explorada da temporada, por mais secundários que sejam, pois é preciso dar destaque a toda uma gama de representatividade.

Em contrassenso a positividade da intenção, o contar dessas tramas, para a narrativa principal, parece onisciente dentro da proposta enquanto antologia, transformando-a em episódica dentro de um espectro que por natureza já está dividido. Em outras temporadas isso cansava, desviava o foco e fazia a história, o mais importante, se perder em uma sucessão de fillers internos. Com a nova divisão de Double Feature, em que temos duas histórias distintas – até onde se sabe – numa mesma temporada, o tempo se torna mais fácil de ser distribuído em relevância sobre os episódios, que precisam consolidar seu teor secundário de maneira mais objetiva. Sendo assim, Blood Buffet é basicamente um episódio sacrificado para oferecer origens que honestamente são irrelevantes para o que realmente estávamos acompanhando, no caso, a jornada de Harry (Finn Wittrock) e sua obsessão particular afetando a familia.

Precisava contar a obsessão particular de Belle Noir (Frances Conroy) em querer não ser somente uma E. L. James da vida? Não. Precisava contar sobre a noite aleatória que Austin (Evan Peters) aceitou tomar a pílula do vampirismo pela primeira vez, porque o diretor de sua peça “acidentalmente” foi mastigado e ele não pode apresentar? Não. Precisava contar como Mickey (Macaulay Culkin) virou o porta-voz apresentador das pílulas aos artistas da cidade, ou como e porque “A Química” (Angelica Ross) foi para Provincetown? Não. Precisava explicar de novo as consequências de a pílula serem diferentes aos talentosos ou não? Não. Precisava contar como a dentista dos vampiros passou a exercer essa função? Não. Quase nada do que é apresentado em Blood Buffet era “necessário” de se mostrar, até porque os primeiros capítulos estabeleceram bem atmosfericamente, toda a mitologia circundando a cidade.

O que temos aqui é basicamente um complemento para preencher um vazio de perguntas que a própria série incentiva a questionar no mau sentido, dando tudo mastigadinho. Fora que é uma ponte para oferecer gratuitamente com maior ênfase as características sempre presentes mencionadas: o destaque para personagem negra, a motivação de Noir ter fundo de sexualidade, a origem de Austin ter relação com drag queens. No entanto, o limiar desses pontos serem negativos, principalmente considerando a força de importância da história – que pode, obviamente, ser levado para o lado positivo por estar simplesmente contando mais da história –, não é cruzado pela execução criativa ainda muito segura do time de responsáveis. Aí entra o prezar da forma também e não só a história em si, algo que vem fazendo diferença para esta temporada e novamente faz bem ao episódio.

Uma direção habilidosa de Axelle Carolyn, capaz de conceber efeito dramático – acho bem comovente todo drama de Belle com o marido (Jim Ortlieb) antes de tomar a pílula – e verossimilhança através da imagem, escolha de planos e montagem bastante organizadas na cronologia dos eventos, a quase tudo contado, por mais chato que podia ser ter de acompanhar isso ao invés da progressão do excelente gancho do último episódio. E sem precisar de uma estilização exuberante, de forma prática, a demonstrar por exemplo, o paradigma do sequelas da pílula não ser o mesmo para cada um que a toma, com um simples truque de montagem. Se com o Harry não foi tão imediato, mas mais agressivo em estopim, com Belle foi em escalada, demonstrada pelo salto das páginas sendo feitas em close no computador, pouco a pouco, maiores.

Isso, como outras pequenas coisas bem-feitas vão compensando a experiência, envolvendo o filler a um nível de relevância maior do que ele teoricamente representa como “perda de tempo”. Ainda sinto falta da atmosfera mais realmente instigante ao desconhecido da mitologia dos primeiros episódios, além de dentro da cartilha seguida pela série em importância a atenção a todos, ter de cobrar por algum papel maior de Karen (Sarah Paulson), que de novo, aqui só aparece dando uma ponta. De todo modo, a décima temporada de American Horror Story segue surpreendendo e Blood Buffet é outro belo episódio, que tinha tudo para não ser nem bom.

American Horror Story (Double Feature) – 10X04: Blood Buffet | EUA, 8 de Setembro de 2021
Criação: Ryan Murphy, Brad Falchuk
Direção: Axelle Carolyn
Roteiro: Brad Falchuk
Elenco: Sarah Paulson, Evan Peters, Frances Conroy, Billie Lourd, Angelica Ross, Macaulay Culkin, Jim Ortlieb, Spencer Novich, David Huggard, Denis O’Hare, Deborah Geffner, Michael Andrew Barker, Devon Coull, Gabriel Bellotti, Nat Anglin, Mateo Mpinduzi-Mott, Jason Medwin, Blanca Araceli, Christine Lin
Duração: 50 minutos

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