Home TVEpisódio Crítica | American Horror Story: NYC – 11X03 e 4: Smoke Signals e Blackout

Crítica | American Horror Story: NYC – 11X03 e 4: Smoke Signals e Blackout

Está ficando mais escuro… e isso não é bom.

por Felipe Oliveira
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Se afastando das claras referências a Cruising, AHS: NYC parece que começou a trilhar um caminho próprio nesta segunda semana, diria. Nesse sentido, a temporada ambientada em Nova York demonstra um tom de urgência para usar os elementos introduzidos e avançar com os arcos, o que pode ser beneficiado com a exibição de dois episódios. Contudo, ainda que o tema esteja sendo abordado por um panorama diferente do usual, falta aqui uma execução que vá além da artificialidade.

Vejamos que, em meio as familiaridades com o filme de William Friedkin, Ryan Murphy inseriu uma gama de pistas faltas e subplots para incrementar um suposto suspense ao mistério principal: Leather Daddy, o assassino trajado com roupas BDSM. E enquanto a temporada joga a passos lentos e anticlímax com a aparição do mascarado, há um acerto em trazer o chamado Mai Tai Killer como uma pequena distração em paralelo ao fraco arco dramático da dupla de protagonistas: o detetive Patrick (Russell Tovey) e seu parceiro Gino (Joe Mantello). Apesar da obviedade, esse acerto vem graças a performance de Jeff Hiller na pele do excêntrico Mr. Whitley.

O ponto em comum entre os episódios é que focaram em dar ênfase aos dois vilões, o que envolve os elementos de terror, enquanto buscava balancear a dramatização. O roteiro de Smoke Signals escrito por Brad Falchuk e Manny Coto movimenta a trama a partir da inconformação de Gino e Adam (Charlie Carver) pela ineficiência da polícia em solucionar a onda de homicídios que acomete os gays de Nova York, o que termina os atraindo para armadilhas. Ao tempo que o Mai Tai soa como um serial killer iniciante, o Leather Daddy lembra uma figura inspirada no subgênero slasher.

O que tira a graça desses personagens, que representam a violência da homofobia expressada em crimes hediondos, está na típica fórmula de AHS em trabalhar com a linguagem do terror. Além da referencialidade de elenco, há uma linha supérflua que Murphy sempre empregou no universo da série ao emular outros estilos em suas abordagens. Então, à medida que as sequências previsíveis do Mai Tai Killer conseguem esboçar uma mera tensão na caça de gato e rato de Gino, não há a mesma eficiência quando apela para o slasher. Essa discrepância pode ser notada na cena do hospital, que caminha para um encerramento claustrofóbico para a cena que Patrick cai numa vergonhosa emboscada do Leather Daddy: uma, tece um exemplo melodramático de tensão e perigo; e a outra, um dispensável recurso de slasher e  BDSM.

Olhando por essa lógica, a temporada está apresentando boas doses de aflição, contudo, entre o desenvolvimento da caçada de Gino, o texto tenta reunir elementos de um suspense investigativo para propor uma dinâmica e cozinhar um pouco a trama, e nisso, no que abarca a abordagem central, AHS: NYC não consegue convencer. Os diálogos expositivos e gratuitos das brigas de Patrick e Gino em paralelo à luta por uma movimentação das autoridades contra a violenta homofobia termina deixando o arco maçante e repetitivo, o que piora com a ideia de ter os episódios em sequência, sem falar que já tivemos isso demais na estreia da temporada.

Mesmo que Smoke Signals tenha se concentrado em explorar as ameaças que tem aterrorizado New York City, a direção de Jennifer Lynch se mostrou mais eficiente ao executar a síntese de Blackout, o quarto episódio. O óbvio exercício de utilizar os apagões repentinos que acomete a cidade em momentos dramáticos e de terror funcionam como uma distração a mesmice das cenas, porém, o maior acerto está na alusão ao tom cada vez mais obscuro que os crimes estão ganhando e arrastando os personagens, ainda que sirva também para os plots dramáticos estão se afunilando, seja nas brigas entre Patrick e Gino, ou no triângulo amoroso conturbado de Adam, Theo (Isaac Powell) e Sam (Zachary Quinto).

Nesse excesso de subtramas, resta ainda a alegoria ao surgimento da AIDS, um dos arcos mais desperdiçados e deslocados. Claro que a participação da Dra. Hannah Wells (Billie Lourd) será maior nos próximos episódios, mas até então, temos aqui uma figura caricata de uma médica fazendo uma grande descoberta sobre a origem de uma doença que está silenciosamente se espalhando. Numa apressada e expositiva abertura, entendemos que isso é consequência de uma iminente guerra genética, iniciada pelo Projeto Paperclip; a dúvida é de como os arcos dos assassinatos e crescente doença irão se convergir sem parecer uma ambulante premissa artificial.

American Horror Story: NYC – 11×03 e 04: Smoke Signals e Blackout (EUA – 2022)
Direção: John J. Gray (Smoke Signals) e Jennifer Lynch (Blackout)
Roteiro: Brad Falchuk, Manny Coto (Smoke Signals) e Manny Coto, Charlie Carver (Blackout)
Elenco: Russell Tovey, Joe Mantello, Billie Lourd, Denis O’Hare, Charlie Cover, Sandra Bernhard, Isaac Powell, Zachary Quinto, Patti LuPone, Jared Reinfeldt, Kyle Beltran, Clara McGregor, Hale Appleman, Leslie Grossman, Gideon Glick
Duração: 38 a 45 min (cada episódio)

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