Home TVEpisódio Crítica | American Horror Story: NYC – 11X07 e 8: The Sentinel e Fire Island

Crítica | American Horror Story: NYC – 11X07 e 8: The Sentinel e Fire Island

Antes ou depois da tempestade?

por Felipe Oliveira
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É mais que evidente que NYC está entregando uma das temporadas mais distintas de AHS, convenhamos. Da abordagem criminal investigativa com traços do slasher, finalmente pode-se dizer que a trama deixou de lado o excesso de recursos narrativos para atender melhor seu escopo. A decisão mais assertiva de The Sentinel foi manter claras as curiosas informações do episódio anterior e usar como motor num capítulo rápido, mas suficiente para superar a média catastrófica semanal.

Parecia muito óbvio quando a temporada deu início fazendo alegorias a comunidade gay na década de 80 e trazendo a violência da homofobia através de dois algozes implacáveis, porém, o subtema trabalhado em NYC é sobre culpa, arrependimento, medo, raiva e como isso vai assumindo várias formas e consumindo os personagens. No caso do Mai Tai Killer, é uma representação física dessas emoções e que usa dos métodos mais contraditórios para expor seu descontentamento e atingir a bolha da hipocrisia em Nova York. A ideia mórbida de criar um Frankenstein com partes de corpos dos gays que assassinou, se mostra, ainda, doentia quando ele chama sua criação de “sentinela“, não pela função de vigiar e preservar um lugar, e sim, como um objeto que lembrará a cidade dos seus pecados ao ignorar os crimes cometidos contra homossexuais.

O tema em NYC assumiu tantas atribuições e referências ao longo dos episódios que em The Sentinel é clara a inspiração a Jogos Mortais, o que funciona por trabalhar com uma notória atmosfera que não foge de mesclar o estilo violento da franquia de filmes e sádica resoluções dos jogos e injetar isso ao universo da série. O resultado é imediato terror psicológico banhado a um leve gore. O que chama atenção não é por AHS se arriscar em fazer uma sequência convincente, e sim por tirar de cena um dos vilões apresentados. Certo de que não tinha nenhum quebra-cabeça complexo, uma caça de gato e rato por um serial killer com toques de suspense criminal e psicológico, mas o Sr. Whitely falava de executar um plano mórbido e isso foi convenientemente solucionado.

Se atentar para além das intenções, só sobra o que foi feito na superfície. Em tudo o que foi apresentado até aqui, não há indício de desenvolvimento dos personagens além da carga dramática muito específica. Patrick muito se fala do que a polícia de Nova York não fez para solucionar os crimes, por exemplo, mas narrativamente, isso não impactou, da mesma forma os dilemas que acompanham os personagens.

Com isso, sobra, então, o Leather Daddy, o assassino trajado de roupas BDSM, e nesse ponto é que NYC diz que daqui para frente só irá trabalhar com a representação simbólica do terror que assombra os personagens, isso através do killer. Em The Body, foi deixada a sugestão de que o Leather e o Mai Tai Killer poderiam estar operando juntos, mas com Whitely fora de cena, ficou mais de perceber como acontece as aparições do assassino de roupa de couro. Além da roupa que detém um viés fetichista, a figura do Leather Daddy persegue quase que onipresente os personagens em seus momentos de fragilidades, soando às vezes como um recurso sobrenatural na temporada. Essa simbologia pode ser observada na cena final, com Theo sendo a primeira vítima a morrer pela Aids. Antes da sequência assumir um tom fantasioso, concedendo uma perspectiva alegórica da sua morte, quem surge em cena é o Leather, como se estivesse ali para selar o desfecho do personagem.

Se a direção de Paris Barclay por pouco conseguiu trabalhar com uma atmosfera, muito pela composição do cenário e iluminação em The Sentinel, no enfadonho Fire Island, Jennifer Lynch, contudo, aproveita muito bem as peças psicológicas deixadas no capítulo anterior com ares de uma season finale precoce e apressada. É ótimo como suas escolhas conseguiram emular, ainda que nos limites anticlímax e estranho de AHS, um pouco da linguagem slasher sem parecer tão deslocada. Pela primeira vez o Leather Daddy protagoniza cenas que arranjam um timing na narrativa, o que pontua mais um acerto, mesmo que mínimo para o episódio.

A explicação mais lógica sobre o Leather Daddy é o que ele personifica sobre os personagens. Claro que não tem o mesmo apelo característico de outras figuras do slasher, mas na teoria, faz sentido na fórmula do subgênero, o que vale lembrar que durante o acidente entre o trisal em Fire Island, a vítima trajava itens do BDSM, o que expõe o porquê da vestimenta do Leather Daddy. Porém, tudo indica que AHS não fará de Fire Island a sua Crystal Lake, e fazendo do killer uma representação. O que frustra nesse caminho é o arco da iminente doença que até então não recebeu a devida atenção e tem sido empurrada a base de óbvias sugestões, será o pontapé para o encerramento da temporada que dedica uma passagem de tempo entre 1981 a 1987. O fim manterá um pouco do sentido obtido depois de oito episódios?

American Horror Story: NYC – 11×07 e 08: The Sentinel e Fire Island (EUA – 2022)
Direção: Paris Barclay (The Sentinel) e Jennifer Lynch (Fire Island)
Roteiro: Manny Coto, Our Lady J (The Sentinel) e Charlie Carver, Our Lady J, Ned Martel (Fire Island)
Elenco: Russell Tovey, Joe Mantello, Billie Lourd, Denis O’Hare, Charlie Cover, Sandra Bernhard, Isaac Powell, Zachary Quinto, Patti LuPone, Jared Reinfeldt, Kyle Beltran, Quei Tann, Clara McGregor, Hale Appleman, Bryan Ray Norris, Clara McGregor, Matthew William Bishop, Quei Tann
Duração: 35 min e 38 min (cada episódio)

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