Home TVEpisódio Crítica | American Horror Story: NYC – 11X09 e 10: Requiem 1981/1987 – Partes 1 e 2

Crítica | American Horror Story: NYC – 11X09 e 10: Requiem 1981/1987 – Partes 1 e 2

O Big Daddy é mortal.

por Felipe Oliveira
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O título que encabeça o desfecho duplo de AHS: NYC diz muito sobre o estilístico conceito que tenta levar a série por um caminho diferente: uma ode melancólica aos personagens, que sucumbiram pela Aids. Embora esse tenha sido um arco introduzido desde o início da temporada, foi perdendo o destaque visto o fraco desenvolvimento numa narrativa preocupada em criar dramatizações caricatas, mas que agora, busca ser memorável com um suposto fim comovente.

Em linhas resumidas, enquanto tínhamos o Mai Tai Killer representando o terror da violência ao corpo gay nos crescentes casos de homofobia e o desleixo das autoridades em oferecer proteção, em paralelo, o Leather Killer ou Big Daddy surgia em alegoria ao lento surgimento da Aids até se tornar um assombro desolador durante a década de 80 e 90… ao menos, foi até onde NYC quis trazer seu argumento. Deixando de lado a aura de sugestões e trama sobrenatural, o décimo primeiro ano de AHS busca imprimir o terror na sua forma mais realista e palpável, porém, será mesmo que, apesar do reconhecimento proposto pela temática, houve algum impacto que faça dessa temporada um exemplar diferencial?

Murphy quis trazer uma temporada que versa sobre a comunidade gay sendo assolada por uma doença mortal frente a um cenário de desinformação e preconceitos, contudo, o seu recorte não deixou de se limitar na falta de diversidade e também dimensionalidade dos personagens, ambientação e na construção do óbvio mistério com a qual a Aids era tratada pelo roteiro. Optando por não desenvolver uma temporada alegórica de terror psicológico sobre a chegada da Aids isso, sim, seria fora da curva para AHS: desenvolver é incrível como depois de onze anos, Murphy e Brennan carecem de entender o uso do terror como linguagem.

Seria bem mais simples conduzir a narrativa por uma linha de abordagem mais empolgante, porém, o que temos é uma soma de referências que levam NYC a um saldo irregular. Como ilustração, a temporada foi introduzida usando de evidentes acenos a Parceiros da Noite como imersão ao forro temático, porém, também foi notório que ao se afastar dessa inicial referência, a temporada foi cada vez mais se perdendo para manter uma identidade. A ideia foi de representar a alegoria por diferentes subgêneros do terror, enquanto, na mentalidade de Murphy, encaminha o argumento para um impacto muito maior; talvez pungente e até com maturidade diante de uma despedida que preza pelo assombro e comoção por uma doença cruel.

A forma com que NYC busca a comoção pode ser percebida desde os últimos minutos do episódio Fire Island, com o plano astral quase que fantasioso representando a despedida de Theo, mas, o que foi mostrado desse personagem para fisgar emoção? A sensação é de algo planejado pela metade, o que vale também para as demais figuras que sempre ficam à sombra de um desenvolvimento preguiçoso que forja na referencialidade do elenco a suposta personalidade que irão compor em cada temporada, quando não há nenhum esforço sequer. E dando continuidade ao emotivo desfecho, a primeira parte de Requiem 1981/1987 se divide entre dois personagens: Sam e Patrick.

Lembrando que ambos ao lado do Mai Tai Killer e Henry, desempenharam um papel de culpa em suas trajetórias no fatídico crime em Fire Island, e o episódio escrito e dirigido por Our Lady J, retoma isso ao guiar os personagens pelo terror de suas ações enquanto morriam lentamente pela Aids. Mas vamos pensar aqui em como seria se NYC decidisse mostrar o plano astral de despedida para cada personagem aguado que apresentou. O conceito de terror na série ficaria ainda mais confuso e decepcionante, certo? E nesse ponto fica claro a disparidade entre traçar uma alegoria com ares de slasher e depois trazer um plano astral para contrapor com outra perspectiva. O Big Daddy é anjo da morte ou ponte para remissão? Ou seria ele o lembrete da culpa enquanto as outras almas ceifadas, com coroas de cervos traziam remissão?

A segunda parte do episódio traz como destaque o que se teve de melhor nesta temporada: Charlie Carver e seu Adam. O que serviu como exemplo para a falta de foco das tramas em trabalhar apenas um conceito como alegoria. Seria muito interessante Carver ser um final boy em meio a uma Nova York com um assassino a solta, e que terminava encontrando apoio do jornalista Gino e seu marido Patrick para capturar o Bid Daddy, e como fundo, a lenta chegada da Aids, mas Murphy quis que NYC tivesse de tudo, menos sentido. E mesmo sendo interessante a montagem como um videoclipe experimental estendido de Gino sendo assombrado pela figura do Leather Killer, como um lembrete de sua luta contra Aids, não deixa de ser anticlímax toda essa organização.

Por fim, AHS: NYC encerra seu ciclo com um quase triplo ritual fúnebre transitando entre planos astrais. E para ser mais marcante e comovente que isso, só a fotografia causando vários incômodos visuais com o filtro que deixa a iluminação estourada era pra dar um tom celestial?

American Horror Story: NYC – 11×09 e 10: Requiem 1981/1987: Part 1 e Requiem 1981/1987: Part 2 (EUA – 2022)
Direção: Our Lady J (Requiem 1981/1987: Part 1) e Jennifer Lynch (Requiem 1981/1987: Part 2)
Roteiro: Our Lady J (Requiem 1981/1987: Part 1) e Charlie Carver, Ned Martel (Requiem 1981/1987: Part 2)
Elenco: Russell Tovey, Joe Mantello, Billie Lourd, Denis O’Hare, Charlie Cover, Sandra Bernhard, Isaac Powell, Zachary Quinto, Patti LuPone, Jared Reinfeldt, Kyle Beltran, Clara McGregor, Hale Appleman, Bryan Ray Norris, Matthew William Bishop, Denis O’Hare, Danny Kornfeld
Duração: 43 min e 38 min (cada episódio)

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