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Crítica | American Pie – A Primeira Vez é Inesquecível

Quanto mais Stifler, mais 'hétero top'.

por Felipe Oliveira
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A abordagem de histórias coming of age parece ter encontrado um novo lugar confortável para ser explorado. Não se tem muitos exemplos se desafiando a fazer um pouco além do manjado feijão com arroz de falar do dilema desesperador sobre viver o primeiro amor, outros com triângulo amoroso, romances com toques sobrenaturais. Da distopia a saúde mental, as nuances são várias que poderiam ser citadas como as mais comum que podemos observar no âmbito de amadurecimento, mas no fim da década dos anos 90, Hollywood dava o primeiro passo para o que seria um nicho de besteirol quase erótico com o filme escrito por Adam Herz: American Pie – A Primeira Vez é Inesquecível.

Se inspirando em títulos como Porky’s – A Casa do Amor e do Riso e A Última Festa de Solteiro, o filme chegava considerando a bagagem em que O Clube dos Cinco, As Patricinhas de Beverly Hills e Curtindo a Vida Adoidado se tornaram exemplares marcantes na cultura pop além de ter definido elementos que seriam características no produções teens, então, fazia sentido o texto de Herz ser uma comédia sobre sexo e que tratava as subtramas de “maneira certinha” com os estereótipos dos personagens principais, algo que a leitura atual viria como um enredo antenado, esperto e consciente em superar a linha de paradigmas, coisa que ficou bem no raso. No entanto, foi uma empreitada divertida, brega e descompromissada que não pretendia ser revolucionária, mas que deu a receita da torta de maçã perfeita para criar outros longas ilustres além da própria saga.

Envolto em um contexto com a popularização da Internet, American Pie trazia quatro protagonistas héteros brancos prestes a concluírem o ensino médio, mas frustrados por não terem perdido a virgindade. Por isso, fecham um pacto de fazerem sexo até a noite do baile de formatura. O grupo de amigos não representava a parcela de excluídos da escola, mas remetiam em seus papéis um estigma que rondava a perda de virgindade da juventude, e ainda, tinham a sombra do facilmente sucedido e pegador Stifler (Seann William Scott) como lembrete de que não tinham a mesma sorte em ser populares e na transa.

Em uma era que o consumo do pornô ganhava mais alternativas, além da possibilidade de sites de paqueras para quem buscava um relacionamento, a prestigiada comédia incrementava a difícil comunicação entre pais e filhos quando o assunto era sobre sexo, o que coube a ilustração constrangedora e cafona entre Eugeny Levy como o pai do protagonista Jim (Jason Biggs) ao tentar falar sobre suas experiências e dialogar sobre revistas playboy e masturbação. Se isso já era uma grande questão, imagina abordar sobre prevenção, o que envolveria mais de educação sexual, coisa que American Pie não estava preocupado em se aprofundar e sim, em trazer de maneira cômica e improvável os estigmas em torno do sexo.

Jim era o tremendo protagonista que não levava jeito para as coisas, mas vivia se metendo nas mais inusitadas e vergonhosas situações, tudo em prol da comédia e de consumar a sua primeira vez. Fase a qual o revenge porn estava longe de ser debatida como uma cultura criminosa e nociva diante do crescimento da web, foram em momentos como a sequência de transmissão via webcam que a produção dirigida por Paul Weitz mostrava que queria moderar seu enfoque, tendo em mente que o filme poderia ser um grande fracasso, a sacada foi tentar equilibrar na balança as ideias e não soar totalmente sexista com o resultado final.

Ao embarcar na onda dos amigos de deixar a webcam ligada quando a colega de classe Nadia (Shannon Elizabeth) estivesse trocando de roupa, Jim caiu na própria cilada ao exibir um stripteaser vergonhoso e inexperiência para todos que receberam o link de transmissão. Porém, esse e outros pequenos exemplos espalhados na trama, não diminuíram a ótica que o filme seguia de mulheres sendo objetificadas, o que era um retrato que ainda se via amenizado com outros personagens como Oz (Chris Klein), o típico padrão atleta da escola que não gostava do rótulo e para conseguir um par antes do baile, se une ao grupo de coral onde encontra Heather (Mena Suvari), garota pela qual se apaixona e ganha a chance de ter seu perfil de macho alfa “desconstruído”.

Weitz e nenhum outro envolvido em American Pie imaginava que o filme se tornaria tão popular a nível de aceitação do público, média com a crítica especializada e surpreendente bem nas bilheterias, o que possibilitou as próximas sequências e se tornar uma franquia. E foi sendo tosco e investindo em circunstâncias ridículas — o que inclui a cena com a torta de maçã que nomeou o filme —  com os personagens que sua identidade era plantada, dando o tom de tradição para situações absurdas com Stifler, entregando divertimento e popularidade para os besteiróis americanos e cultura pop, ainda que fosse tão raso quanto o prato que equilibrava a famosa torta de maçã.

American Pie – A Primeira Vez é Inesquecível (American Pie – EUA, 1998)
Direção: Paul Weitz
Roteiro: Adam Herz
Elenco: Jason Biggs, Chris Klein, Thomas Ian Nicholas, Eddie Kaye Thomas, Mena Suvari, Tara Reid, Natasha Lyonne, Alyson Hannigan, Shannon Elizabeth, Eugene Levy, Jennifer Coolidge, Seann William Scott
Duração: 95 minutos

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