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Crítica | Amigos, Amigos, Negócios à Parte

A despedida de Billy Wilder.

por Ritter Fan
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Billy Wilder teve uma carreira invejável em Hollywood, dirigindo grandes clássicos dos mais diversos gêneros, do noir policialesco Crepúsculo dos Deuses à comédia rasgada Quanto Mais Quente Melhor, só para citar dois de várias de suas inesquecíveis obras. Sua carreira de diretor acabou com Amigos, Amigos, Negócios à Parte, novamente uma reunião dele com I.A.L. Diamond no roteiro e trazendo a dupla Jack Lemmon e Walter Matthau de volta, já que ele se aposentou não muito tempo depois, mas falecendo somente mais de 20 anos depois, em 2002, já no alto de seus bem vividos 96 anos.

Sem dúvida que seu fim de carreira como o grande cineasta que foi poderia ter sido bem melhor, já que ele próprio desgostou bastante de seu longa e isso já na largada, por ser uma refilmagem da bem-sucedida comédia francesa Fuja Enquanto é Tempo, de 1973, baseada em peça de Francis Veber, que também escreveu o roteiro do longa dirigido por Édouard Molinaro. Wilder não gostava de refilmagens em regra (sábio homem!) e não via razão para refazer este longa específico, mas aceitou o trabalho em razão de natureza de arregaçar as mangas sempre que possível e, no final das contas, seu último filme não é tão ruim quanto ele deixa entrever nas entrevistas que levaram à sua biografia por Charlotte Chandler, além de ter sido um encerramento de carreira em tom de festa com três de seus grandes parceiros de vida profissional, inegavelmente um bônus.

O roteiro é quase uma cópia servil do longa original francês, com apenas uma alteração mais sensível ao final. De um lado, temos Walter Mathau como Trabucco, assassino contratado pela máfia que liquida duas testemunhas-chave em um julgamento e prepara-se para eliminar uma terceira e, de outro, há Jack Lemmon como Victor Clooney, homem largado por sua esposa que não vê mais razão para viver. Por uma coincidência do destino, os dois acabam no mesmo hotel em quartos contíguos, com Trabucco seguindo seu ritual de montar o rifle para assassinar sua vítima nos degraus do tribunal em frente e Victor falhando miseravelmente em sua tentativa de reconciliação com a esposa e também em seu suicídio e, no processo, atrapalhando Trabucco.

O que se segue daí é uma rasa e não muito engraçada sucessão de eventos que vai tornando a missão de Trabucco completamente impossível, em uma comédia que transita entre o humor fino e o pastelão completo. É, claro, sempre divertido ver a famosa interação entre Lemmon e Matthau, uma das grandes duplas cômicas do Cinema, assim como é inusitado ver Paula Prentiss (As Esposas de Stepford) como Celia, esposa de Victor e, mais ainda, ninguém menos do que Klaus Kinski (Nosferatu: O Vampiro da Noite) como o Dr. Hugo Zuckerbrot, do Instituto de Satisfação Sexual, onde Celia se encontra, mas o longa, em sua essência, não passa de uma sucessão de esquetes tematicamente semelhantes e que não carregam mensagem alguma que não seja as que estão bem em sua superfície e que, por isso, parecem se repetir em um loop eterno.

Mas, como sempre, Billy Wilder é Billy Wilder e seu trabalho de direção é sempre cuidadoso, especialmente quando ele trabalha espaços limitados como são os quartos separados apenas por uma porta dos dois protagonistas e que se transformam em apenas um ambiente com sua câmera esperta que transita facilmente entre eles, esbanjando naturalidade e uso de espaço cênico como só mesmo o cineasta sabe fazer. É até curioso ver como certas angulações dos móveis dos quartos são feitas de maneira a teatralmente permitir que Matthau e Lemmon circulem com facilidade, além de, claro, as câmeras poderem ao máximo capturar suas performances sem precisarem ser colocadas em espaços truncados. Há muita leveza no que Wilder sempre fez cenicamente e aqui não é diferente, mesmo que o roteiro não seja particularmente memorável ou mesmo engraçado.

Amigos, Amigos, Negócios à Parte é um final de carreira tecnicamente competente para um dos grandes nomes do Cinema mundial, ainda que longe – muito longe – dos filmes mais importantes de Billy Wilder. Mas o mestre, mesmo de má vontade já de início com a encomenda que lhe foi feita pelo estúdio e mesmo depois não tendo papas na língua para falar mal do filme posteriormente, simplesmente não consegue fazer nada verdadeiramente ruim. É mais forte que ele e, o resultado, é uma filmografia rara composta de quase três dezenas de filmes por ele dirigidos e nenhum que possa ser realmente chamado de vergonhoso.

Amigos, Amigos, Negócios à Parte (Buddy Buddy – EUA, 1981)
Direção: Billy Wilder
Roteiro: Billy Wilder, I.A.L. Diamond (baseado em peça de Francis Veber e no filme de Édouard Molinaro)
Elenco: Jack Lemmon, Walter Matthau, Paula Prentiss, Klaus Kinski, Dana Elcar, Miles Chapin, Michael Ensign, Joan Shawlee, Ben Lessy, Fil Formicola, C.J. Hunt, Bette Raya, Ronnie Sperling, Suzie Galler
Duração: 96 min.

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