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Crítica | Amor(es) Verdadeiro(s)

Despreocupado, fofinho e mal dirigido.

por Luiz Santiago
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Convenhamos que o diretor Andy Fickman não é conhecido por sua grande capacidade atrás das câmaras ou por filmes com resultados inteiramente positivos, mas a paciência tem limites. Seu romance Amor(es) Verdadeiro(s), de 2023, é uma adaptação do livro One True Loves (2016), da escritora Taylor Jenkins Reid (assinando o roteiro ao lado de Alex J. Reid), que se tornou “viralizada” a partir de 2017, por conta de seu romance Os Sete Maridos de Evelyn Hugo. No livro de 2016, ela nos conta a história de uma mulher inesperadamente forçada a escolher entre o marido que há muito pensava estar morto e o noivo que finalmente a trouxe de volta para a vida, um caminho de abordagem que o roteiro desse filme segue de perto, tentando lidar com algo que transita entre o dilema moral e a escolha do coração. 

Não é de hoje que romances açucarados com pitadas de melodrama ou insinuações trágicas chegam aos cinemas – especialmente vindos de Hollywood – e tentam conquistar o leitor pela mistura entre conflitos amorosos, fofura, suave linha cômica e falsa sugestão de “representação da vida”. O que Amor(es) Verdadeiro(s) cria, por exemplo, é um pequeno conto de fadas ancorado em uma grande escolha: Emma (Phillipa Soo, sempre bela e doce), tem que escolher entre Sam (Simu Liu, atuando no piloto automático), o noivo que sempre a amou e que foi seu melhor amigo nos tempos do colégio; e Jesse (Luke Bracey, em atuação convincente para esse papel) seu esposo supostamente falecido, que ela também conhece desde a adolescência. É um triângulo amoroso com contexto, olhando para a disputa de dois homens pela mesma mulher e abrindo as portas para que o “não escolhido” tenha a possibilidade de conquistar sua amada. 

A maneira convencional como o diretor estabelece os conflitos iniciais e tenta criar uma narrativa menos didática, fazendo flashbacks ineficientes, deixa claro que a elegância e a fluidez não serão os fortes do filme. E pensando que essa constatação nos chega aos 10 minutos de duração, não é difícil imaginar que a jornada adiante será complicada. Com a narrativa girando em torno das complexidades do amor e de como ele surpreende os indivíduos (a máxima “quem ama, deixa ir” aparece como linha crítica em dado ponto da narrativa), o enredo tem um pouco de força para convencer o público de que há sim um potencial nessa história. E por mais simples que isso pareça em termos dramáticos, temos que assumir que de fato há algo muito interessante que pode ser abordado. Isso se o diretor não escolher fazer uma coletânea de pequenos curtas em seu longa. Ou não escolher adicionar coisas que até podem ser a “grande sensação” no livro, mas que na adaptação, não fazem sentido algum, como a sequência incoerente, solta e mal dirigida de Sam desabafando com alunos e professores da escola onde dá aula.  

Do ponto de vista estético, temos a bênção de Greg Gardiner como diretor de fotografia, trazendo cenas de marcante beleza visual, talvez a única coisa do filme que não tenha problemas progressivos. Gosto muito das locações e da maneira eficiente, apesar de simples, como o fotógrafo ilumina os momentos com diferentes atmosferas dramáticas, não deixando o filme cair num mar monocromático a fim de ressaltar “muita tristeza e indecisão” num ponto… ou a chegada da “plena felicidade” em outro. A cabana no Maine e a livraria são os melhores espaços cênicos da obra, e os que melhor mostram o cuidado visual da cinematografia de Gardiner na película. Não vemos a mesma eficiência na trilha sonora de Nathan Wang, que varia entre a forçação de barra com temas tristes e descaradamente manipulativos de emoção e a mostra aleatória de uma canção à guisa de “narrar tematicamente o que está acontecendo naquele momento”, o que demonstra não só uma péssima escolha do compositor, como uma preguiça imensa do diretor em deixar que isso entre no corte final. Mesmo que não se compare ao pior setor técnico do filme (os figurinos), é um aspecto da obra que decepciona imensamente.

A narrativa de Amor(es) Verdadeiro(s) cai num mar de convenções e falha em desenvolver o trio protagonista — para ser sicero, a única personagem desenvolvida de forma parcialmente aceitável é Emma. Já em relação aos personagens masculinos, Jesse consegue um espaço interessante e se marca facilmente por conta do estilo expansivo do personagem. Sam, por ser introspectivo e inseguro, recebe o pior núcleo do filme, as piores linhas de diálogo e a conclusão mais fraca da obra.

O fracasso do longa em explorar completamente a carga emotiva que propõe, de encadear bem os diferentes núcleos narrativos (a montagem da obra é sem critério, e toda vez que precisa cortar para Sam ou para um flashback, o faz da maneira mais abrupta e sem sentido), bem como sua exploração superficial dos contextos que ligam os personagens — talvez com exceção ao fatídico acidente –, diminui seu impacto e fica aquém de oferecer uma experiência cinematográfica satisfatória que realmente envolva e ressoe com o público. Talvez quem tenha lido o livro consiga passar um pano aqui e ali para a falta de sentido na maneira como algumas escolhas impactaram o drama, mas é sempre necessário lembrar que as coisas que funcionam numa obra literária, não necessariamente irão ter o mesmo peso ou a necessidade de existir no formato audiovisual. Amor(es) Verdadeiro(s) é mais um dos milhares de exemplos que provam isso. O resto é clubismo.   

Amor(es) Verdadeiro(s) (One True Loves) — EUA, 2023
Direção: Andy Fickman
Roteiro: Taylor Jenkins Reid, Alex J. Reid
Elenco: Oceana Matsumoto, Phillipa Soo, Luke Bracey, Simu Liu, Michaela Conlin, Tom Everett Scott, Gary Hudson, Oona Yaffe, Beth Broderick, Lauren Tom, Cooper van Grootel, Phinehas Yoon, Michael O’Keefe, Sara Elizabeth Ezzell, Clayton Frank, Nicolette Huit, Dan Matteucci, Toby Tate, Shanasha Wilson, Trenice Atkinson, Christina Bach, Nyia Barrow, Victoria Blade, Jacinte Blankenship
Duração: 100 min.

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