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Crítica | “Frank” – Amy Winehouse

por Luiz Santiago
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estrelas 4,5

Artista genial, autodestrutiva e prolífica, Amy Winehouse (1983 – 2011) teve uma curta mas fulgurante carreira, iniciada com o álbum Frank e finalizada em com Back to Black. Em dezembro de 2011, quase cinco meses após a sua morte, foi lançado o primeiro álbum póstumo da artista, Lioness: Hidden Treasures, com canções ainda não lançadas e demos ou versões especiais de músicas dos álbuns anteriores.

Frank foi lançado em 20 de outubro de 2003. O álbum conta com 13 músicas e quase uma hora de duração, com faixas estendidas devido a composições paralelas ao final de algumas canções. A recepção do álbum por parte da crítica foi bastante calorosa, não faltando também comparações da debutante Amy Winehouse com outras cantoras como Nina Simone, Billie Holiday, Sarah Vaughan e Dinah Washington, isso só para citar algumas.

Frank é uma homenagem a Frank Sinatra, artista cujo espírito carrancudo, pode ser percebido como atmosfera central do disco.

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Em essência, a música que abre o disco, Stronger Than Me é uma das canções mais simples do disco, e um início honesto e escolhido corretamente. Essa canção dá o tom que permeia as composições que se seguem: os relacionamentos amorosos, a mulher de enorme força, mas que assume necessitar de carinho e cuidado; e, para finalizar, a  posição quase feminina dos homens frente a determinados assuntos em um namoro. Aqui, além desses elementos, temos a clara citação da passagem do tempo na vida dos dois amantes, e a frase taxativa da mulher: “You should be stronger than me”. O clipe musical, gravado no afã do sucesso, quando Stronger Than Me se tornou um hit mundial, tem bem menos poder que a música, e transmite muito pouco do que a letra quer realmente transmitir. Particularmente não gosto da gravação, à exceção da fotografia.

Na sequência, temos You Sent Me Flying e Cherry, uma dobradinha na mesma faixa. A primeira música é uma espécie da lamento. As estrofes iniciais são acompanhadas por um piano de poucas notas ao início, e compassadamente, acrescido de outros instrumentos e percussão mais presente, no refrão. A alteração no ritmo da letra – quase um rubato, quando cantada – é que traz o grande charme da faixa, salientado pela brincadeira e certa ironia que vem logo a seguir, Cherry, um desabafo que não à toa segue-se ao lamento de You Sent Me Flyin.

Know You Now é um ultimato. Talvez a heroína do álbum tenha encontrado alguém bem mais novo ou mais inexperiente que ela, e as inconstâncias do rapaz parecem tê-la irritado. Com uma pontualíssima batida durante toda a música – como se fosse um tic tac de um relógio, contando o tempo para que o “conhecer” do casal aconteça o quanto antes -, temos ainda um simpático vocal que se faz melhor ouvir ao final da música, embora esteja como parte da composição harmônica durante sua execução. Na canção seguinte, o foco muda do ponto externo para o “próprio umbigo”. Fuck Me Pumps é uma alfinetada agridoce em determinados tipos de vida de mulheres, e infelizmente, uma das músicas menos inspiradas do álbum, apesar do apelo.

[quote]Sim, ele se parecia com você Mas eu ouvi dizer que o amor é cego.[/quote]

I Heard Love Is Blind é uma balada impiedosa. Houve um cuidado muito especial de Amy Winehouse em compor uma sequência musical agradável, com metais suavizados e flauta em evidência na fase final da partitura, contrapondo-se com a mensagem transmitida, ou seja, a narração de traição, sem culpa alguma. O trecho da música que pode ser visto em citação logo acima é um exemplo claro do tom da letra: irônico, econômico, realista. O estilo da compositora pode ser visto aqui em toda sua dialética força e delicadeza.

Moody’s Mood For Love é uma versão de Amy Winehouse para a famosa canção I’m in the Mood for Love, de Jimmy McHugh (música) e Dorothy Fields (letra). A canção foi gravada originalmente em 1935, e se tornou parte da trilha sonora de Às Oito em Ponto (1935), filme da Paramount Pictures dirigido por Raoul Walsh. Na sequência temos a doce balada (There Is) No Greater Love, outra versão da cantora para uma música dos anos 1930. A gravação original é de 1936, e foi composta por Isham Jones (música) e Marty Symes (letra). Essas são as duas únicas canções de Frank que não foram escritas ou co-escritas por Amy Winehouse.

Em uma pegada completamente diferente temos In My Bed, uma das maravilhosas parcerias de Winehouse com Salaam Remi. Música de um vigor e pluralidade sonora notáveis, com escala diatônica no refrão e um belíssimo conjunto de metais, com destaque para o trompete que se evidencia nos últimos versos dos refrões e para a flauta que aparece na primeira finalização. Abaixo, o clipe musical de In My Bed. O leitor/espectador irá perceber que há aqui uma grande diferença de concepção para com o clipe anterior.

Take the Box, a canção seguinte,  é uma despedida sentimental, mas muito “pé no chão”, uma das melhores músicas do álbum, parceria de Amy com Luke Smith na composição.

October Song é a canção mais “viajada” de Frank, e está ali na categoria de “canções menores”, ao lado de Fuck Me Pumps. Apesar da letra destoar da temática geral do álbum, a música permanece dentro da proposta. Trata-se de um funk gostoso de se ouvir, mas com uma mixagem interventiva (alguém curtindo um baseadinho) que de alguma forma se interpõe negativamente na canção. Particularmente não gosto dessa opção do produtor, mas creio que com a viagem meio psicodélico-espiritual da letra, até que faz sentido.

What Is It About Men é a canção do álbum com quem Amy Winehouse mais dividiu créditos. São, ao todo, oito compositores, além dela. É bastante gente. Mas ao contrário de projetos em que tantas pessoas possuem participação, não temos aqui um resultado ruim. Muito pelo contrário. Temos um reggae que traz um suspiro merecido na reta final do disco (é a antepenúltima canção), um ritmo e sonoridade levemente distintos das demais faixas, mas que pela adequação instrumental correta e pelos vocais, não destoou em nada do que Frank se propôs apresentar musicalmente. O interessante é que na música seguinte, Help Yourself, temos uma espécie de continuação temática – não no mesmo gênero musical ou similaridade de letra, mas em sentido geral – de What Is It About Men, talvez como um outro momento entre essas duas personagens. O disco termina com Amy Amy Amy/Outro, uma dobradinha que traz uma autorreflexão e uma composição musical que não sai da cabeça tão fácil assim…

Há uma versão desse álbum com uma série de faixas-bônus e demos, mas como não são gravações oficiais, não cabem ser comentadas aqui.

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