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Crítica | An Unearthly Child: The Unscreened Edition e Outras Histórias

Os quadrinhos absurdos de Tim Quinn e Dicky Howett para Doctor Who.

por Luiz Santiago
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O roteirista Tim Quinn e o desenhista Dicky Howett foram responsáveis por uma larga sequência de histórias em quadrinhos cômicos e absurdos nas revistas de Doctor Who (mais especificamente, a Doctor Who Magazine, tanto em algumas edições especiais de inverno e verão, quando em algumas edições regulares). O presente compilado traz algumas dessas histórias. Meu foco inicial aqui era criticar apenas a trama An Unearthly Child: The Unscreened Edition, mas eu aproveitei a oportunidade para comentar outras aventuras malucas da dupla.

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So You Think You’d Make A Good Companion For Dr Who!

Teste cômico de uma única página, elencando o 5º Doutor e o leitor em seis situações diferentes. É evidente que o teste (Doctor Who Magazine Winter Special 1982) brinca com elementos internos e externos à série, desde a piadinha infame com Blake’s 7, até a citação de colecionáveis e de LEGOs na casa do leitor. Não é uma aventura com enredo, mas um teste criado a partir de ações dramáticas inspiradas na série, por isso se torna muito mais divertido. Sem contar que os traços exagerados e propositalmente cômicos de Dicky Howett contribuem ainda mais para o riso. Os cenários de avaliação também são muito bons. No primeiro deles, o Doutor diz para o companion ficar para trás na TARDIS, enquanto ele vai investigar um sinal de socorro no planeta mortal dos malvados Zaxons. No segundo cenário, o companion entra na TARDIS pela primeira vez (e o teste mede a reação da pessoa ao ver aquela maravilha). No terceiro, a TARDIS se materializa no quarto da pessoa. O que ela faz?

No quarto cenário, depois de aparecer como acompanhante por três temporadas, o diretor a convida o ator/atriz para almoçar (esse aqui é um dos toques metalinguísticos, e as opções são hilárias). No quinto, o companion ouve que o diretor do Blake’s 7 está se juntando ao programa (outra pergunta com caráter metalinguístico). Por fim, o cenário mais ligado a elementos específicos da série: o cenário de número 6. Ele expõe a desesperadora situação: os Daleks (The Daleks) se unem aos Cybermen (The Tenth Planet), Ice Warriors (The Ice Warriors), ao Master Tremas (The Keeper of Traken), aos Zarbi (The Web Planet), Mechonoids (The Chase), aos vermes gigantes (The Green Death), Exxilons (Death to the Daleks), Zygons (Terror of the Zygons) e Bok (The Dæmons) para exterminar o Doutor e seus companheiros. O que o leitor faria em uma situação como essa? Bom, a opção é realmente uma só. Gritar! Dar uma de Susan e correr desesperadamente para nunca mais voltar!

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The Next 20 Years

Em 1983, Doctor Who completou 20 anos de idade. Nessa HQ publicada na Doctor Who Magazine Summer Special, os autores apontam que, na esteira das comemorações, todo mundo estava olhando para o passado do show, fazendo as mais diversas homenagens. Por isso mesmo eles iriam fazer algo diferente. Eles iriam olhar para o futuro. Então que imaginam como seriam os próximos 20 anos de Doctor Who, em situações que vão desde a versão machista de como seria uma Doutora (e isso supostamente aconteceria em 1988) até a hilária venda de Patrick Troughton por 8 milhões de libras em uma convenção, no ano de 2003. Evidentemente, o futuro da série seguiu por um caminho bem diferente. Mas não podemos deixar de citar algo bem curioso em relação à chegada de uma Doutora na parada. Fora do âmbito canônico, isso aconteceu em 1995, com Joanna Lumley assumindo o papel da 13ª Doutora em The Curse of Fatal Death. Já na linha oficial de DW, isso só aconteceria em 2017, ao final do episódio Twice Upon a Time, com Jodie Whittaker surgindo como 13ª Doutora!

Algumas situações aqui são mesmo muito engraçadas e valem destaque. Segundo os artistas, em 1985, o chatonildo do Adric retornaria para a série (tipo… como? No momento da publicação dessa HQ, em junho de 1983, Earthshock já tinha sido exibido!) após a BBC finalmente ceder à pressão do “Bring Back Adric Fan Club“, formado apenas pela mãe do personagem. Outra coisa legal ocorreria em 1993, com a junção de Dalek, Cyberman, Mechonoid e Giant Robot (Robot) para formar a banda de Heavy Metal mais pesada de todos os tempos. Também nessa realidade, em 1995, já existiram 12 Doutores na TARDIS, algo que só iria acontecer de fato em 2014, quando Deep Breath, o episódio de estreia do 12º Doutor (interpretado por Peter Capaldi) foi ao ar. Bem, ainda com os altos e baixos, eu prefiro muito mais a nossa realidade do que esta imaginada por Tim Quinn e Dicky Howett em 1983. E vocês?

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An Unearthly Child: The Unscreened Edition

Por mais machista que o final dessa história seja — nesse nível aqui: o Doutor, em vez de dar o fogo para acalmar os homens pré-históricos, entrega uma super-sensual Raquel Welch para os homens da tribo, todos literalmente babando; e ela segue rebolando para as cavernas, como se aquele fosse o seu ideal destino — há que se tirar o chapéu para a estrutura inteligente e engraçadíssima que os autores trazem em seu desenvolvimento. A proposta, como o título diz, é contar uma versão não exibida de An Unearthly Child, o arco de abertura da Série Clássica. Como já tinha demonstrado nas pequenas tramas anteriores, Tim Quinn sabe exatamente como funciona a série, e conhece muitas das contradições que acompanhamos ao longo dos anos nas diferentes mídias de DW. Nessa aventura, ele chama a atenção para essas contradições, seguindo a mesma sequência de eventos que vemos no arco televisionado, só que utilizando de situações absurdas para compor os fatos.

A história começa com um policial nas ruas. Depois passa para Ian e Barbara comentando o quanto sua aluna Susan é diferente “porque não se veste como um Beatle, mas sim como um Duran Duran — o único problema é que Duran Duran ainda não tinha sido formada“. Essas piadinhas internas e externas à série atravessam toda a aventura e fazem o leitor sorrir com gosto. Em outro momento da história, vemos referências muito legais às diferenças de endereço do Doutor (o endereço que ele deu à escola, quando matriculou Susan). Ian acha que Susan mora em Barnes Common, mas Barbara sabe que é na Totter’s Lane. Ela diz Susan só mora em Barnes Common na versão do livro de David Whitaker (a terrível novelização do arco The Daleks). Ele brinca, “é o primeiro episódio e a continuidade já está malfeita“. Ainda em relação às diferenças entre as mídias, há o momento em que Ian acha que o Doutor é um inventor, mas o Time Lord lhe chama a atenção e diz que ele errou o roteiro novamente; desta vez, considerando os dados da TV Comic.

As brincadeiras com o baixo orçamento da BBC, os efeitos toscos, os personagens aleatórios e o fato de Susan e Barbara só gritarem nas primeiras aventuras são coisas abordadas diretamente pelo texto, criticando de maneira engraçada coisas que realmente aconteciam no programa. De conteúdo mesmo, a única coisa podre aqui é a cena machista com Raquel Welch, no momento em que o Doutor está saindo da Pré-História. Eliminando esta parte, todo o restante do quadrinho é diversão pura!

An Unearthly Child: The Unscreened Edition (Reino Unido, 1982 e 1983)
Em:
Doctor Who Magazine Winter Special / Doctor Who Magazine Summer Special
Roteiro: Tim Quinn
Arte: Dicky Howett
Publicação original: Marvel Comics UK
Páginas: 1 a 5

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