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Crítica | Andy Warhol – Um Sonho Americano

Arte e persona.

por Iago Iastrov
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Andy Warhol: O Sonho Americano (2023) é um documentário que tenta capturar a essência de um dos maiores ícones da pop art, desenhando sua trajetória de um garoto de Pittsburgh, filho de imigrantes rutenos, até o centro da cultura de massa. Com imagens inéditas da cidade natal de Warhol e da Eslováquia, o filme mergulha na sua herança cultural e na fé que, surpreendentemente, moldou sua visão artística. A narrativa é envolvente, quase como um episódio bem produzido de uma série de TV, mas se contenta com a simplicidade total de conteúdo. Há um charme inegável em revisitar a vida de alguém que transformou latas de sopa em arte, mas o filme parece hesitar em decifrar o enigma que era Warhol.

Lubomir Slivka opta por um formato direto, até meio engessado, que privilegia a acessibilidade. As entrevistas com familiares, contemporâneos, seguidores e herdeiros artísticos trazem um toque humano, mas o documentário não escapa do clichê “da pobreza à riqueza”. Em certo sentido, é uma narrativa inspiradora, mas previsível. A conexão entre a herança rutena de Warhol e suas obras, como as serigrafias de Marilyn Monroe, é sugerida com delicadeza, mas nunca explorada com a profundidade que o tema merece. E isso vale, na verdade, para todos os movimentos mostrados na tela, apenas presentes em pinceladas introdutórias, sem desdobramentos.

O ponto alto é o material nunca visto antes, que oferece um vislumbre da Pittsburgh industrial e da Eslováquia rural que formaram o jovem Andy. A discussão religiosa, muitas vezes ignorada em análises de sua obra, é um aceno interessante, mas o filme não se compromete a investigar como ela realmente dialogava com sua visão cínica da cultura de consumo. O documentário quer nos convencer de que Warhol era um outsider genial (como se precisasse nos convencer disso…), mas se esquece de mostrar o que o tornava tão singular, além do óbvio.

Este reticente “sonho americano” é como uma boa exposição de museu: você sai sabendo mais, mas não necessariamente entendendo o artista. É um trabalho sólido para curiosos, mas não para quem espera uma exploração um pouquinho mais reforçada da mente por trás das latas Campbell’s. Talvez Warhol, com seu sorriso enigmático, aprovasse essa superficialidade — afinal, ele vivia de transformar o trivial em arte. Ou talvez ele apenas riria, pedindo mais glitter e cortes secos na edição. Vale a pena assistir, mas não espere sair com todas as respostas.

Andy Warhol – Um Sonho Americano (Andy Warhol – americký sen / Andy Warhol: The American Dream) — Eslováquia, 2023
Direção: Lubomir Slivka
Roteiro: Petra Basic Slivková
Duração: 104 min.

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