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Crítica | Animais em Fúria

Deterioração da camada de ozônio transforma os animais em máquinas de matar.

por Leonardo Campos
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Coloque um monte de animais supostamente em fúria, uma mensagem ambiental rasa como um pires e Leslie Nielsen como um predador sexual absurdamente caricato e a receita disso tudo é Animais em Fúria, produção que embarca nas tendências do subgênero horror ecológico, em alta na década de 1970, mesclando ao tema central um amplo feixe de subtramas para fazer a história alcançar maiores desdobramentos. Na trama, a destruição da camada de ozônio afetou os animais que vivem em regiões de alta altitude. Quando o caos se estabelece, o grupo de vítimas formado por caminhantes que programavam uma trilha para contemplação das belezas da natureza precisará esboçar estratégias de sobrevivência, diante não apenas de seres humanos que demonstrarão comportamentos questionáveis nas situações de risco, mas dos animais acompanhados pelas lentes de Robert Sorrentino, diretor de fotografia de clássico cult.

Por sinal, para a infelicidade dos movimentos favoráveis ao direito dos animais, o filme polemizou ao utilizar animais selvagens reais, adestrados para dar conta da produção. Sob o comando de William Girdler, cineasta guiado pelo roteiro escrito por Edward L. Montoro e Eleanor E. Norton, Animais em Fúria traz em seus 97 minutos, o estabelecimento de uma crise ecológica em escala mundial, mas com foco, no bojo da narrativa, no vilarejo Alpino Murphy´s Hotel, localizado numa região do norte da Califórnia. No desenvolvimento, Steve Buckner (Christopher George) é o guia turístico que se prepara para embarcar com os aventureiros caminhantes em helicópteros, tendo em vista sobrevoar uma região montanhosa, preâmbulo da diversão. Alguns acontecimentos inesperados com os animais ocorrerem na área e ele é avisado por Chico Tucker (Walter Barnes), guarda-florestal, homem que o informa dos riscos da empreitada.

Mas por motivos diversos, inclusive da narrativa diante de sua necessidade de avanço e fazer valer o seu título, o empreender do lazer não obedece e os caminhantes continuam com o projeto de se divertir na área florestal, longe do estresse dos grandes centros urbanos. De todos os personagens, o que mais se destaca é o predador sexual Paul Jenson, interpretado por Leslie Nielsen, ator que conhecemos por sua extensa carreira no terreno das paródias e outras manifestações de humor no campo do cinema. Ele é parte de um grupo considerável de turistas que preenchem os clichês básicos deste tipo de narrativa, isto é, a dupla com perfil de casal, o jovem astuto e humorado, etc. O problema para esse pessoal é que se os animais não conseguirem aniquilá-los, provavelmente o psicopata de Nielsen vai, por diversos motivos, delineados pela instabilidade da situação em que se encontram.

Ataques da serpente mais badalada do cinema, a cascavel, já havia acontecido antes dos turistas adentrarem no território perigoso. Sem essa informação preambular por parte dos organizadores, eles seguem numa trajetória rumo ao pior pesadelo de suas vidas. Dentre os momentos de perigo, temos um ataque de lobos que deixa um dos caminhantes em crise, introdução ao horror que é apenas o começo, pois mais adiante, temos um ataque de pássaros, depois de leões, seguido de um urso. A radiação da camada de ozônio deixa a vida selvagem surtada, sequência que ainda tem ratos, cães e outros animais como antagonistas, tudo isso, acompanhado pela trilha sonora ineficiente de Lalo Schifin, complementada pelo razoável design de som de Fred J. Brown. O problema? Nada é convincente. Os personagens são apáticos e os aparatos técnicos não são suficientes para nos alienar diante de uma história que poderia ser ao menos divertida se tivesse um bom ritmo e elementos estéticos interessantes.

Ademais, o tema não é bem trabalhado. Os efeitos especiais são parcos e os animais de verdade não funcionem bem na interação com os humanos, haja vista a falha na montagem final, incapacitada de criar situações de horror suficientes para permitir que a história avance e alcance os seus objetivos plenos de entretenimento. É um filme que se torna burocrático em alguns trechos, como se fosse apenas uma ideia que começou bem, mas saiu pela metade ou por menos. Em suma, um festival de equívocos, mas que possui a sua importância para compreensão da história deste subgênero tão profícuo, ainda relevante industrialmente na atualidade, afinal, lançamentos como Medo Profundo, Predadores Assassinos, Rogue, dentre outros, narrativas exatas ou tangencias neste eixo temático, não seriam tão frequentes. Mesmo trabalhando mal os seus tópicos dramáticos, Animais em Fúria se tornou um clássico cult adorado por um público específico, responsável por ainda mantê-lo mapeado.

Animais em Fúria (Day of The Animals) Estados Unidos, 1977.
Direção: William Girdler
Roteiro: Isabel Bassett, M. J. Bassett
Elenco: Christopher George, Lynda Day George, Leslie Nielsen, Ruth Roman
Duração: 107 min.

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