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Crítica | Animais Fantásticos e Onde Habitam (Trilha Sonora Original)

por Guilherme Coral
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estrelas 4,5

  • Leiam nossas críticas do filme: sem spoilers e com spoilers.
  • O álbum já está disponível em plataformas como o Spotify.

James Newton Howard certamente não contava com uma tarefa fácil. A trilha sonora dos filmes do universo de Harry Potter já esteve nas mãos de nomes como John Williams e Alexandre Desplat, com o tema conduzido por Williams sendo tão marcante quanto aqueles de Star Wars ou Indiana Jones. Howard precisaria, portanto, não apenas introduzir melodias que combinassem com o tom diferenciado de Animais Fantásticos e Onde Habitam, como viver à altura de seus predecessores. Felizmente, o maestro já é mais do que experiente em trilhas sonoras, tendo composto para a trilogia Jogos Vorazes e, ao lado de Hans Zimmer, para O Cavaleiro das Trevas, sem falar das dezenas de outros álbuns assinados por ele.

O respeito do compositor pela história desse mundo mágico já se demonstra de maneira bastante clara logo no tema de abertura, que leva o título do filme. Aqui ouvimos Hedwig’s Theme sendo instrumentado brevemente, nos levando de volta para o universo criado por J.K. Rowling de imediato. Mas Howard não permite que a escutemos por completo e logo faz a transição para o familiar tom que escutamos ao longo de todo o longa, com um ar de fascínio que a obra procura transmitir. A melodia assume uma postura mais sombria logo em seguida com uma percussão forte, a fim de denotar a instabilidade da época retratada, conforme as notícias sobre Grindenwald pulam na tela, apenas para ser substituído pelo descontraído tema de Newt novamente, que perfeitamente se encaixa com sua disposição mais inocente em relação ao mundo.

Trechos dessa composição ouvimos ao longo de todo o álbum, funcionando como o leit motif da obra cinematográfica, com destaque para Inside the Case, na qual conseguimos ouvir o tema com mais calma. James Newton Howard, porém, não deixa sua trilha cair na mesmice e utiliza com exatidão as vozes para trazer o tom hermético da magia à tona. Estamos falando de um filme no qual um dos maiores focos é o perigo da exposição do mundo mágico e isso torna-se evidente nas melodias do maestro em alguns momentos. Em outros, por sua vez, ele recupera sons dos oito filmes anteriores, especialmente no uso de instrumentos de corda e sopro, garantindo toda a temática de fantasia à obra.

Sentimos uma forte identidade própria sendo impressa à essa sonoridade mesmo nos sons metálicos que remetem aos filmes de Harry Potter. Isso se dá pela constante intercalação com tons de jazz, que perfeitamente remetem à época que a obra busca retratar. Estamos falando dos anos 1930, no qual a proibição de bebidas alcoólicas estava em seu auge. A trilha, portanto, assume um ar de “coisas escondidas”, que nos situa nesse período de maneira orgânica e discreta, visto que poucas vezes escutamos de algum personagem a Lei Seca sendo mencionada. A faixa que marca o jazz de maneira mais evidente é Jacob’s Bakery, que, embora esteja presente apenas no final do álbum, junto de Newt Says Goodbye to Tina, pode ser escutada algumas vezes ao longo da projeção. O tema descontraído e alegre reflete a postura do escudeiro de Newt com exatidão, bem representando sua vontade de ajudar os outros.

Essa faixa, que é colocada ao lado do jazz, também marcada pelo som do piano, resume bem a aproximação que o protagonista tivera com Tina, simbolizando bem a crescente paixão entre os dois. A trilha de Howard se faz essencial para  compor o tom da sequência, que não teria nem metade de sua eficácia sem ela. Evidente que já somos deixados mais emotivos após a triste Jacob’s Farewell, que marca a despedida do grupo com seu amigo trouxa. O maestro, porém, deixa um leve tom de esperança no final, nos permitindo que especulemos o retorno de Jacob em algum filme futuro.

Os títulos finais, então, retomam o ar de fantasia, aventura e estupefação do longa, com um ar bastante otimista por mais que o desfecho não tenha sido exatamente feliz, especialmente após todo o conflito com a criatura dentro de Credence, que é muito bem acompanhado por The ObscurusRooftop Chase, que assumem toda a tensão do que vemos em tela, a primeira ainda contando com um crescendo com um ar cada vez mais claustrofóbico. É interessante como a obra intercala melodias sombrias e descontraídas, mas estamos falando de um mundo mágico onde tudo é possível e não poderia ser diferente na música.

Apesar do compositor não conseguir nos entregar algo tão marcante quanto Hedwig’s Theme, ele certamente cumpre seu papel criando a atmosfera de Animais Fantásticos e Onde Habitam. Com melodias que alternam entre clima mais sombrio e o fantástico, James Newton Howard imprime um ar diferente daquele que sentimos em Harry Potter, garantindo identidade própria às suas composições. Seu álbum consegue nos mergulhar de cabeça nesse mundo de magia e bruxaria, que ainda há muito de novo para nos mostrar.

Fantastic Beasts and Where to Find Them (Original Motion Picture Soundtrack)
Composto e conduzido por James Newton Howard
Gravadora: WaterTower Music
Estilo: Trilha Sonora
Ano: 2016

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