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Crítica | Ao Rufar dos Tambores

por Bruno dos Reis Lisboa Pires
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Lançado no mesmo ano de A Mocidade de Lincoln e No Tempo das Diligências, dois outros clássicos absolutos de John Ford, Ao Rufar dos Tambores é hoje uma das jóias esquecidas pela história do cinema que o diretor nos agraciou. Foi um sucesso à época, tanto pela presença de Claudette Colbert, ganhadora do Oscar de melhor atriz por Aconteceu Naquela Noite(1934) além de ser a adaptação de um romance que foi sucesso na década de 30, escrito por Walter Edmonds. A história se passa numa época menos explorada pelo cinema, o período de colonização e independência americana, ocorrido antes da corrida para o oeste, que daria origem ao próprio gênero do faroeste.

Lana e Gilbert, interpretados respectivamente por Claudette Colbert e Henry Fonda, são dois jovens que partem para o Vale de Mohawk River após seu casamento. Os dois procuram reerguer suas vidas como fazendeiros durante a guerra de independência, desbravando uma terra dominada pelo povo nativo e pelos britânicos, que juntos são antagonistas do filme. índios e ingleses atacam e incendeiam as fazendas de colonos para causar desordem, mesmo que sejam os ícones da lei da ordem. Como em muitos outros filmes de John Ford, há irritações quanto a única perspectiva branca de que o índio é uma ameaça, um ser selvagem e agressivo destinado a impedir o desbravamento do homem pelos Estados Unidos. Essas simplificações são parte do mito do faroeste concebido pelo cinema, e é literalmente inventado, e nesse filme em específico uma forma de suavizar a história e amenizar as tensões para o próprio público, que não tem tempo para refletir sobre a figura do índio na história dos EUA.

Mais que qualquer outro filme de Ford, Ao Rufar dos Tambores sustenta-se demais nos relatos dramáticos de suas personagens. Não há uma grande batalha, vemos Gilbert e seus homens partindo e voltando, mas apenas a descrição da guerra e o antes e depois dos soldados. Mesmo tratando da famosa Batalha de Oriskany e tendo investimentos da Fox, John Ford fez um épico que se escora na relação entre Gilbert e Lana, amantes constantemente em movimento, fugindo da cidade, enfrentando os incêndios causados pelos indígenas, tendo que se separar por conta da guerra, garantindo um dinamismo utópico firmado no encontro das duas figuras, e não no tom épico geralmente atribuído ao diretor. Em níveis, é um dos melhores melodramas feitos por Ford, conciliando o romance dos dois com sua narrativa leve e, pela primeira vez em sua carreira, fotografia colorida e vibrante.

Pela paisagem pesada e pelo isolamento do casal de uma trama que é jamais vista pelo espectador, Ford constitui a luta pela comunidade nesse período colonial americano. É tudo dado pelos pequenos detalhes, pela oralidade, pela relação de Lana e Gilbert, um arco dramático que transita entre o tenso e alegre com a mesma fluidez que a vida traz. Esse senso melodramático que John Ford atinge aqui, talvez só nos melhores filmes de Cottafavi, e essa fotografia extensa e épica, mas claustrofóbica, que reflete o mundo que nos engole, só um diretor com as qualidades de Ford seria capaz.

Ao Rufar dos Tambores (Drums Along the Mohawk) – EUA, 1939
Direção: John Ford
Roteiro: Lamar Trotti, Sonya Levien, Walter D. Edmonds
Elenco: Henry Fonda, Claudette Colbert, Edna May Oliver, Eddie Collins, John Carradine, Dorris Bowdon, Jessie Ralph, Arthur Shields, Robert Lowery, Roger Imhof, Francis Ford, Ward Bond
Duração: 104 min.

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