Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | Aquamarine

Crítica | Aquamarine

Uma aventura sobre sereias e confusões adolescentes.

por Leonardo Campos
602 views

Enquanto retomava as referências sobre o imaginário que cerca as sereias, encontrei algumas anotações interessantes que vão além das sereias nas narrativas gregas, talvez a base que mais calcificou a presença destas criaturas mitológicas na cultura. Na França, por exemplo, temos a Melusina, ser metade mulher, metade peixe, mas também representada na figura de uma serpente, em algumas histórias, com duas caudas, a circundar rios, lagos e cachoeiras do território dos franceses, enraizada na cultura tal como a Sereia da Varsóvia, parte da história polonesa sobre um comerciante que teria capturado uma dessas criaturas após gostar do seu doce canto. Depois de utiliza-la para apresentações numa feira, ele a perdeu para um pescador que a libertou. Com isso, ela permutou com o homem a defesa de sua cidade. Já nas Ilhas Guam, território americano no pacífico ocidental, há o conto da Sirena, uma figura que adorava nadar em Agana, mas que certo dia, foi amaldiçoada pela mãe. Se tornou a protetora dos marinheiros e com o tempo, a sua avó interveio e a transformou num ser metade peixe, metade humano.

Todas essas histórias, fantasiosas e lúdicas, preenchem a representação das sereias na cultura, assim como a comédia romântica Aquamarine, lançada em 2006, inspirada na novela de Alice Hoffman. Voltado para o público juvenil, a produção em questão foi dirigida por Elizabeth Allen Rosebaun, cineasta guiada pelo texto de Jessica Bendinger e John Quaintance, dramaturgos que se basearam na publicação de Hoffman, mencionada anteriormente, para desenvolver a versão cinematográfica da história. Ao longo de seus 110 minutos, certamente extensos para uma narrativa que poderia terminar bem antes, acompanhamos a trajetória de Claire (Emma Roberts) e Hailey (Joanna Jojo Levesque), duas amigas de 13 anos da idade que descobrem a sereia Aquamarine (Sarah Paxton) numa piscina de um clube das redondezas. Ela chegou ali após uma forte tempestade e decide que irá ficar na região, pois encontra-se foragida de seu lar após o seu pai ter investido num casamento arranjado. No meio desse argumento simples e guiado por muita leveza, a jovem sereia recebe o ultimato da família e tem apenas três dias para provar que o amor não é um mito e assim, escapar do casamento e de sua condição tradicional.

O tal sentimento logo se estabelece após conhecer Raymond (Jake McDorman), um rapaz que atua como salva-vidas no badalado clube Capri, situado na praia onde as personagens circulam constantemente. Sintonizado com os clichês básicos dos filmes juvenis, temos o rapaz que é objeto de desejo, a patricinha venenosa e chata, os nerds que vivem marginalizados pelos padrões da escola, dentro outros arquétipos. Ao investir numa história de amizade, juntamente aos padrões narrativos já mencionados anteriormente, Aquamarine se oferta ao espectador como um filme leve, despretensioso, focado nas demandas do entretenimento de nicho. Com trama desenvolvida nos três últimos dias do verão de um balneário na Flórida, a produção discute uma série de temas sobre relacionamentos humanos, tudo dentro de uma abordagem clean. Insegurança na adolescência, amizade e lealdade, ansiedades juvenis e até bullying no ambiente escolar: eis algumas das palavras-chave que definem esta narrativa sobre sereias em contato com humanos. O papel de vilã da história fica para Cecilia Banks (Arielle Kebbel), jovem que também demonstra interesse por Raymond e vai disputar espaço no coração do rapaz com Aquamarine, a sua concorrente.

Nos conflitos adicionais, temos o sacolejo na amizade entre Hailey e Claire, abaladas depois que a primeira é intimada pela mãe a viajar para a Austrália, não para passeio, mas em virtude de uma mudança definitiva. Juntas, as garotas pretendem lutar e desfazer o planejamento que se expõe como ameaçador para a trajetória de cumplicidade que elas atravessam há algum tempo. Para transformar o roteiro em material audiovisual, a cineasta Elizabeth Allen Rosenbaun contou com a adequada direção de fotografia de Brian J. Breheny, tomada por paletas de cores intensas e muito brilho, ideais para o diálogo com o design de produção clean de Nelson Coates, também certeiro na construção dos espaços por onde circulam as personagens. Nos figurinos, Sally Sharpe traja as garotas e os demais coadjuvantes conforme as suas necessidades dramáticas e perfis físicos, sociais e psicológicos. Na trilha sonora de David Hirsfelder, o tom é também o mais adequado possível, conectado com a atmosfera de verão adotada pelo filme que ainda conta com um bom trabalho na seara dos efeitos visuais, supervisionados por Morgane Furio. É um espetáculo visual meigo, carinhoso e tomado pela leveza, letárgico em algumas passagens e talvez tedioso para os mais exigentes.

Aquamarine (Idem, Estados Unidos/2006)
Direção: Elizabeth Allen Rosenbaum
Roteiro: John Quaintance, Jessica Bendinger
Elenco: Emma Roberts, JoJo, Sara Paxton, Jake McDorman, ArielleKebbel, Claudia Karvan, Bruce Spence, TamminSursok
Duração: 110 min

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais