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Crítica | Arcane – 1X04 a 06: Feliz Dia do Progresso!, Todos Querem ser Meus Inimigos e Quando as Paredes Desabam

Abrindo as portas do progresso e da loucura!

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios.

Na crítica dos três primeiros episódios, eu falei mal do núcleo político e científico de Ladoalto e toda a desinteressante trama de Hextec com Jayce e Viktor. Como eu já esperava, Arcane retifica essa questão no segundo trio de episódios, focando e expandindo o lado governamental deste universo. Na verdade, o quarto capítulo da temporada, Feliz Dia do Progresso!, é basicamente um tapa na minha cara e na minha análise anterior. O show não apenas desenvolve esse núcleo burocrático, como também coloca a trama política no mesmo patamar de importância do arco dramático de Vi e Powder – e eu não poderia estar mais feliz de estar inicialmente errado, algo que permeia a fragmentada crítica por episódio.

Com uma passagem temporal de alguns anos, o segundo ato da série começa com uma reunião entre o professor Heimerdinger e Jayce. Em um determinado momento, o baixinho peludo abre as portas da sala, e a câmera sai do cômodo para desbravar o mundo steampunk de Ladoalto, demonstrando os avanços de tecnologia, arquitetura e locomoção causados pelas inovações científicas de Jayce, Viktor e sua Hextec, incluindo o gigantesco Hexportal. É um momento bastante emblemático, pois, além da belíssima animação e cinematografia, a sequência consegue encapsular muito do que vemos na trinca de episódios: expansão de universo, comércio, tecnologia e, claro, a parte política que circula todo esse progresso econômico.

Durante esses três episódios, o que o roteiro faz de melhor é conectar todas as peças desse tabuleiro complexo de lore sendo construído. A Hextec criou oportunidades comerciais, que por sua vez envolvem ganância e corrupção daqueles no poder, resultando em ótimas sequências desse lado podre e de favores dos membros do conselho, inclusive com uma trama de desvirtuamento ético de Jayce, rapidamente se tornando um tremendo personagem. Mas também há indícios bélicos, de contrabando e da criação de facções que dão mais camadas a um enredo cada vez mais adulto e de certa forma até procurando um tom realista.

A divisão ainda maior entre Ladoalto e Subferia evidenciam isso bastante. O mundo agora dominado por Silco é um cyberpunk de drogas, boates, prostituição, tráfico, subornos e viciados. O contraste que já existia no primeiro ato se mostra ainda mais em disparidade aqui, mais underground e marginal do que a comunidade pobre comandada por Vander. Algumas sequências são especialmente trágicas nesse sentido, como quando Vi retorna à sua casa e vê uma cidade fantasma de drogados. Enquanto a Hextec tornou o Ladoalto mais desenvolvido (e corrupto), a Cintila deixou a Subferia mais pútrida.

Em suma, se Arcane já contava com uma construção de mundo visualmente magnífica, esse segundo ato deixa o universo mais rico narrativamente. Inserindo mais politicagem, jogo comercial, corrupção, poder bélico, discussão entre desenvolvimento tecnológico e segurança, desigualdades sociais, etc, a parte macro da série se torna mais sólida e expansiva, oferecendo muita munição para os roteiristas criarem uma mitologia de multigêneros, tópicos e estilos como a trinca inicial introduz, mas ainda não tinha espaço ou tempo para desenvolver. Temos até mesmo uma subtrama detetivesca com a nova personagem Caitlyn e a sua improvável parceira Vi, rendendo um bloco bem divertido e melancólico da dupla perambulando a Subferia, tanto evocando traumas para Vi quanto criando um choque de realidade para Caitlyn.

Na parte micro, no entanto, o show continua buscando força no drama intimista das irmãs. Jayce até ganha um arco pessoal, funcionando em uníssono com a parte política da série, além de termos a deslocada subtrama do Viktor, com alguns flashbacks horrivelmente montados em uma série que já tenta equilibrar elementos demais, mas Arcane continua construindo seu mundo em paralelo à história trágica de Powder e Violet. Ainda acho algumas reações e mudanças de personalidade exageradas, e o texto continua pecando nos diálogos previsíveis e superficiais, mas a narrativa faz um bom trabalho de nos situar emocionalmente da alma traumática das irmãs. Vi ganha um bloco cheio de raiva, vingança e liberdade, pontuado pela ótima trama investigativa, enquanto Jinx é puro caos e psicopatia, no qual acompanhamos a personagem descendo às sombras.

Sinto uma sensação de repetitividade narrativa, começando com um roubo que dita as várias consequências narrativas, e a forma que o desfecho procura o mesmo cliffhanger de afastamento das irmãs, mas há o desenvolvimento extremamente orgânico das protagonistas impactando e sendo impactadas pelo narrativa maior de Arcane. O roteiro é inteligente em manter tudo conectado, com Jinx influenciando mudanças políticas, e a Hextec tendo efeitos (tecnológicos, sociais e criminosos) na Subferia. Se tivesse que citar mais algum ponto negativo, seria o desenvolvimento de Silco. Por um lado, sua relação paternal macabra é bacana com o arco vilanesco de Jinx, mas o personagem quase que inteiramente perde seu papel como antagonista principal.

Por fim, o segundo arco da série carrega alguns probleminhas similares, como diálogos pobres e um certo exagero deslocado no comportamento dos personagens, mas Arcane continua em uma rota de qualidade espetacular. A parte técnica continua um deleite visual, com destaque à fluidez dos combates e os vários momentos que funciona como uma extensão da cabeça caótica de Jinx, que enxerga o mundo como um circo psicopata colorido. Somos apresentados a um universo mais rico e complexo, curiosamente similar a desigualdade de classes e corrupção da realidade, mas também continuamente fantástico em seu mix de steampunk e cyberpunk. Mantendo a linha intimista com Powder e Vi enquanto expande e desenvolve os vários elementos da trama macro, Arcane é uma experiência diversificada. Só me pergunto como vão equilibrar e concluir tanta coisa. A resposta está nos esperados episódios finais.

Arcane – 1X04 a 06: Feliz Dia do Progresso!, Todos Querem ser Meus Inimigos e Quando as Paredes Desabam (EUA, 13 de novembro de 2021)
Criador por: Christian Linke, Alex Yee
Direção: Pascal Charrue, Arnaud Delord
Roteiro: Christian Linke, Alex Yee (baseado no universo League of Legends)
Elenco: Hailee Steinfeld, Ella Purnell, Kevin Alejandro, Katie Leung, Jason Spisak, Toks Olagundoye, JB Blanc, Harry Lloyd, Mia Sinclair Jenness, Remy Hii, Mick Weingert, Josh Keaton
Duração: 128 min.

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