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Crítica | Arlequina: Uma Estranha no Ninho (Novos 52)

por Luiz Santiago
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A versão da Arlequina para os Novos 52 é a segunda tentativa da DC em fazer uma revista solo para a personagem. A primeira delas foi entre dezembro de 2000 e janeiro de 2004, período no qual se publicou as 38 edições de Harley Quinn Vol. 1. Já a segunda, no âmbito dos Novos 52, começou a ser publicada em janeiro de 2014 (edição #0).

O presente texto traz críticas as edições #0 a 8 de Harley Quinn Vol. 2, lançadas nos Estados Unidos entre janeiro e setembro de 2014. A compilação dessas histórias foi lançada no Brasil pela Panini em abril de 2015, no encadernado Arlequina #1: Uma Estranha no Ninho.

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Arlequina #0 (Novos 52): Doidinha Exigente

estrelas 5,0

Que. Edição. Sensacional!

Quando peguei o encadernado Uma Estranha no Ninho, eu ainda não sabia direito o que esperar dele. Minha aposta era que o casal Amanda Conner e Jimmy Palmiotti mantivessem o bom nível do trabalho que vinham desenvolvendo em outras publicações e me surpreendessem com a recontagem da origem da Arlequina. Só que aqui não temos uma história de origem. E é começando daí que esta edição #0 da revista passa a se tornar incrível.

A trama de Doidinha Exigente (Picky Sicky, no original) é, em resumo, um tour de force de 17 artistas desenhando a Arlequina e sendo reprovados, xingados ou questionados por ela. Trata-se de uma inteligentíssima edição de metalinguagem, na qual os escritores pensaram um cenário onde a protagonista está à procura um desenhista que:

  1. Possa cumprir prazos;
  2. Consiga desenhá-la de foma “sexy, mas não vulgar”;
  3. Tenha uma arte que a agrade.
arlequina

Arlequina, por Charlie Adlard, Sam Kieth e Darwyn Cooke.

Essa conversa da ‘Palhaça Assassina’ com os desenhistas e roteiristas gerou uma edição nonsense, cheia de situações onde abundam Deus ex machina e marcada por diversos tipos de violência… ou seja, uma publicação extremamente divertida. O texto não só vai fazendo referências ao estilo artístico de cada profissional, mas também utiliza de informações sobre a carreira deles para comentar algum critério utilizado nos desenhos ou alguma “gambiarra” feita pela editora, como a ótima piadinha da página com a arte do Jim Lee, por exemplo.

Mas se o roteiro é inteligente e não se lava a sério (no melhor sentido da afirmação), ele se torna ainda mais interessante à medida que vemos o trabalho artístico ao longo das páginas. A junção desses dois pontos (artes e texto de alto nível) fez de Arlequina #0 uma edição que empurra qualquer leitor para o número seguinte da revista. É uma pena que, ao terminar o primeiro arco, na edição #8, não temos o mesmo largo sorriso no rosto que nos marcou ao final desta primeira publicação.

Arlequina #0: Doidinha Exigente (Harley Quinn Vol 2 – #0: Picky Sicky) – EUA, 2014
Roteiro: Amanda Conner, Jimmy Palmiotti
Arte: Amanda Conner, Becky Cloonan, Tony S. Daniel, Stéphane Roux, Dan Panosian, Walt Simonson, Jim Lee, Bruce Timm, Charles Adlard, Adam Hughes, Art Baltazar, Tradd Moore, Dave Johnson, Jeremy Roberts, Sam Kieth, Darwyn Cooke, Chad Hardin
Arte-final: Amanda Conner, Becky Cloonan, Sandu Florea, Stéphane Roux, Dan Panosian, Walt Simonson, Scott Williams, Bruce Timm, Charles Adlard, Adam Hughes, Art Baltazar, Tradd Moore, Dave Johnson, Jeremy Roberts, Sam Kieth, Darwyn Cooke, Chad Hardin
Cores: Paul Mounts, Tomeu Morey, Lovern Kindzierski, Alex Sinclair, Art Baltazar, John Kalisz, Lee Loughridge, Dave Stewart, Alex Sollazzo
20 páginas

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Arlequina #1 a 8 (Novos 52)

estrelas 3

As duas primeiras edições desse arco são sensacionais. Individualmente, eu daria nota máxima para Um Dia a Casa Cai (#1) e pelo menos 4 estrelas para Fauna & Folia (#2). Mas a partir da edição nº 3, Dores de Amores, o andamento da trama começa a perder a graça e, no final da edição #4, quando um personagem chamado Sy Borgman entra em cena, temos edições com momentos muito ruins, sendo o pior deles, toda a edição #6, Deu a Louca no Zoológico.

É bem estranho observarmos um arco com uma alteração tão grande de qualidade na construção de um evento relativamente simples como o que temos em Uma Estranha no Ninho.

Tudo começa ao final da edição #0, quando Arlequina recebe de ex-paciente do Asilo Arkham, um edifício de 4 andares em Coney Island, Nova York, como herança. Ela se muda para o local e passa a conviver com uma realidade fatal: sua cabeça foi colocada a prêmio na internet e todos os caçadores de recompensa possíveis estão atrás dela. Na história, essa ameaça é “menos grave” do que parece, porque, ruim ou não, os roteiros da série brincam com o absurdo das situações à la Deadpool, e isso traz pelo menos o mínimo de divertimento para o leitor.

arlequina

E aí, vai encarar?

É importante destacar que, exceto a péssima trama com Sy Borgman, o leitor precisa tomar cuidado para não cair na armadilha de cobrar realismo, seriedade e comprometimento com coesão da revista. A proposta de Conner e Palmiotti é justamente se colocar à margem desses pontos mais “certinhos” do roteiro e adotar uma linha dadaísta e niilista de abordagem. É preciso saber lidar com absurdos para curtir Arlequina. A única coisa que não dá para aceitar dentro dessa proposta é o desvio temático da linha narrativa sobre a protagonista e sua vida surreal para a apresentação de um personagem com sua própria (e ridícula) história, que é fechada em si, e cuja contribuição para o andamento do enredo principal é nulo. E sim, eu estou falando do Sr. Sylvester “Sy” Borgman.

O único cenário em que a história deste senhor possa trazer algo interessante é se nos arcos seguintes ele se tornar alguém regular e com um papel de coadjuvante importante para a revista, como é o caso de Tony Tigrão ou, com maior intensidade, da Hera Venenosa, que faz uma ótima parceria com a Arlequina.

Chad Hardin e Stéphane Roux realizam um bom trabalho artístico, com finalização de traços sombreados (Hardin) e linhas mais sinuosas (Roux), explorando o submundo de Coney Island com cores escuras para a maioria dos cenários e cores quentes ou em forte contraste para Arlequina e Hera — única e notável exceção vem com Omissão Notura (#7), edição na qual as coisas voltam a melhorar em qualidade textual e que traz uma das artes mais legais do encadernado, especialmente nas cores alegres e bem aplicadas à tarde na praia, um dos ambientes da história.

Ao final da edição #8, Chuva de Canivete, vemos que o enredo volta aos trilhos, sem MacGuffins estúpidos que em nada contribuem para o crescimento da “dona da revista” e com a volta de um mistério a ser resolvido. Apesar de ter começado bem mas se desenvolvido mal, o final de Uma Estranha no Ninho é animador e promissor. Para os leitores adeptos da “zuera sem limites“, como eu, não resta dúvidas de que seguiremos a leitura.

Arlequina #1 a 8 (Harley Quinn Vol 2 – #1 – 8) – EUA, 2014
Roteiro: Amanda Conner, Jimmy Palmiotti
Arte: Chad Hardin, Stéphane Roux
Arte-final: Chad Hardin, Stéphane Roux
Cores: Alex Sinclair, Paul Mounts
20 páginas (cada número)

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