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Crítica | Arsène Lupin, o Ladrão de Casaca em Quadrinhos

As muitas faces de Lupin.

por Luiz Santiago
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Ladrões cavalheiros, vulneráveis ou misteriosos, com doses de grande humanismo (ou buscando vingança inteligente por algo de ruim feito a eles, ou às suas famílias), são personagens que encantam o público, quer roubem dos ricos para dar aos pobres (como no caso de Robin Wood), quer roubem para si mesmos. De Arsène Lupin a Um Truque de Mestre, histórias com esses indivíduos possuem uma maneira toda especial de nos fazer pensar em “como” eles vão conseguir o que querem e qual será o ricaço ou a ricaça da vez a perder algo de suas fortunas para alguém que a polícia não consegue pegar. E quando pega, é porque há um motivo já arquitetado para isto acontecer. São histórias que trazem tensão, humor ácido, muita ironia e muitas resoluções inesperadas, principalmente porque estão ancoradas em enredos de suspense, detetivescos, policiais ou uma mistura de todos eles.

Baseado nos contos do livro Arsène Lupin, o Ladrão de Casaca (1907), do escritor francês Maurice Leblanc, este quadrinho nos apresenta uma trajetória cronológica — pensada pelo roteirista, Zé Wellington, como uma forma de tornar a sequência de roubos mais interessante e melhor organizada — das andanças de Lupin em alguns de seus casos. Assim como no livro, a HQ procura mostrar, a cada novo evento, um aspecto diferente da personalidade do protagonista, usando seus roubos para nos fazer conhecê-lo melhor. O conto O Colar da Rainha é utilizado como ponto de abertura e encerramento do volume, uma história bem escolhida por Zé Wellington para este fim, atravessando um largo espaço de tempo e ajudando o leitor a entender um pouco como o principal personagem dessas histórias já exercia suas atividades de maneira exemplar desde muito cedo na vida.

A tríade de aventuras que abrem o livro (A Detenção, Lupin na Prisão e A Fuga) aparecem aqui, em momentos diferentes, como excelentes criadoras de atmosfera desse Universo e das habilidades de disfarce, atuação e manipulação de Lupin. As brincadeiras que os desenhistas Ricardo Sousa e Pedro Okuyama fazem ajudam a completar a carga cômica e até mesmo caótica que esses enredos nos trazem. Como não dar risada do “mapa do roubo“, que representa Lupin como uma sombra, uma fumaça, roubando coisas por toda Paris? Ou a cínica narrativa de Lupin a Ganimard, em plena prisão, sobre como orientou, à distância, o roubo do castelo do Barão Nathan Cahorn? Essas tiradas visuais reforçam o humor incomum do personagem e tornam as histórias mais divertidas, especialmente em momentos que são mais expositivos — uma ótima escolha do autor e dos artistas para dinamizar algo que poderia ser bastante maçante.

Até a participação de Herlock Sholmes foi muito bem dinamizada nessa versão em quadrinhos, e achei bem mais interativa e fluída do que na original, especialmente porque aqui, explora-se mais o lado humano do detetive e do ladrão, com piscadelas de um para o outro através de ações e falas que reconhecem suas habilidades. É claro que o ótimo projeto artístico (com uma bela aplicação de cores por Marcelo Pitel) tem uma função grande nisso tudo, e é justamente a relação entre as boas escolhas visuais e a adaptação agradável e muito bem organizada, em termos cronológicos e de coesão do drama, que faz dessa versão de Lupin em quadrinhos uma leitura divertida, tensa e instigante. Um projeto que consegue se colocar no nível do Ladrão de Casaca ao representá-lo com todas as suas facetas, humores e motivações.

Arsène Lupin, o Ladrão de Casaca em Quadrinhos (Brasil, 2022)
Editora:
Principis
Roteiro: Zé Wellington (baseado em contos de Maurice Leblanc)
Arte: Ricardo Sousa
Arte-final: Pedro Okuyama
Cores: Marcelo Pitel
96 páginas

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