Home TVTemporadas Crítica | As Crônicas de Usagi: O Coelho Samurai – 1ª Temporada

Crítica | As Crônicas de Usagi: O Coelho Samurai – 1ª Temporada

A vida de um descendente de Miyamoto Usagi!

por Luiz Santiago
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Produzida pela Netflix, As Crônicas de Usagi: O Coelho Samurai só chegou ao meu conhecimento por ocasião de sua estreia. Ou eu estou realmente embaixo de uma pedra em relação a calendários e notícias de produção de material audiovisual nos últimos tempos, ou a Netflix não está mais divulgando com tanta intensidade as suas produções. De qualquer forma, foi muito bacana chegar à esta série e encontrar um produto divertido, na maioria das histórias que conta, e que é capaz de prender a atenção do espectador por um bom tempo, além, é claro, de buscar se aproximar o máximo possível do charme que o quadrinho original de Stan Sakai possui.

Estreando em 1984, em histórias que posteriormente seriam compiladas no primeiro arco do personagem, O Ronin, o sensacional Miyamoto Usagi (Usagi Yojimbo) tem uma longeva, prolífica e popular história de publicação. Mas a adaptação de seu Universo para a TV não se deu exatamente por esse ponto de vista, por esta realidade. As Crônicas de Usagi: O Coelho Samurai não conta a história de Miyamoto Usagi e nem se passa no Japão do primeiro século do Período Edo; uma escolha muitíssimo acertada das cinco empresas produtoras da série (88 Pictures, Atomic Monster, Dark Horse Entertainment, Gaumont Animation e Netflix Animation). A trama do show se passa no século 26, e a principal cidade onde a ação se passa é Neo Edo, local onde existe uma curiosa mistura de tecnologias, estilos arquitetônicos, estilos de moda e estrutura social.

O protagonista da animação é um jovem coelho de 16 anos chamado Yuichi Usagi (muito bem dublado por Darren Barnet) que sai da fazendo de sua tia, no interior do país, e muda-se para Neo Edo a fim de encontrar um sensei que possa treiná-lo como samurai, seu sonho de longa data. Yuichi já é um excelente espadachim, mas tem o comportamento impulsivo dos jovens, não consegue se concentrar em tarefas, fala demais e tem contra ele o fato de que viveu poucos obstáculos na vida, no período em que passou no campo. Essa inexperiência coloca-o em situações ainda mais perigosas quando de sua chegada na cidade grande, e essas vão se somando a muitos outros problemas, sendo o grande impasse dessa temporada a libertação de uma porção de yōkai por toda a cidade.

Yōkais são criaturas sobrenaturais do folclore japonês, podendo ter forma humana, animal, vegetal, de objeto ou fenômeno natural, havendo relações com o nosso mundo mundo material ou com outras dimensões da vida, como a dimensão espiritual e mental; a dimensão da reencarnação ou alguma outra parte de seu plano de existência. Existem outras configurações específicas para essas criaturas, mas no geral, temos essa definição básica, e muitas delas são utilizadas para construir as criaturas que vemos aqui na série. Em suas primeiras horas na grande cidade, Yuichi acaba fazendo alguns amigos (Gen, Kitsune e Chizu), que inicialmente são apenas pessoas que aparecem em seu caminho e que não estão exatamente contentes em encontrá-lo. Ao lado de seu animal de estimação Spot, Yuichi procura sobreviver na cidade sem irritar mais pessoas e, eventualmente, deseja encontrar o Mestre que deverá treiná-lo para ser um samurai.

Alguns valores de amadurecimento são trazidos à tona pelos roteiros de Candie Langdale, Doug Langdale e Ben Jones, fazendo com que todos os personagens cresçam um pouco e aprendam uns com os outros e com as adversidades apresentadas no decorrer dos episódios. Todos os personagens centrais são bem apresentados e ganham um interessante desenvolvimento, o que nos permite, inclusive, perceber o amadurecimento de cada um. Embora alguns pequenos arcos sejam bobinhos e o próprio encadeamento de algumas histórias tenham caráter anticlimático (o treinamento de Yuichi é um deles, por exemplo) a gente termina a temporada contente com a trama geral: primeiro porque conhecemos de verdade esses indivíduos, e depois, justamente porque nos importamos com eles, vibramos pelo fato de conseguirem fechar o portal de outra dimensão capaz de trazer Seres de nível lovecraftiano para Neo Edo.

O estilo de animação CGI da série me causou estranheza no início, mas eu consegui me habituar com ele, sem necessariamente gostar. Os artistas se preocuparam bastante com o nível de detalhes para os personagens, de modo que em alguns primeiros planos e closes de câmera nos mostram belíssimos detalhamentos de pelos, focinhos, olhos, pele ou tecidos. Infelizmente este não é o tipo de cuidado que vemos aplicados a todos os personagens — a figuração geral, ou seja, os habitantes da cidade, parecem animações mal terminadas e estão vergonhosamente em número muito pequeno, dando a bizarra impressão de que uma cidade tão imponente como Neo Edo só tem uma dúzia de habitantes –, mas isso não é algo que derruba grandiosamente a qualidade geral da animação.

O trabalho de dublagem do elenco aqui está afinadíssimo, até mesmo para personagens figurantes. Também vale destaque para as cenas de luta (são poucos os momentos de mal aproveitamento do espaço e interação entre personagens); para a presença dos Neko Ninja e para a variedade moral e comportamental dos yōkai, cuja personalidade dá uma cara diferente para cada episódio. Dos personagens apresentados, o único que eu demorei para gostar foi Chikabuma, mas acabei a temporada conseguindo lidar melhor com ele, embora não seja o meu favorito, ao lado de Lord Kogane, que começa tendo um papel importante como um diferente antagonista, mas depois se torna apenas um inútil de humor fácil.

Cheia de bons elementos que certamente podem ser melhor aproveitados e grandiosamente expandidos numa futura temporada, As Crônicas de Usagi: O Coelho Samurai é uma diversão rápida vinda de uma das melhores e mais gostosas séries de quadrinhos com personagens que não são super-heróis. Lutas, valores das relações interpessoais e amadurecimento dos indivíduos fazem parte desse enredo e conseguem criar uma atmosfera familiar da qual a gente se afeiçoa bastante e termina querendo mais.

As Crônicas de Usagi: O Coelho Samurai (Samurai Rabbit: The Usagi Chronicles) — EUA, 2022
Criação: Doug Langdale, Candie Kelty Langdale
Direção: Derek Lee Thompson, Alfred Gimeno
Roteiro: Candie Langdale, Doug Langdale, Ben Jones
Elenco: Darren Barnet, Aleks Le, Mallory Low, Shelby Rabara, Keone Young, SungWon Cho, Eric Bauza, Mela Lee, Sumalee Montano, Yuki Matsuzaki
Duração: 10 episódios de 30 min. cada

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