Dez anos depois do lançamento de Mr. Bean – O Filme (1997), péssimo longa inspirado na série de humor britânica Mr. Bean, o nosso querido personagem-protagonista atrapalhado está de volta à procura de novas confusões. Acredito que o seu sucesso baseia-se no fato de ele estrelar o constrangimento público, um dos maiores pesadelos de qualquer ser humano consciente no convívio em sociedade, já que ninguém deseja virar piada em praça pública, tampouco ser acometido por olhares atravessados. Ademais, para o nosso divertimento, falta em Bean – interpretado pelo exemplar ator e comediante britânico Rowan Atkinson – o bom senso na tomada de decisões, as quais em sua maioria são extremamente descabidas, beirando o absurdo. No entanto, infelizmente, neste segundo filme, as confusões são muito artificiais e cinematográficas, pois houve a ausência de Richard Curtis e de Rowan Atkinson na construção do roteiro, atividade que, antes, eles sempre estiveram envolvidos. Entre as várias pesquisas para compor esta minha Crítica, descobri que apenas Robin Driscoll participou dos projetos anteriores, juntamente ao fato de que, na época, os atores Simon McBurney e Hamish McCool eram inexperientes na elaboração de roteiros para filmes.
Além disso, as minhas expectativas estavam elevadas, uma vez que o longa antecessor foi uma tremenda decepção. Logo, eu esperava que as férias do destrambelhado Bean fossem realmente divertidas, ainda mais se passando em uma praia, local que só teve um mísero destaque nas cenas derradeiras. Até chegar ao destino final – após ganhar uma viagem de férias para o sul da França por meio de uma rifa -, o pobre coitado enfrenta diversos percalços, como a companhia de um garotinho que se perdeu do pai e de uma atriz em início de carreira. Se o improvável trio formado teve a intenção de promover algo engraçado, eles falharam na missão, visto que o meu único sentimento foi torcer para que o Mr. Bean chegasse logo ao passeio no mar, no caso na cidade de Cannes, na Itália, e pudesse, assim, aproveitar as férias. O filme parece uma sucessão de esquetes, as quais foram gravadas inclusive pelo próprio protagonista com a sua câmera pessoal, outro item que fez parte do prêmio da rifa, em situações esquisitas. Foi quase um documentário sobre a vida maluca dele dentro do filme, na qual ele não possuía nenhuma habilidade motora ou técnica para gravar os acontecimentos.
Já em relação aos aspectos positivos, destaca-se a bela trilha sonora, a qual pelo menos acerta na escolha das composições musicais que acompanham cada segmento da história. Por falar em história, As Férias de Mr. Bean não tem exatamente uma trama, mas uma colcha de retalhos onde os pedaços são esquetes contendo piadas fáceis e óbvias. Era evidente, por exemplo, que a carteira e o passaporte colocados em cima do telefone público iriam ser esquecidos, anulando de certa maneira a experiência da quebra de expectativa, pois houve por parte de nós, telespectadores, a antecipação do que iria acontecer. Contudo, o que salva o longa de não ser tão ruim igual ao antecessor é o carisma do protagonista. Ele usa as caras e as bocas para criar um humor essencialmente físico, limitando ao máximo os diálogos com os seres humanos. Assim como na série e no primeiro filme, ele limita-se a soltar somente pequenos murmúrios e gemidos em reação a tudo que vê na frente dele, da mesma forma com os olhares esbugalhados, seja de felicidade ou de tristeza.
Há ainda a natureza infantil e pura de Bean, características que contribuem para que torcemos pela felicidade do protagonista, por mais que as decisões do personagem sejam mirabolantes. Ele comporta-se como uma criança empolgada que não consegue esconder a felicidade ao ganhar um presente: bate palmas, salta de alegria e, quando consegue alguma quantia monetária, enche a boca de doces e de guloseimas. Desse modo, o seu intérprete justifica a imaturidade do “alienígena”, sendo uma decisão inteligente e encantadora, afinal de contas, quem não ama o Mr. Bean, embora ele não tenha tomado nenhum banho durante todo o filme? E olha que ele pegou trem, carro, moto, andou a pé, correu pelas ruas, se vestiu de roupas femininas, mas tirar o suor do corpo ele não o fez, nem quando chegou de fato ao mar.
As Férias de Mr. Bean poderia ter tido uma melhor direção, com um humor mais refinado, e não contendo somente uma comédia repleta de besteiras. Tirando a parte em que ele salva e entrega o garotinho nos braços do pai, não teve nenhuma lógica ele ter participado do famoso Festival de Cannes, já que a única finalidade era chegar à praia para, assim, aproveitar as férias, e nada mais. Caso algum dia surge o terceiro longa, tomara que ele se passe finalmente na terra original do Mr. Bean, na Inglaterra, porque, quando o personagem decide ambientar territórios estrangeiros, não tem tanta graça. Percebe-se, dessa maneira, que em função da divertida série – Mr. Bean – e dos dois esquecíveis filmes – Mr. Bean – O Filme (1997) e As Férias de Mr. Bean (2007) -, o Sr. Feijão funciona melhor na televisão, e não nas telonas de cinema.
As Férias de Mr. Bean (Mr. Bean’s Holiday) | EUA, França e Inglaterra, 2007
Direção: Steve Bendelack
Roteiro: Robin Driscoll, Hamish McColl, Simon McBurney
Elenco: Rowan Atkinson, Steve Pemberton, Emma de Caunes, Lily Atkinson, Preston Nyman, Sharlit Deyzac, Francois Touch, Arsène Mosca, Stéphane Debac, Willem Dafoe, Philippe Spall, Jean Rochefort, Karel Roden, Maxim Baldry, Pascal Jounier, Emmanuelle Cosso, Francis Coffinet
Duração: 90 min.