Home LiteraturaConto Crítica | As Joias Perdidas e O Agente do Correio, de Rabindranath Tagore

Crítica | As Joias Perdidas e O Agente do Correio, de Rabindranath Tagore

Entre o sentimental e o sobrenatural.

por Luiz Santiago
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O presente compilado traz dois contos do vencedor do Prêmio Nobel de Literatura Rabindranath Tagore, um verdadeiro ícone da literatura indiana. O primeiro conto, As Joias Perdidas, foi oficialmente publicado em 1898. O segundo conto, O Agente do Correio, data de 1891. Você conhece essas pequenas histórias escritas por este grande mestre da literatura hindu? Confira as críticas e deixe os seus comentários abaixo!

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As Joias Perdidas

Phanibhushan é o centro da narrativa deste conto de 1898, que começa com diversas observações feitas por um narrador-professor para um homem sentado próximo a uma grande árvore, junto a um rio. A estrutura narrativa utilizada por Rabindranath Tagore me lembrou um pouco aquela utilizada por Akutagawa em Rashomon, e o cenário da grande casa mal cuidada no meio da trama não me tirou da cabeça o conto A Sala de Música, do também indiano Tarasankar Bandyopadhyay. Esse tipo de aventura tem um teor mítico somado com fofoca, pois os eventos de caráter sobrenatural são passados adiante (para um segundo ou terceiro personagem, e também para o leitor) através de um ponto de vista que já recebeu essa informação de outra pessoa ou que se lembra de maneira muito peculiar dos fatos que conta. É a narrativa de uma “versão da história” dita a um estranho que Tagore até chega a ironizar, fazendo com que o ouvinte, no fim das contas, fosse o personagem central de todos esses acontecimentos.

Nos primeiros parágrafos, o narrador deixa muito clara qual é a sua opinião sobre o casamento, sobre como deve ser o comportamento do homem e da mulher em uma relação e sobre a sociedade em que vivem naquele momento. Não escapam a ele diversas críticas sobre o comportamento de uma nova geração menos atenta aos hábitos e tradições da sociedade indiana, inclusive no que ele chama de “troca de papéis” entre homens e mulheres numa relação. Essas observações não são apenas o prévio julgamento moral desse personagem para a situação que ele vai contar, mas também um caminho para que a gente entenda quem são os protagonistas dos eventos, já que não haverá um verdadeiro desenvolvimento de personagens aqui: Phanibhushan, o marido rico que não tem mão forte para guiar a casa; e Manimalika, a jovem esposa gananciosa e dominadora do marido e da condução da casa.

O enredo fala dos anos de casamento, da chegada de uma situação que marca dificuldades financeiras na vida do casal e se afunila para um bloco macabro, fazendo do conto, ao seu final, uma interessante história de fantasma, encerrada de maneira irônica e um pouco cômica. Não é o melhor final para essa aventura — que poderia se estender um pouco mais na parte do terror –, mas a sensação de completude da narrativa pelo menos está lá.

Manimalika / Manihara / Monihara / Woman Bereft of Jewels / The Lost Jewels / Missing My Bejeweled — Índia, 1898
Autor: Rabindranath Tagore
Tradução (para o inglês): Bhaskar Chattopadhyay
Editora: Harper Perennial (2014)
15 páginas

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O Agente do Correio

Este conto me deixou com sentimentos bem conflitantes. Tagore começa com uma intenção inocente, cheia de um charme misterioso em torno do personagem central, que é um agente do correio meio rabugento, que recebe uma ordem de transferência de uma grande cidade para uma outra bem pequena, um lugar que ele detesta. O conto não desenvolve o personagem a contento, nem com ele em cena (pelos diálogos), nem através de narração, ou seja, a impressão inicial que a gente cria sobre o que poderia acontecer aqui se dissipa rapidamente. Tentamos entender para onde vai a narrativa, mas  ela não está muito clara. Apenas quando a empregada desse agente do correio aparece é que entendemos onde o autor quer chegar. Ele vai pouco a pouco criando uma expectativa romântica em torno dessa jovem e do agente do correio, para, no final de tudo, frustrar essa esperança sem um bom desenvolvimento.

É fácil entender o encaminhamento triste da trama, mas para algo que foi plantado e explorado por algumas páginas, havia sim a necessidade de uma conclusão mais bojuda, que expandisse um tantinho mais os pontos de vista, os sentimentos dessas duas pessoas, e deixasse mais claro o caminho para os dois personagens a partir desse momento. Não chega a ser um conto ruim, mas é certamente frustrante e solto, especialmente em seu final.

Post Master / The Postmaster — Índia, 1891
Autor: Rabindranath Tagore
Tradução (para o inglês): Bhaskar Chattopadhyay
Editora: Harper Perennial (2014)
11 páginas

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