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Crítica | As Loucuras de Charlie

É o Charlie… de novo.

por Felipe Oliveira
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Já teve a curiosidade em saber o que se passa na mente de um homem dando pitaco por um fim de relacionamento? Esse não seria o precedente no meio cinematográfico a propor esse imagético, mas parece que só Roman Coppola achou que seria interessante ter essa façanha contada através de Charlie Sheen, com seu alter-ego assinado como Charlie Swan III. Sheen, que já atuou como ele mesmo e já viveu alguns personagens nomeados com o seu primeiro nome várias vezes, aparentava voltar mais uma vez a essa familiaridade a fim de estrelar um enfadonho ensaio que coincidentemente lembrava sua vida e carreira, numa comédia vazia em tudo e perdida nas próprias loucuras.

Lançado em 2012, embora tenha sido um longa distribuído, As Loucuras de Charlie marcou o primeiro projeto do estúdio A24, que se tornou notório pelo cinema independente entre vários gêneros e pela liberdade autoral que promove com cineastas. Em seu segundo longa-metragem como diretor, Coppola reproduziu o que melhor aprendeu durante a chamativa colaboração com Wes Anderson entrelaçando ao seu estilo, neste caso, reuniu um grande elenco de amigos numa proposta que mesclava realidade e ficção, pondo elemento personagem principal um homem e sua introspectiva machista sobre o fim de seu relacionamento.

Na época do filme, Sheen estava numa fase turbulenta e ainda mais controversa de sua carreira que já tinha passado por revelações polêmicas sobre os casos com prostitutas e atrizes pornôs, vício em pernografia, em entorpercentes e violência doméstica no casamento com Denise Richards. Se viver uma paródia de si mesmo até sua então demissão da famosa Dois Homens e Meio, o astro chegava em 2012 tentando se manter no papo assinando para uma nova série Anger Management e como protagonista no filme de Coppola como um design design de sucesso que também tem problemas com drogas, álcool, é mulherengo e reflete sobre o inaceitável término namoro com Ivanna (Katheryn Winnick).  Desse modo, não é a primeira vez que Sheen é um Charlie espelhando ecos de sua vida, então não há nada nas loucuras de seu personagem que o público já não tenha acompanhado em duas décadas do que ele sendo ele mesmo dentro e fora das telas; na TV e cinema.

É um cansativo exercício de metalinguagem voltar para a reprodução do comportamento de uma figura pública controversa e misturar isso a estilo surrealista que leva o telespectador ao imaginário de suas vivências. Então, o beberrão que coleciona fotos sensuais das mulheres com quem saía, fantasia de inúmeras formas como aconteceu o fim da relação que estimava com Ivana. Sendo ele a pessoa que está sofrendo e nada fez para tomar um chute no traseiro, suas fantasias idealizam os cenários dessa perda dramática amorosa, com Ivana sempre ocupando a posição de oponente e ele o mocinho que cai nas amarras do perigo desse jogo clássico de amor e contando com ajuda de amigos para se reerguer enquanto espera que ganhe uma segunda chance Ivana.

Nesse ponto, entram as participações do elenco de amigos que já colaboraram em trabalhos diferentes com Coppola e Anderson, como Bill Murray e Schwartzman, alternando entre encontros e desencontros nos intervalos das fantasias de Charlie. Era pra ser divertido e contagiante de ver essa dinâmica, no entanto, Coppola não conseguiu criar alguma substância ao trazer essa composição amistosa que tenta fazer graça com uma história clássica ressoando o mesmo Charlie de sempre, então como se estivesse em uma longa viagem de entorpecentes fantasiando ser um design sofrendo de amor e no caminho, as suas muitas polêmicas da vida não deixassem de aparecer para interromper o conto ilusório.

Pior do que ter forçado uma narrativa fantasiosa com o Sheen sendo o Sheen e não ter nem incutido uma autoanálise boba que fosse como se servisse de “aprofundamento” para o personagem, foi Coppola ter oferecido apenas ego, ego de um homem que em seus delírios não tivesse nada para se orgulhar e relembrar a não ser o hobby de mulherengo, drogado e bebum enquanto um design bem-sucedido. Quem diria que a A24 começou assim, com Coppola compondo de muito estilo numa uma história que não entregou nada além de um remonte de um astro controverso.

As Loucuras de Charlie (A Glimpse Inside the Mind of Charles Swan III – EUA, 2012)
Direção: Roman Coppola
Roteiro: Roman Coppola
Elenco: Charlie Sheen, Katheryn Winnick, Patricia Arquette, Jason Schwartzman, Mary Elizabeth Winstead, Aubrey Plaza, Tyne Stecklein, C.C. Sheffield, Bill Murray, Dermot Mulroney, Gloria Laino, Stephen Dorff
Duração: 86 min.

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