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Crítica | As Tartarugas Ninja (2014)

por Guilherme Coral
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estrelas 1

Obs: Crítica originalmente publicada em 13 de agosto de 2014, quando do lançamento do filme nos cinemas. Leiam as críticas dos demais longas das Tartarugas Ninja, bem aqui.

Após onze anos sem um longa-metragem em live-action, os famosos quelônios mais uma vez dão as caras nas telonas, substituindo os animatrônicos das adaptações anteriores pelo CGI. O projeto, nas mãos de Jonathan Lebesman, mais conhecido por produções gigantescas com pouquíssimo lucro e qualidade, como Fúria de Titãs 2 e Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles, já contava com um certo receio por parte dos fãs da franquia, em especial graças a alguns comentários da equipe que indicaram a origem das tartarugas como sendo extraterrestres. Os medos se solidificam quando levamos em conta a produção de Michael Bay, que, facilmente, poderia transformar este em um filme genérico, repleto de explosões e narrativas desnecessárias sem profundidade.

O medo, porém, é quase que totalmente desfeito ao nos depararmos com a sequência inicial da obra. Mimetizando os quadrinhos originais, vemos ilustrações estáticas que nos contam as origens das criaturas em questão e de Mestre Splinter, que atua como narrador. O cenário ainda se expande, já introduzindo o Destruidor e sua gangue, o Clã do Pé, como os principais antagonistas da obra. Esta graphic novel animada, contudo, não dura muito e somos transportados para a vida de April O’Neil (Megan Fox), uma jovem jornalista em busca de um furo que irá catapultar sua carreira. Neste ponto nossos temores iniciais são resgatados. Em uma sequência simples, um diálogo entre dois personagens parados, April e um operário, temos uma câmera na mão frenética, sem qualquer valor narrativo (vide a falta de tensão na sequência), provocando nada menos que um grande desconforto no espectador e um grande estranhamento, já que estamos diante de um trabalho fotográfico de Lula Carvalho, responsável por nada menos que os Tropa de Elite, Robocop (2014), além de dezenas de outros filmes de destaque. Já somos, então, preparados para o que encontraríamos nas sequências de ação da obra.

O que vemos a seguir simplesmente comprova o que esperávamos a princípio. Com um foco em April, o longa nos introduz lentamente às tartarugas, se apoiando em uma série de coincidências que funcionariam se o roteiro se esforçasse. Ao invés disso, contudo, somos levados em uma espiral de acontecimentos artificiais que sugam a protagonista para seu meio sem dar a ela qualquer valor narrativo. Os problemas no roteiro ainda possuem um forte aliado na “atuação” de Megan Fox, que, de fato, somente está lá para funcionar como objeto sexual para as audiências interessadas. O filme, ao menos, não força isso na tela constantemente como em Transformers, muito embora alguns planos tenham sido destinados a isso. A narrativa, portanto, nos leva de April aos quelônios, como já dito anteriormente, nos apresentando, finalmente, a Donatello, Michelangelo, Rafael e Leonardo, que rapidamente nos leva aos embates contra o Clã do Pé e o Destruidor.

A surpresa seria maior se não houvéssemos presenciado trailers ou imagens promocionais, é claro, mas não posso simplesmente relevar o fato de que, de tartarugas, os personagens só tem o casco. De fato, o que vemos são seres humanos mutantes e não aquilo que o título indica. A direção de arte desliza ainda mais na caracterização de cada um dos quelônios, colocando diversos apetrechos em seus corpos, constituindo um exagero visual que muito se beneficiaria de uma maior simplicidade. Ao menos a corrente de ouro, originalmente presente em Michelangelo, é substituída digitalmente por um colar de conchas, diminuindo a evidente caracterização afro-americana dos personagens – embora esta ainda se faça presente nos diálogos.

Onde a aparência desliza, contudo, a personalidade acaba agradando, trazendo uma relação fraternal palpável entre as tartarugas. A diferença em seus jeitos é bastante trabalhada ao longo do longa, conseguindo trazer algumas risadas do espectador, em especial através de referências à cultura pop. O mesmo não pode ser dito para as interações entre eles e April, que soa completamente artificial, como o restante do roteiro, que, acima de tudo, procede de forma óbvia. Mas a obviedade alcança seu ápice nas sequências de ação que nos colocam em infindáveis e repetitivos combates que pouco se diferenciam entre si, apresentando o clássico problema das produções atuais, com câmera frenética (nos remetendo ao princípio do filme) e montagem entrecortada. Trata-se de um grande desperdício de CGI, ao ponto que enxergamos muito pouco na maioria da obra.

Por mais que o longa só tenha 101 minutos, não conseguimos deixar de nos sentir cansados nos momentos finais, ansiando pelo desfecho que, a cada momento, parece mais distante. As Tartarugas Ninja, no fim, se classifica como o genérico filme de ação, não distante da grande maioria das produções do gênero, se apoiando puramente na computação gráfica, ao invés de um eficaz roteiro e direção. A obra, ao menos, poderia nos entreter, não fossem suas sequências que simplesmente repetem as anteriores, trazendo mais do mesmo a cada minuto. Nossos temores iniciais são, enfim, concretizados diante dessa produção completamente sem conteúdo.

As Tartarugas Ninja (Teenage Mutant Ninja Turtles – EUA, 2014)
Direção:
Jonathan Liebesman
Roteiro:
Josh Appelbaum, André Nemec, Evan Daugherty 
Elenco:
Megan Fox, Will Arnett, William Fichtner, Alan Ritchson, Noel Fisher, Pete Ploszek, Johnny Knoxville, Jeremy Howard, Danny Woodburn, Tony Shalhoub, Tohoru Masamune, Whoopi Goldberg, Minae Noji, Abby Elliott
Duração:
101 min.

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