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Crítica | As Tartarugas Ninja – O Retorno

por Ritter Fan
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estrelas 2,5

Depois de tomar a indústria cinematográfica de assalto com sua simpática estreia nos cinemas em 1990, as Tartarugas Ninja amargaram duas continuações, uma em 1991 e outra em 1993 que destruíram suas promissoras carreiras na Sétima Arte. Só restaram as séries animadas – e uma live-action – para televisão, essas sim com lugares cativos antes e depois dos longas, mantendo a cultura quelônia viva.

Foi somente em 2007 que os répteis ninja ganharam uma nova versão nas telonas, pela primeira vez em versão animada em computação gráfica. O resultado é um filme divertido, muito bonito, mas, em última análise, desprovido de roteiro engajante. Na verdade, quase não há roteiro e sim um fiapo de história que pode tanto ser interpretada como sendo continuação do filme original de 1990 como um filme completamente independente (e sim, sei que Peter Laird deu declarações na linha de que seria um filme independente, mas o encaixe é perfeitamente possível, apesar de sua declaração).

A narração de Laurence Fishburne abre a fita contando brevemente sobre as tartarugas e sobre o fim do Destruidor, engatando com uma lenda milenar sobre um guerreiro asteca chamado Yaotl que, para ganhar a imortalidade, acaba, sem querer, sacrificando sua irmandade (são transformados em estátuas de pedra) e libertando 13 monstros pela Terra. Com isso, em dois minutos, um novo vilão é criado, mas um que carece de empatia ou mesmo de relevância, apesar do bom trabalho de voz de Patrick Stewart. Do lado das tartarugas, aprendemos que o grupo debandou, com Leonardo (James Arnold Taylor) vivendo como uma espécie de “fantasma salvador” em uma floresta em algum lugar na América Central (coincidência feia considerando-se a origem do vilão…) e sendo achado por April (Sarah Michelle Gellar) que, pelo que parece, agora não é mais jornalista, mas sim uma arqueóloga. Em Nova Iorque, Donatello (Mitchell Whitfiled) é um atendente de TI e Michelangelo (Mikey Kelley) um animador de festas de crianças. Rafael (Nolan North) dorme o dia inteiro e, à noite, sem que ninguém saiba, se transforma no Vigilante Noturno e, tal qual o Batman, sai por aí capturando bandidos até ser descoberto por Casey (Chris Evans).

A explicação para a separação do grupo – Splinter (Mako) mandara Leonardo para uma espécie de “retiro espiritual” – é ridiculamente mal construída e só serve mesmo para criar esse conflito interno entre as tartarugas. Na verdade, o conflito só existe entre Leo e Rafael, duas figuras retratadas como sendo de polos opostos, mas que, na verdade, se complementam (é engraçado o vigilantismo de Rafael ser condenado enquanto que Leonardo fazia exatamente a mesma coisa na floresta onde vivera, o que só exemplifica a incongruência do trabalho de Munroe). Donatello e Michelangelo são quase extras de tão pouco relevantes que são para a história. É claro que os quelônios têm que se acertar e enfrentar Yaotl e seus generais de pedra, além dos monstrengos (que chegam a Nova Iorque no horário marcado, 3 mil anos depois de serem libertados de sua dimensão) e, claro, do Clã do Pé, agora comandado pela misteriosa Karai (Ziyi Zhang), que é contratado por Yaotl sem nenhuma razão lógica.

Em suma, o roteiro foi algo pensado depois que a produtora decidiu fazer um filme das tartarugas. Foi provavelmente criado nas coxas por Munroe, que se mostra desprovido desse talento em especial, apenas como uma desculpa para enfileirar lutas variadas, mas que acabam sendo repetitivas. Até mesmo os diálogos dos irmãos, que deveriam ser divertidos, se perdem em picuinhas intermináveis.

No entanto, por outro lado, o visual é sensacional. A direção de arte trabalhou a aparência das tartarugas, levando-as de volta ao original, mas polindo-as para o CGI de maneira que, mesmo caricatas, elas e os demais personagens conseguem facilmente se misturar com o resto do cenário que camba mais para o lado fotorrealístico, em uma agradável fusão. O mesmo vale para o design dos vilões que, desde os ninjas do Clã do Pé, passando pelos generais de pedra e pelos 13 monstros, mostram inventividade para se evitar a mesmice. O CGI em si é muito atratante, com cores vibrantes para as tartarugas e seu esconderijo nas galerias de esgoto e cores mais mudas para as sequências noturnas externas (a fotografia é de Steve Lumley, tradicional profissional de animações, com passagens por O Gigante de Ferro, Spirit – O Corcel Indomável e outros). Vale especial destaque para a luta na chuva entre Leonardo e Rafael que apresenta efeitos acima da média e uma coreografia bem estudada, ágil e digna do legado das tartarugas.

Mas é isso: As Tartarugas Ninja – O Retorno tem muito visual e pouca história. Um clássico exemplo de uma obra feita para navegar no sucesso da lembrança desses tão queridos personagens que não se preocupa em entregar ao público algo básico como uma história eficiente, lógica e, porque não, inteligente. O resultado, assim, é um retorno apenas medíocre, efêmero e que não deixa saudades.

As Tartarugas Ninja – O Retorno (TMNT, EUA/Hong Kong – 2007)
Direção: Kevin Munroe
Roteiro: Kevin Munroe (baseado em personagens criados por Peter Laird e Kevin Eastman)
Elenco (vozes no original): Chris Evans, Sarah Michelle Gellar, Mako, Kevin Smith, Patrick Stewart, Ziyi Zhang, Laurence Fishburne, Mitchell Whitfield, James Arnold Taylor, Mikey Kelley, Nolan North, John DiMaggio
Duração: 87 min.

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