Home TVTelefilmes Crítica | Assassinato no Expresso do Oriente (2001)

Crítica | Assassinato no Expresso do Oriente (2001)

por Luiz Santiago
864 views

Por mais que tenhamos em Assassinato no Expresso do Oriente um dos livros teoricamente fáceis de se adaptar em toda a longa bibliografia de Agatha Christie, parece não ter sido fácil para diretores e roteiristas conseguirem um estágio palatável na criação de Hercule Poirot, na representação dos passageiros do Expresso do Oriente e na dinâmica que nos leva ao assassinato e sua complexa e instigante resolução. Neste telefilme de 2001, o último dirigido por Carl Schenkel, não temos uma boa adaptação do livro. Mas pelo menos temos um quase aceitável drama de mistério.

A trama começa com um irritante e dispensável momento de Poirot (Alfred Molina) em Istambul, resolvendo um crime que nos é colocado às pressas e não tem absolutamente nenhum sentido para a história, além de descaraterizar o personagem, abrindo espaço para um interesse amoroso que volta, ao final, com uma piadinha infame, estragando o tom interessante que o filme ganhara nos últimos 10 minutos. Este padrão simples, didático e mais açucarado que podemos esperar de um telefilme americano adaptando uma obra como Orient Express pode ser visto aqui, o que não significa um completo horror. Bem, ao menos se o espectador aceitar como “compensação” um bom suspense, já que não tem em mãos uma boa adaptação.

Com o objetivo de cortar custos, o enredo foi trazido para “os dias de hoje” (ou os anos 2000), o que pode parecer muito estranho à primeira vista, mas não é algo de grande impacto negativo. Colocando de lado o romance descabido de Poirot no começo e no final da fita, existe um número até compreensível de coisas questionáveis, o que talvez não seja um consolo, mas assisti-la acaba não sendo uma tortura, principalmente em sua sequência mais importante, que é o solilóquio do protagonista ao apresentar as duas versões que imagina como resolução para o caso. E aqui, graças aos bons espíritos dos romances policiais, a produção não colocou nenhuma camada moralista, religiosa ou politicamente correta para guiar esta resolução, que é crua e marcada por um excelente dilema moral, assim como no livro.

Talvez o maior peso deste filme, considerando apenas o seu lado de suspense, seja o fato de não ter um elenco realmente marcante. Evidente que isto tem a ver com o orçamento disponível e poderíamos até apontar que Molina e Leslie Caron (Sra. Alvarado) são presenças notáveis, o que é verdade, mas nenhum dos dois consegue chegar ao tom necessário para interpretar personagens (ou versões de personagens) de Agatha Christie. O Poirt de Alfred Molina é totalmente errado em termos físicos, em sotaque e em comportamento (o ator parece não se esforçar nada para construir os maneirismos do detetive belga). Com muito esforço conseguimos olhar para ele com olhos menos acusadores na sequência final, mas é penoso acompanhar a sua performance na maior parte da obra.

O que deixa o filme “ruim, mas assistível”, apesar dos atropelos que faz em relação ao original, é a maneira interessante com que a parte ruim do volume é resolvida — o miolo do filme chama mais anteção que o miolo do livro — e principalmente pela boa sequência de resolução do caso, que não só guarda o melhor momento de Molina na obra, como também o melhor momento da direção de Schenkel e igualmente da direção de fotografia. Após apresentadas as resoluções a obra volta a cair, mas pelo menos o seu maior momento foi bem filmado.

Esta adaptação traz muitas mudanças em relação ao livro, mas, na medida do possível, diretor e roteirista conseguiram contornar o peso imposto pela literatura e fazer um longa de mistério que vale para ser visto em uma noite sem compromisso. Não é muito Agatha Christie, mas pode garantir algumas centelhas de entretenimento.

Assassinato no Expresso do Oriente (Murder on the Orient Express) — EUA, 2001
Direção: Carl Schenkel
Roteiro: Stephen Harrigan (baseado na obra de Agatha Christie)
Elenco: Alfred Molina, Meredith Baxter, Leslie Caron, Amira Casar, Nicolas Chagrin, Tasha de Vasconcelos, David Hunt, Adam James, Dylan Smith, Peter Strauss, Fritz Wepper, Kai Wiesinger, Natasha Wightman
Duração: 93 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais