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Crítica | Asterix e Latraviata

por Ritter Fan
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Cinco anos depois de A Galera de Obelix e inaugurando o século XXI, Albert Uderzo lançou Asterix e Latraviata, seu penúltimo álbum a frente de sua co-criação com René Goscinny e o 31º geral de histórias únicas no formato tradicional. O grande charme da história é apresentar os pais e as mães de Asterix e Obelix, personagens que só haviam aparecido antes em uma história curta publicada na compilação Asterix e a Volta às Aulas e no álbum especial Como Obelix Caiu no Caldeirão do Druida Quando Era Pequeno. O resultado foi uma tiragem recorde que até hoje permanece como a segunda mais alta da coleção, só perdendo para O Dia em que o Céu Caiu, o imediatamente seguinte.

Mas a história, apesar de não ser a mais fraca escrita e desenhada por Uderzo, nem de longe merece o sucesso que alcançou, pois mais uma vez o desenhista transformando em roteirista não consegue sequer chega a seu próprio ponto mais alto, entregando um álbum sem dúvida divertido, mas que não passa de um passatempo ligeiro, sem a inteligência e o cuidado do texto de Goscinny. Lógico que, a essa altura, os leitores de Asterix já não esperavam nenhuma maravilha de Uderzo e Latraviata veio mais é para suprir um vazio de histórias novas, ainda que o período sem Asterix tenha sido parcialmente preenchido pelo primeiro longa live-action da franquia, Asterix e Obelix Contra César, lançado em 1999.

No álbum, é dia do aniversário de Asterix e Obelix – um retcon inserido em uma história curta também publicada em Asterix e a Volta às Aulas e que completamente desdiz a premissa de Obelix & Companhia, mas temos que aceitar – e os dois recebem visitas de suas respectivas mães, basicamente versões femininas deles próprios, inclusive com roupas idênticas. Elas lhe entregam os presentes dos pais, que ficaram em Condate, um gládio repleto de pedras preciosas para “Ririx” e um elmo romano de ouro para “Obebelix”. No entanto, sem saberem, esses apetrechos pertenciam a Pompeu, inimigo mortal de Júlio César e haviam sido roubados pelo bêbado Alambicus, personagem introduzido em O Presente de César. Claro que o dignatário romano os quer de volta, mas, justamente por não poder mover livremente suas tropas em território romano sem despertar a ira de César, precisa recorrer a subterfúgios para isso e um desses é sugerido por Bonusmalus, prefeito de Condate, depois de prender Astronomix e Obesolix, pais e cópias carbono de Asterix e Obelix: a atriz Latraviata – trata-se, claro, do nome da ópera de Giuseppe Verdi que gira em torno do que hoje chamamos de femme fatale – disfarçar-se-ia de Falbalá, paixão de Obelix introduzida em Asterix Legionário, para infiltrar-se na aldeia e surrupiar os items valiosos.

Ainda que a desculpa para a ação tenha uma sempre bem-vinda base histórica a partir da rivalidade de Pompeu e César, mais uma vez Uderzo não consegue criar um roteiro unificado, fragmentando a narrativa em dois núcleos, um na aldeia com as ações da falsa Falbalá e outro em Condate, onde vemos os pais presos da dupla e, claro, a verdadeira Falbalá. Essa separação mantém-se quase que completamente até o final, com coincidências regendo a história e não momentos impulsionados por seus personagens ao ponto de os próprios protagonistas ficarem um pouco de lado. Claro que muito da graça está na mãe de Asterix tentando arrumar uma esposa para o filho e a de Obelix, apesar de bastante, hummm… grande, querer que seu filho coma saudavelmente, mas isso só segura a narrativa por um tempo, logo tornando-se muletas repetitivas.

Na categoria arte, o trabalho de Uderzo mostra-se novamente muito bom, em especial ao lidar com a família de Asterix e Obelix e ao trazer novamente Falbalá e seu eterno marido musculoso e descamisado Tragicomix. É também particularmente inteligente a forma como Asterix cria o prêmio César, o Oscar francês, entregando uma estatueta de ouro de Júlio César para Latraviata por sua incrível performance, com a personagem, claro, tendo sido baseada em Romy Schneider, a primeira recipiente do prêmio na categoria melhor atriz (em 1976). Além disso, Uderzo cria uma curioso sub-trama envolvendo ninguém menos do que o pequeno Ideiafix que, no final, é visto formando uma família com uma cadelinha do tamanho dele e já com diversos filhotinhos, em um desenvolvimento até surpreendente, já que ele não só quase não aparece na história, como termina sem Obelix saber de seu paradeiro, em uma rara ponta solta nos álbuns.

Asterix e Latraviata é sem dúvida uma diversão e, com certeza teve seu lançamento extremamente aguardado por fãs (eu sei que eu esperei ansiosamente por ele), mas o penúltimo álbum da carreira de Uderzo é apenas mais uma obra morna de sua autoria. Ainda é Asterix, não se enganem, mas é o Asterix Fase 2, digamos assim, bem menos inspirado que o original, que existiu entre 1961 e 1979.

Asterix e Latraviata (Astérix et Latraviata – França, 2001)
Roteiro: Albert Uderzo (baseado em criação de René Goscinny e Albert Uderzo)
Arte: Albert Uderzo
Editora original: Les Éditions Albert René
Editora no Brasil: Editora Record
Páginas: 48

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