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Crítica | Asterix e Obelix contra César

por Ritter Fan
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As conversas sobre uma adaptação live-action de Asterix e Obelix existiram desde que, ainda na segunda metade da década de 60, as primeiras discussões sobre versões audiovisuais das celebradas criações de René Goscinny e Albert Uderzo começaram. No entanto, como os próprios criadores, especialmente Goscinny, eram avessos à noção de um filme com atores reais simplesmente por acharem que não daria certo, o caminho inicial – sem contar com a “anomalia” Dois Romanos na Gália – foi mesmo pela animação, com sete produções entre 1967 e 1994 sendo lançadas até que finalmente, em 1999, chegasse às telonas em uma co-produção caríssima que foi uma das mais caras jamais feitas na França à época, com orçamento superior a 40 milhões de dólares.

O roteiro de Claude Zidi e Gérard Lauzier fez com ainda mais ênfase o que algumas animações já haviam feito, ou seja, beber de mais de um álbum da série, de certa forma exagerando na quantidade de fontes inspiracionais, por assim dizer. A história lida principalmente com o sequestro do druida Panoramix (Claude Piéplu) por Detritus (Roberto Benigni), governador da Gália, a mando de Júlio César (Gottfried John), o que de certa forma segue a linha geral de Asterix, o Gaulês, a história original de Goscinny e Uderzo, com Asterix (Christian Clavier) e Obelix (Gérard Depardieu) partindo ao resgate. No entanto, no lugar de manter a simplicidade, a dupla de roteiristas enxertou no texto a paixão de Obelix por Falbalá (Laetitia Casta) que vemos em Asterix Legionário, a chegada do adivinho charlatão Prolix (Daniel Prévost) à aldeia que é a base para O Adivinho, a conferência dos druidas na floresta dos Carnutos de Asterix e os Godos e até mesmo uma luta em arena que lembra a de Asterix Gladiador, resultando em uma obra inchada que acaba sendo repetitiva e tendo seus acontecimentos laterais convertidos justamente nisso, em subtramas que não levam a lugar nenhum, como por exemplo o relacionamento de Obelix com Falbalá que tem como única função alongar ainda mais um epílogo já alongada, mais nada.

Essa quantidade de subtramas acaba levando o filme a ser bem mais longo do que o necessário, com uma estrutura fortemente episódica, já que não só o roteiro é inábil em criar conexões narrativas sutis entre cada “esquete”, como a direção de Zidi deixa essa característica ainda mais evidente, só faltando mesmo uma divisão formal em capítulos ou uma separação com tela preta entre cada pequena história. Por outro lado, o design de produção foi acertadíssimo na transposição dos quadrinhos para a adaptação audiovisual, com excelentes cenários, figurinos, maquiagem e cabelo que fazem uma bela ponte entre as duas mídias. Da mesma maneira, a manutenção do tom cartunesco nos diálogos e nas sequências de ação, com por exemplo nos famosos socos que fazem os romanos voarem ou o exagero teatral das formações das legiões de Júlio César em contraposição à bagunça que é a “estratégia” de ataque dos irredutíveis gauleses, é outro grande acerto, o que garante diversão mesmo na repetição, ainda que o foco do longa seja inegavelmente as crianças pequenas, ou seja, diferente da pegada mais sofisticada dos clássicos álbuns.

A escalação foi também inspirada, especialmente, claro, no que se refere a Asterix e Obelix. Apesar de nem Clavier e Depardieu terem, aqui, grandes atuações, eles encarnam os espíritos de seus respectivos personagens, sem jamais realmente parecer um completo absurdo ver os dois na versão live-action. Em outras palavras, os dois atores tornam fácil ao espectador “comprar” a premissa de transposição de quadrinhos em filme sem, porém, perder as caricaturas e os histrionismos das HQs. Outra excelente escolha foi a de Gottfried John como Júlio César que, com um trabalho de maquiagem certeiro em seu nariz, ele parece literalmente destacado das páginas dos álbuns. Quem, porém, não funciona de jeito algum mesmo em um ambiente literalmente histérico ao seu redor é Roberto Benigni como o verdadeiro vilão Detritus. O ator – se é que posso classificá-lo assim – parece, como na maioria de seus trabalhos, não se conformar em não ser o protagonista e faz o máximo para gritar, pular e fazer caretas sem que ele tenha a elegância de comediantes corporais que vieram antes dele, de Charles Chaplin a Jerry Lewis, passando por Steve Martin e Max Linder. Ao basicamente exigir que os holofotes mirem nele, algo que o diretor pareceu achar uma boa ideia – ou não tinha escolha -, muito da força do filme se esvai.

A expansão da franquia Asterix e Obelix para o live-action merecia um começo melhor. Ainda é um filme simpático e divertido, que vale pelas caracterizações dos amados personagens, mas o roteiro em capítulos e uma direção que não consegue dar coesão à narrativa acabam deixando o longa apenas como uma produção corajosa, mas cheia de problemas.

Asterix e Obelix contra César (Astérix & Obélix contre César – França/Itália/Alemanha – 1999)
Direção: Claude Zidi
Roteiro: Claude Zidi, Gérard Lauzier (baseado em criação de René Goscinny e Albert Uderzo)
Elenco: Christian Clavier, Gérard Depardieu, Roberto Benigni, Michel Galabru, Claude Piéplu, Daniel Prévost, Pierre Palmade, Laetitia Casta, Arielle Dombasle, Sim, Marianne Sägebrecht, Gottfried John, Jean-Pierre Castaldi, Jean-Roger Milo, Jean-Jacques Devaux, Hardy Krüger Jr.
Duração: 109 min.

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