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Crítica | Asterix e Seus Amigos: Uma Homenagem a Albert Uderzo

por Ritter Fan
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Em 2007, no ano em que Albert Uderzo completou 80 anos de idade – coincidentemente também a data que marcou os 30 anos do falecimento de René Goscinny -, Sylvie Uderzo, juntamente com a editora Les Editions Albert René, decidiram homenagear o desenhista com um álbum comemorativo que reuniria o maior número possível de roteiristas e artistas de quadrinhos de todo o mundo. O resultado foi Asterix e Seus Amigos: Uma Homenagem a Albert Uderzo que, em pouco mais de 60 páginas, congregou nada menos do que 34 mentes criativas das mais variadas possíveis que emprestaram suas visões e estilos particulares aos irredutíveis gauleses criados em 1959 pela dupla Goscinny e Uderzo.

Composto de histórias de uma, duas e três páginas (com apenas uma de quatro, esta pelo alemão Brösel) ou ilustrações de página inteira (apenas três, de René Loustal, Juanjo Guarnido e Midam), o álbum é uma das poucas oportunidades existentes para vermos Asterix, Obelix e companhia desenhados em estilos diferentes do original, já que Uderzo sempre foi muito estrito a como trabalhar suas criações, passando até mesmo instruções muito claras a seu sucessor Didier Conrad, muito na linha do que Maurício de Sousa sempre fez (e continua fazendo) até finalmente permitir a existência da linha Graphic MSP. Como tudo foi, ao que consta, uma grande surpresa ao desenhista, a liberdade foi absoluta, algo essencial para que o resultado fosse valioso como efetivamente acabou sendo, o que contou até mesmo com crossovers muito simpáticos com outros personagens clássicos como Lucky Luke, Natacha, Titeuf, Michel Vaillant e até mesmo a Família Pato, da Disney.

Considerando a natureza do álbum e o propósito da presente crítica, não abordarei cada pequena história. Em linhas gerais, cada autor tenta trazer “seus universos” para as histórias dos gauleses ou inserir os gauleses em histórias de “seus universos” e, na grande maioria das vezes, o resultado é excelente, mesmo que grande parte das vinhetas seja autoconsciente de que são homenagens a Albert Uderzo, muitas vezes com a inserção do artista nas histórias ou, pelo menos, a menção de seu nome de uma forma ou outra. Apenas por raras vezes, como em Era Uma Vez na Amerix, da dupla Achdé e Laurent Gerra, a história é exclusivamente dos gauleses – sempre no contexto do universo particular criado pelos artistas, claro – sem uma abordagem explícita de comemoração. Nos poucos exemplos em que as histórias não funcionam, como em Ric Hochet e o Mistério do Tempo, de Tibet e André-Paul Duchâteau, isso se dá porque a homenagem toma conta completamente da narrativa, afetando sua fluidez e lógica interna.

Mesmo com uma empreitada muito bem-sucedida, pois não deve ter sido fácil reunir tantos talentos de várias partes do mundo de uma vez só, uma coisa me incomoda profundamente na concepção do álbum: o foco exclusivo em Albert Uderzo. Sim, sei que o ponto era comemorar os 80 anos do desenhista e sei que a co-criação dele com Goscinny ganharia, dois anos depois, uma homenagem específica em O Aniversário de Asterix e Obelix – O Livro de Ouro, mas considerando que 2007 também foi o ano que marcou os 30 anos da morte de Goscinny, não consigo entender porque não fizeram explicitamente uma homenagem dupla. É bem verdade que alguns dos talentos fizerm a fineza de citar o grande roteirista no texto ou até mesmo de inseri-lo fisicamente em suas histórias, mas a impressão é de que essa foi uma liberdade “permitida” e não um dos focos, o que, para mim, beira à falta de respeito.  Cheguei até a pensar em deixar esse meu incômodo afetar a nota final da presente crítica, mas decidi me conter e excluir esse elemento de minha conclusão final em HALs, ainda que eu não pudesse me furtar de comentar aqui.

Asterix e Seus Amigos: Uma Homenagem a Albert Uderzo, que deveria na verdade ter sido uma homenagem também a René Goscinny, é uma divertida maneira de ver Asterix, Obelix e os demais irredutíveis gauleses na voz e nos traços dos mais variados artistas, em um exercício que deveria ser repetido outras vezes, potencialmente com desenhistas e roteiristas orientais, africanos e sul-americanos (aqui de nosso continente só há um, o grande Vicar). Uma bela ideia de Sylvie Uderzo executada de maneira primorosa.

Asterix e Seus Amigos: Uma Homenagem a Albert Uderzo (Astérix et ses Amis: Hommage à Albert Uderzo – França, 2007)
Roteiros e artes: René Loustal, Juanjo Guarnido, Midam, Christophe Arleston, Jean-Louis Mourier, Zep, William Vance, Jean Van Hamme, François Boucq, Baru, Grzegorz Rosiński, Milo Manara, Turf, François Walthéry, Laudec, Raoul Cauvin, Achdé, Laurent Gerra, Beltran, Serge Carrère, Brösel, Émébé, Jidéhem, Dany, Cuzor, Kathryn Immonen, Stuart Immonen, Tibet, André-Paul Duchâteau, Vicar, Jean Graton, Claude Derib, Batem, Forges, David Lloyd, Henk Kuijpers, Tarquin (baseado em personagens de René Goscinny e Albert Uderzo)
Editora: Les Editions Albert René
Editora no Brasil: Editora Record
Páginas: 64

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