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Crítica | Asterix entre os Bretões (1986)

por Ritter Fan
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Em termos de longas animados de Asterix e Obelix e talvez para compensar a relativa falta de álbuns novos já que Albert Uderzo, tendo assumido também os roteiros depois do falecimento de René Goscinny, passou a produzir muito mais lentamente, a década de 80 foi a mais pujante, ainda que isso não signifique muita coisa. Mesmo assim, logo no ano seguinte ao ótimo Asterix e a Surpresa de César, eis que mais um filme foi lançado, desta vez adaptando direta e exclusivamente apenas um álbum da série: Asterix entre os Bretões, publicado originalmente exatamente 20 anos antes, em 1966.

Considerando-se os quatro longas anteriores, o quinto reúne a fidelidade de Asterix, o Gaulês com a qualidade da animação de Asterix e a Surpresa de César, resultando, pela primeira vez, em um adaptação exata de um dos álbuns, algo que só realmente ocorreu na primeira animação, com um impecável trabalho técnico que transpõe, com excelência, às páginas para o celuloide. Além disso, o roteiro de Pierre Tchernia, encontra o equilíbrio perfeito, extirpando a narrativa de barrigas narrativas e usando o material do álbum original com muito cuidado e carinho de forma a criar uma história coesa, de ritmo excelente que, em suma, é a que mais se assemelha à leitura de uma das obras clássicas dos irredutíveis gauleses.

Na história, Cinemax, primo distante de Asterix, procura sua ajuda para que, com a poção mágica, ele possa salvar sua aldeia no que um dia seria a Inglaterra. Feliz em ajudar, Asterix, Obelix, Ideiafix e o fleumático britânico que aprecia “quente água”, partem para a ilha além do Canal da Mancha carregando um barril inteiro de poção mágica com os romanos logo atrás, desesperados para impedir que mais uma aldeia passe a resisti-los. Depois que os 10 ou 15 minutos introdutórios que estabelecem a narrativa acabam, começa então a aventura em si que se vale de apenas um truque repetido diversas vezes, ou seja, o barril saindo da posse dos gauleses. Mas não escrevo isso de maneira negativa, muito ao contrário, pois Tchernia, usando as maravilhosas ideias de Goscinny, mantém tudo muito fresco, sem mesmices e ao mesmo tempo abordando as esquisitices britânicas, como comer tudo com molho de menta, beber água quente com um pouco de leite, jogar rugby, “dirigir” do lado errado e assim por diante, incluindo, claro, o clima lúgubre do país.

São justamente as estocadas nos hábitos britânicos – inclusive a invenção do chá, que fica por conta de Asterix, claro! – inseridas organicamente ao longo de cada “episódio” que estabelecem primeiro o ritmo constante e certeiro da obra e, depois, as novidades que vão pontilhando a animação, de maneira a nunca parecer que não estamos vendo mais do que a mesma coisa de diversas maneiras diferentes. Muito da pegada energética do longa se deve à direção cuidadosa de Pino Van Lamsweerde em seu único longa cinematográfico, já que ele consegue dar a cada sequência exatamente a duração que ela precisa ter, sem mais, nem menos. Isso pode parecer uma afirmação genérica, mas, muito ao contrário, trata-se de uma arte que poucos diretores conseguem aperfeiçoar e ele, aqui, mostra enorme controle sobre sua decupagem, o que acaba criando a exata impressão de uma obra uniforme, constante, que nunca vai além do que deve.

Mais uma vez, a voz de Asterix fica por conta de Roger Carel, em seu trabalho clássico e inesquecível como o pequeno gaulês. Pierre Tornade, que originalmente fez a voz de Abracurcix e que passou a dar vida a Obelix na animação anterior, está também de volta para o gordo (gordo não!) gaulês, em um trabalho que só não é tão bom quanto o outro porque Obelix tem uma participação falada menor aqui. Por seu turno, Graham Bushnell está hilário como Cinemax, um exato contraste à dupla fanfarrona e brigona de gauleses vitaminados.

Asterix entre os Bretões, o segundo de três filmes animados da década de 80, consegue ser uma evolução em cima do já excelente Asterix e a Surpresa de César, algo que chega a ser surpreendente considerando que o intervalo entre obras foi minúsculo. Além disso, o longa mostra que a “fórmula” de se adaptar muito fielmente um álbum de cada vez tem enorme potencial de funcionar quando falamos de Asterix e Obelix. Pena que são raras as vezes em que isso efetivamente aconteceu.

Asterix entre os Bretões (Astérix chez les Bretons – França/Dinamarca, 1986)
Direção: Pino Van Lamsweerde
Roteiro: Pierre Tchernia (baseado em obras de René Goscinny e Albert Uderzo)
Elenco: Roger Carel, Pierre Tornade, Graham Bushnell, Pierre Mondy, Maurice Risch, Roger Lumont, Nicolas Silberg, Albert Augier, Paul Bisciglia, Bertie Cortez, Gérard Croce, Alain Doutey, Michel Elias, Michel Gatineau, Henri Labussière, Henri Poirier, Serge Sauvion
Duração: 79 min.

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