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Crítica | Astronauta – Assimetria

por Luiz Santiago
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Chegamos à 14ª publicação da Graphic MSP e a sensação de que o selo precisa aposentar, por um bom tempo, o Astronauta, sob o pincel e o texto de Danilo Beyruth, nos atinge em cheio. Isso e o fato de que já é tempo de termos um intervalo menor entre os títulos e que mais personagens (inéditos no projeto) ganhem suas versões fora do traço-fixo estabelecido por Mauricio de Souza e em textos destinado ao público jovem e adulto.

A leitura de Astronauta – Assimetria (2016) mostra uma interessante melhora na narrativa de Beyruth, que novamente desenha e cria o enredo para o personagem, tendo como adição o excelente trabalho de cores de Cris Peter, que chega ao ápice no grande bloco da história que se passa em Titã (ou Saturno VI), a maior e icônica Lua de Saturno, segunda maior do nosso Sistema Solar, depois de Ganimedes, a gigante Lua de Júpiter.

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Assim é fácil fugir dos problemas…

O roteiro funciona de forma independente dos outros dois títulos já publicados do Astronauta, mas para quem leu Singularidade, haverá uma clara continuação das ações do herói, que resolve dar uma pausa em suas explorações e aproveitar um pouco a vida tranquila na Terra, observando as crianças, o pipoqueiro, as amenidades gostosas da vida que só quem passou bastante tempo distante delas consegue apreciá-las com se fosse pela primeira vez. Esse início é excelente. Deslocar o personagem para um ambiente diferente do que tínhamos antes tem um impacto bastante positivo no leitor. Mas isso dura pouco. E o problema nem é o fato de durar pouco, mas sim a absurda rapidez e o motivo “solto-mas-nem-tanto” que dá origem à decisão do Astronauta em voltar à sua vida de desbravador espacial.

Superada a brusca mudança de tom no início da história, o leitor consegue aproveitar a maior parte do texto e igualmente apreciar a arte de Danilo Beyruth, agora realizada de forma digital. Aos poucos, elementos visuais e textuais de Magnetar e Singularidade aparecem, revestidos de uma declarada homenagem do autor ao monstruoso Jack Kirby. Os eventos em Titã são a melhor parte da história, tendo apenas um ponto que vai alcançar de forma bem diferente os leitores e certamente terá impacto decisivo para uma maior ou menor aceitação de toda a história: a questão do cruzamento de realidades.

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Isabel (ou Isa) deixando sua marca logo no início.

Embora eu aprecie a tentativa do autor em ampliar o Universo do Astronauta (e ele consegue um resultado tremendamente positivo com isso no finalzinho do álbum… Uma pena que por um caminho não tão bacana), as explicações a toque de caixa não deixam de irritar. Talvez se tivesse diminuído as façanhas heroicas contra a Entidade e seu Guardião em Titã, ou a bobagem inominável que foi a “busca por uma Entidade parceira” (pior coisa de toda a trama, algo risível mesmo), o autor tivesse conseguido muito mais coisas com o roteiro, que ganha a tag de possibilidades infinitas dada a manipulação do espaço e do tempo, mas nem a superfície do tema é devidamente explorada.

Temos apenas o gostinho de um bom resultado ao final da graphic novel. Neste ponto, a decisão do autor em optar por um “elemento triste e fofo” foi um grande acerto, especialmente pela dupla adorável que se forma a partir daí e pela não definição de um lugar no espaço. O ponto de chegada da história (ou o caminho para algum ponto, dependendo de como o autor deve seguir com a saga a partir daqui — mas espero que demore muito tempo para que outro volume do Astronauta volte a ser produzido) é um primor por todas as novidades que traz e acaba fazendo valer os obstáculos atravessados durante a leitura. No todo, estamos falando de um volume um pouco melhor que as outras duas histórias do Astronauta no selo. Mas ainda há muita coisa para ajustar. Que isso seja feito na continuação, pelo menos uma excelente premissa ela já tem.

Astronauta – Assimetria (Brasil, 2016)
Graphic MSP #14

Panini Books e Mauricio de Souza Editora
Roteiro: Danilo Beyruth
Arte: Danilo Beyruth
Cores: Cris Peter
96 páginas

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