Home TVEpisódio Crítica | Ataque dos Titãs (Attack on Titan) – 4X03: Porta da Esperança

Crítica | Ataque dos Titãs (Attack on Titan) – 4X03: Porta da Esperança

por Kevin Rick
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Porta da Esperança

  •  spoilers. Leiam, aqui, a crítica dos episódios anteriores.

Fiquei surpreso com a abordagem do roteiro da série de manter a mesma escolha narrativa do episódio anterior, com este enfoque em Reiner, pois acreditava que seu desenvolvimento seria algo mais periódico, com pequenos segmentos dentro dos próximos capítulos, elaborando sua psique fragmentada baseada na concepção apresentada, mas o que temos são outros 20 minutos com ele no centro da narrativa. Eu já tinha percebido como Isayama dá uma certa preferência pra ele fora do seu quarteto principal de Eren, Mikasa, Armin e Levi, mas o estudo de personagem do Titã Blindado rapidamente têm colocado ele no pódio de melhor desenvolvimento do anime. Estava esperando um episódio mais explosivo e frenético, mas a inesperada continuação da construção dramática pessoal do genocida aflito é muito bem-vinda!

Na crítica anterior, disse com receio que o ápice do seu arco havia sido apresentado, e certamente estava errado, com Porta da Esperança abrindo a porta narrativa para Reiner novamente ganhar seu momento de brilhar na série, ou entristecer dependendo do ponto de vista, adentrando mais ainda no abismo psicológico e depressivo advindo do seu passado horrendo. Para sair um pouco do mesmo mote, Isayama continua essa elaboração angustiante da perspectiva através não só do Reiner, mas finalmente exibindo o lado da história completa dos invasores de Paradis, em um belíssimo capítulo de flashback. O paralelo entre os dois grupos de candidatos a Titãs é algo que o autor demasiadamente quer que a audiência note, dentro da culpa, tanto de Reiner na proteção dos infantes, quanto de Falco, por não conseguir salvar Gabi. No entanto, existe algo mais ali, e não apenas a perspectiva dos Eldianos “bons” dos descendentes do diabo, mas a temática da influência proveniente do círculo social.

Se isso não fica claro no flashback, Isayama evidencia o argumento do domínio de discernimento advindo do ambiente vivido no discurso final do episódio (retornaremos a ele num instante). É uma sacada bem bacana do autor, já que a perspectiva e as consequências das ações sempre foram um tópico da obra, mas a exibição do modo que crescemos na influência do que fazemos foi pouco elaborada. Claro que o que acontece em nossa vida nos molda, e é assunto batido na animação, na história de vingança do Eren, de dívida da Mikasa, de busca de propósito do Levi, mas as implicações do discurso governamental sempre foram vistas unilateralmente pela revolta e golpe de estado em Paradis do elenco principal. A corrupção era assunto anteriormente, contudo, em Marley, vemos as consequências da corrupção do poder dentro dos parâmetros do senso de julgamento como servidão mental de um discurso de ódio, pois o governo das muralhas mantinham suas maquinações em segredo, mas Marley utiliza o aspecto histórico descaradamente como desculpa para atos hediondos e contenção das massas. Já houveram indícios nessa temporada da matéria, mas Porta da Esperança utiliza a trama das crianças Titãs para aprofundar-se no tema e adicionar a contradição de tais escolhas baseadas em raciocínios errôneos no arco de culpa do Reiner.

Isayama continua preenchendo o horror da perspectiva com novas visões sociais nesta temporada tão focada no preconceito racial, adicionando camadas políticas no controle abusivo dos marleyanos. Tudo isso cria uma atmosfera de piedade e questionamentos de próprias posições sociopolíticas que tomamos ao analisar o outro, já que não sabemos as circunstâncias que foram criados. Afinal, assim como Eren, compreensivelmente, julgou Reiner e Bertholdt, a audiência provavelmente o fez, e mesmo que os eventos não sejam justificados, o autor expõe como eles não podem ser analisados superficialmente. E saindo um pouco do olhar social, é esplêndido como o roteiro manuseia o pensamento contradito na construção do relacionamento do grupo de crianças Titãs no flashback, trazendo mais profundidade para Annie e Bertholdt, adicionando luz aos acontecimentos com os irmãos Galliard e Marcel. Todo esse núcleo dos candidatos a Titãs é extremamente interessante e realizado com sucesso, tanto que estou ansiando por mais desdobramentos de Pieck e Zeke.

A cena final curta nos diz muito do que vem por aí, com – e isso não é spoiler do mangá, porque não poderia ser mais óbvio – Eren sedimentando tudo que foi apresentado no episódio, usando os soldados como exemplo, abrindo uma janela de oportunidades para o anime navegar no paralelo de Paradis ser o invasor, e como isso poderá afetar futuramente nosso núcleo principal de personagens, como tem afligido Reiner e os soldados Eldianos no inferno psicológico ou como uma porta de esperança. Esse é um episódio com várias camadas de crítica social, e mal posso esperar o contínuo desenvolvimento de tais temas no universo fantástico de Attack on Titan, que também urge por um pouquinho de ação, pois ninguém é feito de ferro (he,he).

Attack on Titan – 4X03: Porta da Esperança (進撃の巨人, Shingeki no Kyojin – 希望の扉/Kibō no Tobira, Japão, 20 de Dezembro de 2020)
Criado por: Hajime Isayama
Direção: Kōki Aoshima, Hiromi Nishiyama
Roteiro: Hajime Isayama, Hiroshi Seko
Elenco:  Takehito Koyasu, Yoshimasa Hosoya, Ayane Sakura,  Natsuki Hanae, Toshiki Masuda, Manami Numakura, Yûmi Kawashima, Ayumu Murase, Masaya Matsukaze, Jirô Saitô, Tôru Nara, Yû Shimamura, Yûki Kaji, Kazuhiro Yamaji
Duração: 24 min.

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