Home TVEpisódio Crítica | Ataque dos Titãs (Attack on Titan) – 4X05: Declaração de Guerra

Crítica | Ataque dos Titãs (Attack on Titan) – 4X05: Declaração de Guerra

por Kevin Rick
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Declaração de Guerra

  •  spoilers. Leiam, aqui, a crítica dos episódios anteriores.

Antes de analisar Declaração de Guerra, que tal tirarmos um tempinho para recuperar o fôlego? E depois disso, levantar – ainda boquiabertos, obviamente – e bater palmas para Hajime Isayama. Fizeram isso? Eu sei que eu fiz. E após essa saraivada de emoção, excitação e fascínio, podemos sentar e tentar, somente tentar, compreender como um gênio trabalha com Shounen.

Pensei em várias formas de como estruturar a crítica deste episódio, mas acredito que meu argumento se resume, superficialmente, a uma ideia: a desconstrução do sonho do protagonista Shounen. Primeiro que, muitos consideram Shounen ou Shōnen apenas uma demografia, e, em sua essência, é exatamente isso, até porque a palavra significa “quadrinhos para meninos”, mas sou da vertente que os clichês, convenções e escolhas comuns desse estilo de obra acabaram desenvolvendo o termo para gênero. E dentro dessa unidade estilística, começamos a ter animes/mangás que descontroem os estereótipos e tendências esperadas pelo público. Sempre defendi como Attack on Titan, em linhas gerais, é um Shōnen, a despeito da violência gráfica, não apenas por sua demografia, mas pelo fato de, em seu cerne, seguir moldes e características desse estilo japonês, mas manuseando-a dentro de uma história madura, que lembra obras Seinen. Não vou explicitar todos os elementos que Isayama utiliza do Shōnen, mas um deles, e talvez o mais importante, seja o sonho, dentro das “leis” deste Universo, impossível. No caso de Eren, o de matar todos os Titãs.

Ainda que não concorde comigo em relação à evolução do Shōnen para gênero, uma coisa é clara: a desconstrução/progresso do objetivo de Eren desde que sua mãe foi assassinada. A intenção sempre foi matar os inimigos que, até certo ponto da narrativa, eram monstros gigantes descerebrados, mas ao longo de sua jornada, o protagonista foi descobrindo a dimensão de seus opositores, primeiramente em Marley e, agora, o mundo todo. Ora, seu sonho não mudou, só distinguiu a face rival, certo? Nem tanto, a transformação do ideal de Eren, normalmente sonhos estes inabaláveis e inflexíveis até o final da jornada do herói, baseia-se no entendimento do protagonista de que ele é o inimigo. Ele sempre foi e ele sempre será, logo, para ser o herói de Eldia, Eren precisa ser o vilão global.

A partir do momento que Eren infiltrou-se em Marley e viu como os povos não diferem de Eldia, com pessoas boas e ruins, vilões e inocentes, e, ainda assim, decidiu, deliberadamente, atacá-los, ele renega sua humanidade em prol de sua nação. É por isso que seu diálogo com Reiner é tão interessante e assustador, pois sequer é um debate ideológico, mas apenas o entendimento e, mais insano ainda, a absolvição em sua visão da ação trágica que levou à morte de sua mãe. Percebem como seu sonho diverge de ódio e aniquilação do adversário, indo de encontro com a proteção do seu povo? Estamos vendo nosso protagonista se tornar um genocida diante de nossos olhos, e o mais absurdo, estamos torcendo por ele.

Adoro como o discurso de Eren encapsula perfeitamente todas as temáticas da obra que lentamente foram saindo do ocultismo, desde a assimilação de como não existe “lado certo” na narrativa, a compreensão que personagens outrora odiados como Reiner são vítimas situacionais, a consciência do preconceito como visão eterna das outras nações e o próprio conformismo com a violência prestes a ser cometida. E dentro desse discurso, adoro como o anime faz um paralelo com a palestra de Tybur, um líder nato que, de certa forma, tem o mesmo ideal que Eren, mas encontra-se na oposição, e aos pouquinhos vai corroborando a fala do protagonista, ao mesmo tempo que somos expostos ao espectro emocional de Reiner, a começar pelo choque, depois medo, culpa e, por fim, desespero, pois entende o que está para acontecer, e tenta, por um minuto, usar o emocional para mudar a ideologia de Eren, o único momento de “embate” nesse sentido de ambos.

Até consigo entender melhor o ímpeto do episódio anterior em construir a inocência e a empatia com Marleyanos e os Eldianos “bons”, mas é interessante notar como esse episódio segue o mesmo molde de ser mais elaborativo, com um cliffhanger, mas, diferentemente do quarto capítulo, consegue mover a narrativa geral enquanto tem algo a dizer na trama contida do episódio. A declaração de guerra de Attack on Titan é perfeição, simples e puramente perfeição. Um dos melhores episódios da série, girando completamente a perspectiva de Eren. E, agora, que venha a guerra.

Obs: Como viram, o título da crítica utilizou a tradução brasileira, que, por algum motivo (costume), eu estava usando apenas em inglês. Um leitor me pontuou isso, e decidi retificar esse probleminha, que também será arrumado nos textos dos episódios anteriores. É por isso que a interação é bacana!

Attack on Titan – 4X05: Declaração de Guerra (進撃の巨人, Shingeki no Kyojin – 宣戦布告 Sensen Fukoku, Japão, 10 de janeiro de 2021)
Criado por: Hajime Isayama
Direção: Teruyuki Omine
Roteiro: Hajime Isayama, Hiroshi Seko
Elenco:  Takehito Koyasu, Yoshimasa Hosoya, Ayane Sakura,  Natsuki Hanae, Toshiki Masuda, Manami Numakura, Yûmi Kawashima, Ayumu Murase, Masaya Matsukaze, Jirô Saitô, Tôru Nara, Yû Shimamura, Yûki Kaji, Kazuhiro Yamaji
Duração: 24 min.

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