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Crítica | Ataque dos Titãs (Attack on Titan) – 4X14 e 15: Selvageria / A Única Salvação

por Kevin Rick
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A Única Salvação
Nota de ambos os episódios

  • Há spoilers. Leiam, aqui, a crítica dos episódios anteriores.

Como a maioria da audiência de Attack on Titan deve saber agora, a transmissão da semana passada foi interrompida para a cobertura do fatídico terremoto que acometeu a província de Wakayama. Dessa forma, o final do décimo quarto episódio foi adiado para essa semana, sendo, felizmente, lançado em conjunto ao penúltimo capítulo da temporada, que, aliás, certamente não será o ano final do anime. Isso já estava bastante óbvio, mas tornou-se um fato completo após o preview do último episódio – duvido muito que conseguirei me segurar de ler o mangá até o lançamento de alguma continuação audiovisual para a reta final da história, que podem ter certeza… vai demorar muito para chegar, seja em forma televisiva ou filme.

Dito isso, pensei em trazer a crítica da dupla de episódios separadamente, mas eles são tão amarrados, funcionando como uma extensão da (finalmente) explicação de ações dos irmãos Jaeger, que decidi juntar tudo num único texto. Selvageria não perde tempo e nos lança no dramático embate de Eren, Mikasa e Armin. Confesso que tenho duas perspectivas dessa cena: a primeira sendo completa apreciação pela forma que o momento vinha sendo construído, nessa mescla do amor/confiança de Mikasa e Armin com um temor desconfiado em relação às ações de Eren, completamente arrebatado pela atual figura ambígua do protagonista. Culpa, desdenho, a questão da subserviência Ackerman, a “traição” de Eren, vemos de tudo um pouco, em uma exposição de diálogo muito emocionante e negligente por parte do protagonista. Tudo em prol da personificação messiânica que o próprio personagem parece ter tomado para si como um manto de responsabilidade em sua sabedoria superior. O fato dele se irritar ao ser chamado de “escravo” expõe o quão frágil é sua verdadeira ideologia, assim como assume sua total contradição.

A segunda é um pouco mais polêmica, apesar de não afetar meu apreço pelo momento – como visto na nota acima -, pois é um “problema” posterior. Fiquei pensando se essa (des)construção de Eren estava, nessa cena, sendo feita de forma orgânica. Veja, tudo feito aqui em relação à sua visão da guerra, da sociedade, o genocídio e tudo de horrível no meio disso, faz… sentido. Não é justificado ou “correto”, mas faz sentido narrativamente para o arco do personagem. Contudo, esse tratamento de Eren para com Armin e Mikasa vai contra a identidade do personagem, independente da forma que suas escolhas são moldadas, para bem ou pior, a maneira que ele enxerga sua “família” é uma característica essencial de Eren – percebam como sua reação à morte de Sasha é importante nessa demonstração do que mudou e do que manteve-se da personalidade dele. A partir do momento que isso é transformado radicalmente, a despeito de ser ótimo na sua “vilanização”, não faz exatamente sentido narrativamente para o personagem. Novamente, isso pode ter sido um modo de desapego ou afastamento forçado de Eren, e configura um problema posterior, mas que é necessário pontuar, pois uma coisa é mudar seu personagem organicamente, e outra é simplesmente esquecer de tudo feito até aqui.

Ufa, agora que tirei isso do peito, podemos falar do melhor elemento do episódio: a dinâmica de Levi e Zeke. O que começou como ódio – e ainda é -, tomando proporções obsessivas para o baixinho implacável, e nessa temporada assumiu até um caráter cômico de competição – o terror de Zeke é impagável -, ganha seu clímax na sensacional sequência de eventos da floresta.  Se pudesse resumir o desencadeamento de ações dessa cena, seria recompensa. Recompensa de um roteiro que preza pela construção minuciosa a longo prazo, tanto por parte do líquido espinhal e a transformação dos soldados em Titãs, até, em maior força emocional, a reação de Levi. O sacrifício em prol do bem da humanidade com uma pontinha de egoísmo… isso lembra alguém? Adoro essa questão cíclica que Isayama trabalha, muito bem feita na culpa, admiração e remorso de Levi para com Erwin e suas ações até o momento atual, remetendo-se a um belo discurso do personagem lá no início da terceira temporada, no qual ele diz não saber se o que faz é correto, só podendo agir de acordo com sua mentalidade, arcando com as consequências.

Outro elemento importante desse episódio é a exposição da revolução, rapidamente transposta pelo fanatismo radical de Floch, temática levada ao episódio seguinte, A Única Salvação, no cruel flashback de Zeke.  O modo como Isayama pega a infância e a molda em torno do ambiente é tema frequente da série, feito com Eren, Reiner, entre vários outros, e atualmente com Gabi. Personagens mudam, evoluem, se tornam piores ou melhores, mas independente disso, sua forma de enxergar o mundo trágico da obra é moldado pelo seu primeiro contato com uma determinada ideologia ou então algum acontecimento dramático na infância, até que algum conflito externo e/ou interno quebra a visão preto no branco dos personagens, no conceito geral do show de ser “cinza”. Todavia, Zeke é diferente. Ele nunca verdadeiramente comprou a luta dos pais, ou o próprio conceito da guerra antes mesmo de encontrar seu verdadeiro mentor, Tom Ksaver. Isso o torna uma anomalia no cânone do anime, um personagem que é sim trágico como tantos outros, um filho da revolução obsessiva, mas que sempre enxergou o conflito, ou melhor dizendo, o sofrimento, fora da “caixinha” comum – me lembra Falco nesse quesito -, encontrando uma resposta inacreditável para o fim da dor de seu povo.

Gostaria de confessar meu ego inflado, pois na minha mente o final da obra estava superficialmente desenhado. Claro que não sei o desfecho ou os meandros da história, mas senti que a pintura do final da série estava bem clara: a tentativa de genocídio por parte de Eren e sua facção, enquanto duas frentes tentariam pará-lo, sendo os remanescentes do círculo de amizade do protagonista e os inimigos Marleyanos. Daí, Isayama inverte tudo com um de seus conceitos mais… ferrados da obra. Peço perdão pela palavra, mas eutanásia de um povo como meio de liberdade? É um conceito tão vil e impiedoso, dentro de uma visão completamente egoísta de Zeke e Eren, mas também tão triste. O fato de enxergarem o fim do sofrimento no “não nascer” abre a última porta de culpa trágica da obra. A vontade de não existir, indo além ao impor isso a todos os Eldianos, em uma visão deturpada de misericórdia. Fiquei atônito com a ideia, e mais ainda por sentir um pontinha de sentido no plano dos irmãos, mentalidade essa causada pelo ótimo flashback, que realmente questiona o espectador de qual é a possível saída desse turbilhão de ódio eterno.

Ademais, adorei os elementos de mitologia desses episódios. Todo o núcleo da Titanologia, a questão de memórias, o poder misterioso de mudar o código genético dos Eldianos, a quebra da renúncia real à guerra, e por aí vai, preenchem muito bem o final próximo da temporada nesse conceito absurdo de “revolução” contra seu próprio povo como salvação, a única salvação. Não sei se Eren comprou essa ideia por completo, pois o personagem é uma incógnita no momento, mas, caramba, que maneira de pegar a trama de revolta e dar um twist mórbido e fantástico. Attack on Titan em seu melhor. Que venha o final de temporada. A Única Salvação A Única Salvação

Attack on Titan – 4X14 e 15: Selvageria / A Única Salvação (進撃の巨人, Shingeki no Kyojin – 暴悪 Bōaku / 唯一の救い Yuiitsu no Sukui, Japão, 22 de março de 2021)
Criado por: Hajime Isayama
Direção: Jun Shishido (4X14); Mitsue Yamazaki, Yoho Ishikawa (4X15)
Roteiro: Hajime Isayama, Hiroshi Seko
Elenco:  Takehito Koyasu, Yoshimasa Hosoya, Ayane Sakura,  Natsuki Hanae, Toshiki Masuda, Manami Numakura, Yûmi Kawashima, Ayumu Murase, Masaya Matsukaze, Jirô Saitô, Tôru Nara, Yû Shimamura, Yûki Kaji, Kazuhiro Yamaji, Hiroshi Kamiya, Romi Pak, Kishô Taniyama, Hiro Shimono, Yû Kobayashi
Duração: 24 min. (cada)

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