Home TVEpisódio Crítica | Ataque dos Titãs (Attack on Titan) – 4X19: Dois Irmãos

Crítica | Ataque dos Titãs (Attack on Titan) – 4X19: Dois Irmãos

Dois lados da mesma moeda.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, a crítica dos episódios anteriores.

Eu sempre achei vinte minutos por semana de AoT uma crueldade. O episódio passa como um raio e você se sente roubado de mais tempo assistindo a obra – aliás, é um dos motivos que prefiro maratonar animes. Estou compartilhando esse sentimento (que muito provavelmente vários de vocês lendo sentem), porque Dois Irmãos não só apenas se enquadra nesse aspecto, como também passa a impressão de ter acontecido tanta coisa que é impossível a minutagem ser só vinte minutinhos. Ritmo narrativo é um artifício a ser apreciado quando bem construído (seja lentidão ou rapidez), e esse episódio é um pulo abismal em relação a Ataque Surpresa nesse sentido. Se o morno episódio anterior parecia estagnado, sem progredir a trama ou desenvolver um compasso para a guerra, Dois Irmãos vai para o lado oposto, nos lembrando da excelência do anime.

Existe um cuidado narrativo extremo para fechar arcos de personagens enquanto constrói momentos impactantes, cheio de reviravoltas e um encadeamento que me lembrou Crianças da Floresta com pancada atrás de pancada, só que, claro, no meio da guerra, o que passa uma sensação épica gigantesca para o episódio. A trilha sonora está excelente em engrandecer esses momentos, seja com o tema característico da série, seja em situações específicas, como a morte de Galliard com teclas simples de piano que criam uma sonoridade ao mesmo tempo sinistra e melancólica, e também a transformação dos eldianos em Titãs acompanhada pelo que me soou como uma gaita de fole, típica de momentos de grande sacrifício em obras de fantasia medieval – ver Pixis fechando os olhos foi uma despedida comovente.

E o melhor de tudo é como a quantidade de elementos expostos são desenvolvidos de maneira orgânica. O fechamento de arco para Galliard, por exemplo, mesmo não sendo um personagem memorável e de grande impacto na série, faz muito sentido pelo que já vimos dele e do passado do seu irmão Marcel com Reiner. A maneira como ele descobriu, aliás, faz sentido em termos de mitologia da série com a questão do compartilhamento de lembranças, um toque que demonstra um cuidado de Isayama que aprecio bastante. Mas a junção disso com Falco se tornando um Titã (deixando ainda melhor sua confissão no episódio anterior), dobrando o impacto emocional e de culpa em Reiner, um personagem que eu já tinha dúvidas para onde a narrativa levaria, é onde a força sequencial do episódio se encontra.

É como um efeito dominó narrativo. A ação de um personagem leva a outra reação, e tudo só vai se tornando mais dramático. A culminação ali no meio do combate é Gabi assassinando Eren, outro momento perfeitamente alinhado para o arco da personagem, algo que eu esperava desde que o protagonista invadiu Marley, mas confesso que duvidava da coragem de Isayama. Até mesmo o artifício para salvar Eren, uma espécie de Deus Ex Machina que normalmente não gostaria, tem um caráter simbólico fantástico com a relação dos irmãos. A montagem cortando para o flashback deles conversando é inteligente para salientar isso, principalmente por emular a situação de “pegar” com a bola de beisebol – a maneira que Isayama demonstra o indício de traição de Eren e a desconfiança de Zeke quando o protagonista deixa a bola cair é sutilmente magnífica.

Antes de falar mais dos irmãos, é necessário tirar um tempo para ponderar a direção. Eu venho reclamando bastante disso neste retorno do anime, e aqui mesmo é possível notar algumas limitações. Os momentos com DMT, como o combate entre as tropas, a investida à Pieck e principalmente o péssimo ataque de Jean e Connie à Reiner, são exemplos que a Mappa, apesar de trazer uma ótima animação, não consegue ser criativa com resoluções visuais mais práticas – as lutas entre os Titãs continuam básicas também. A agilidade do episódio é mais em relação aos momentos grandiosos (mais disso à frente) do que necessariamente criatividade coreográfica com a câmera.

No entanto, a questão sequencial que eu citei anteriormente deixa esse lado negativo quase imperceptível. A construção de momentos extraordinários no episódio deixam a limitação visual mais digerível. Incrível o poder da atmosfera, não? O rugido de Zeke, a transformação de Falco, a morte de Galliard e a decapitação de Eren se desenrolando sucessivamente são de tirar o fôlego, dinamizando o ritmo do episódio e finalmente provendo senso de urgência a esta invasão. Aliás, Dois Irmãos faz algo que sempre foi característico de Attack on Titan: nos dá um episódio trágico, retornando às raízes de horror da série. E, após o final do flashback, a série vai além.

Para o tanto que eu reclamei da direção, é preciso aplaudir a transição do “toque” dos irmãos para o “Caminho”. Do slowmotion até aquela montagem bizarra, a animação oferece uma pegada surreal para a narrativa que me surpreendeu enormemente. Aliás, é curioso como, e eu já havia citado antes, a construção visual do “Caminho” é bem diferente do lado steampunk medieval e pós-apocalíptico da obra, adentrando uma linguagem surrealista, onírica e quase espiritual, deixando o lore da obra ainda mais intrigante. O mundo de Ymir é desolador e lindo em seu ambiente desértico sob a luz da aurora. E essa sequência retorna ao tema do episódio que é o relacionamento fraterno, com ótimos diálogos e um twist bem composto, seja por delinear as motivações de Zeke e Eren logicamente com suas personalidades, seja pela construção da leve desconfiança de Zeke até a traição dupla. Não sei se gosto tanto do artifício de Zeke “ter passado mais tempo lá”, mas é uma saída que compro para um desfecho climático, dentro de um episódio muito bem construído.

Attack on Titan – 4X19: Dois Irmãos (進撃の巨人, Shingeki no Kyojin – 兄と弟, Ani to Otōto, Japão, 23 de janeiro de 2022)
Criado por: Hajime Isayama
Direção: Teruyuki Omine
Roteiro: Hajime Isayama, Hiroshi Seko
Elenco:  Takehito Koyasu, Yoshimasa Hosoya, Ayane Sakura,  Natsuki Hanae, Toshiki Masuda, Manami Numakura, Yûmi Kawashima, Ayumu Murase, Masaya Matsukaze, Jirô Saitô, Tôru Nara, Yû Shimamura, Yûki Kaji, Kazuhiro Yamaji, Hiroshi Kamiya, Romi Pak, Kishô Taniyama, Hiro Shimono, Yû Kobayashi
Duração: 24 min.

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