Home FilmesCríticas Crítica | Até a Morte – Sobreviver é a Melhor Vingança

Crítica | Até a Morte – Sobreviver é a Melhor Vingança

Abandona o potencial por reviravoltas.

por Felipe Oliveira
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Quando se fala em Megan Fox, é fácil lembrar da franquia Transformers (2007), a duologia do reboot de As Tartarugas Ninja (2014) ou Garota Infernal, esse último com um dos seus maiores papéis de destaque. Porém, apesar da recorrência com o gênero de ação ou comédia, há uma resistência da audiência aos trabalhos da atriz, onde oferece mais “um rostinho bonito, sempre retocado” do que atuação. Por sorte e surpresa de alguns, sua personagem em Até a Morte – Sobreviver é a Melhor Vingança se abre como prova de que, se escolher bem, além dos blockbusters e títulos avulsos, Fox pode entregar uma performance acima da bolha em que é subestimada; o interessante nisso, é que até então, não se tinha observado, em maior parte, um consenso de que é ela quem sustenta esse filme. Ou mais suspense para Fox é sinônimo de mais atuação?

Em Till Death, somos apresentados à estreia de S.K. Dale como diretor em um longa-metragem, trabalho esse muito ágil em um filme independente e que é baseado num roteiro de Jason Carvey, neste que marca seu segundo contato no campo cinematográfico. Para insatisfação dessa sacada promissora como debut, à medida que flerta numa premissa que rege uma analogia ousada e tensa, o filme deixa esse caminho que o torna fora da curva e inesperado por um exercício básico de suspense, mas que ainda assim, não faz seu potencial ser totalmente dispensável.

Na trama, onde deveria ser um encontro especial para reaver o casamento em mais um aniversário, Emma (Fox) acorda algemada ao corpo do falecido marido Mark (Eoin Macken) apenas para descobrir que está envolvida num jogo de vingança. Antes de o filme chegar ao seu ponto chave que rendeu a Fox uma gama de elogios desde Garota Infernal, a narrativa se concentra em inserir pequenas informações sobre sua protagonista, informações essas que serão amarradas conforme o longa se debruça pelos exercícios de subgêneros que o roteiro propõe. Nesse primeiro momento, essas pistas estão sempre muito frouxas e não se mostram atraentes, porém, a premissa acerta ao conduzir o suspense em cima do desconforto e pânico de Emma ao comportamento controlador do esposo, o que serve para finalmente empolgar além das fracas investidas melodramáticas, levando assim seu escopo para o cenário principal numa casa de lago marcada pelo clima gélido, isolamento escassez.

Obviamente, o “até a morte” do título se refere ao voto matrimonial, mas termina assumindo um tom ao mesmo tempo literal e ambíguo que posiciona algumas possibilidades pertinentes a discussões quando Emma se dá conta que está algemada ao corpo morto do esposo: mesmo após o trágico desfecho, estaria ela fadada a um lento desfalecer por estar presa a um cadáver, em um lugar frio e isolado sem chances de pedir ajuda? Ou seria a algema um lembrete a Emma do casamento morto que vivia? Nem mesmo a morte foi capaz de livrá-la do pesadelo e medo constante do parceiro que tinha, e o roteiro se torna ainda provocativo ao colocar a agora viúva arrastando o cadáver em cima do seu antigo vestido de noiva pela casa na tentativa de se livrar das algemas, e o que percebe é tudo foi manipulado como forma de puni-la e culpá-la pelo fracasso da relação.

Seguir por essa vertente, poderia se tornar um artifício enfadonho ou continuar funcionamento muito bem se o roteiro de Carvey estivesse disposto a arriscar por essa trilha e deixar que a urgência, desespero e insuficiência falasse pela tensão, mas por não correr o risco, decide incrementar o desenvolvimento com explicações lógicas banhadas a reviravoltas e situações mirabolantes saindo da zona inventiva que iniciou em prol do apelo familiar do suspense genérico como entretenimento. Por vezes, é possível visualizar um arco sobre vingança, um thriller de sobrevivência, e mirando o seu clímax, um pouco de home invasion. A vantagem é que a direção de Dale esforça-se para manter a atmosfera inquietante palpável, e nas várias possibilidades e conveniências que surgem, definir um motivo convincente de que vale a pena seguir até o final. E a boa notícia é que, embora abandone o tom inicial da ilustre analogia, a narrativa consegue preservar parte dela ao fazer da resistência de Emma uma força contra a situação claustrofóbica e subjugação que foi posta.

Por outro lado, surge a impressão de que a analogia psicológica da casa, as algemas, que traz um sopro distinto para o filme tenha sido puro acaso da configuração de suspense em que o roteiro de Carvey pretendia atingir. De toda forma, além da direção engenhosa de Dale, a maior garantia de Till Death é ver a performance de Fox, por justamente ser um filme que depende 100% de sua entrega, que não só arrasta o corpo real de Macken por vários cômodos, mas que se movimenta para fazer valer esse suspense familiar.

Até a Morte – Sobreviver é a Melhor Vingança (Till Death – EUA, 2021)
Direção: S.K. Dale
Roteiro: Jason Carvey
Elenco: Megan Fox, Eoin Macken, Callan Mulvey, Jack Roth, Ami Ameen
Duração: 88 min.

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