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Crítica | Aterrorizante 2 (Terrifier 2)

Ambição em excesso.

por Felipe Oliveira
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Embora os relatos de telespectadores desavisados e de estômago fraco tenham chamado atenção, havia “muito mais” em Terrifier antes do gore exacerbado e sem censura ter se tornado o ponto repercutido de sua sequência, que chega seis anos depois de vários esforços e parcerias para realizá-lo. Usando de referências do slasher para contextualizar o carismático Palhaço Art, em Aterrorizante 2, Damien Leone foca em reproduzir melhor os tropos genéricos do subgênero a fim de entregar um roteiro mais interessante, aspecto esse que não parecia importar tanto no filme anterior, contudo, fica evidente que o cineasta pegou todas as ideias que tinha sem o cuidado de organizar quais e o que faria sentido manter para o enredo. Assim, há uma sequência ambiciosa sendo vista, mas que falha ao convencer no exercício de gênero que se propõe.

Se no primeiro longa o arquétipo da final girl recebia uma perspectiva perturbadora como resultado das ações do palhaço maníaco, aqui, Leone retoma a narrativa contando os eventos depois que o serial killer foi misteriosamente ressuscitado, recurso inteligente para aproveitar as pontas soltas. Além de apresentar uma abertura que serve como um exemplo forte das cenas gráficas que acompanham o filme, o autor prova que a inspiração com o slasher não irá aproximar Art da composição física e sobrenatural que se popularizaram nas franquias de Michael Myers e Jason, e sim, aponta para um controle e intenção de trabalhar o vilão à sua maneira, e manter por perto a intrínseca característica que mistura insanidade e carisma, mesmo num escopo que precisava amadurecer suas ideias.

Não é como se Art the Clown tivesse alguma influência semelhante a Myers em Haddonfield, mas a maneira com que Leone propõe sua mitologia de terror conversa com os argumentos traçados por Carpenter ao introduzir uma afiguração social através de um maníaco no Halloween, pelo menos no que tange a tradicional festa do Dia das Bruxas como temática, já que Art não configura alguma alusão crítica, e sim, age como um vilão declarado, pronto para espalhar caos, desconforto e violência. O cinismo ao mostrar o palhaço lavando seu macacão de cor preta e branca e se preparar para recomeçar seus ataques no condado de Miles articula o código doentio que denota suas características, o que serve também para deixar de lado as explicações racionais de como ele fugiu do necrotério assinando de forma brutal sua fuga.

É a partir desse detalhe que Leone incorpora as ligações sobrenaturais em Terrifier 2, pegando como inspiração A Hora do Pesadelo para explorar o paralelo entre a ressurreição e  a suposta conexão com Sienna (Lauren LaVera). Enquanto há um acerto na abordagem creepy nos sonhos da nova protagonista, que é levada a participar dos mórbidos números de palco do palhaço — ação essa permitida pela entidade que o vilão interage —, o roteiro falha ao querer combinar um slasher paranormal que pretende explorar tanto o enigmático maníaco quanto o leque de personagens como um filme-sequência. Talvez, como a inserção da entidade utiliza tragédias antigas para assumir uma forma e assim reanimar Art seja um elemento característico para justificar outras possíveis sequências, porém, do jeito que foi trazido aqui, se mostra um recurso vago, que apenas reproduz o escopo trivial de relacionar o passado da final girl com o vilão.

Isso também ilustra como Leone não quer reinventar a roda, mas tenta explorar alguns elementos do subgênero com outras discussões, como quando cutuca filmes de terror americanos se inspirarem em serial killers na fabricação de suas histórias, o que perpetua tais crimes, o que não soa um esforço para traçar alguma metalinguagem, mas é um exemplo das várias sugestões que o roteiro alude, porém nunca desenvolve ao menos uma, de fato. Ao fim, é notável muitas ideias que flertam com o slasher — a boa cena de Art pedindo doces no Halloween — e terminam como um exercício de gênero desesperado ao apelar para a violência gráfica para ser chocante. Já que apresentar um texto coeso nunca foi o forte de Leone, e sua execução anticlímax faça do filme uma experiência enfadonha, há muito carisma envolvido em Art the Clown, e Aterrorizante 2 é sobre a tentativa de propor diferentes narrativas para um antigo personagem de sua filmografia.

Ainda que as concepções propostas por Leone não fechem como um filme bem estruturado, e sim, a um extenso exercício de gênero, é perceptível a segurança do cineasta em só contar essa história da maneira que pensou. Por isso, tudo que foi pouco explorado em Terrifier, é ampliado ou parte de um desejo de querer fazer melhor, como a fotografia de filtro e luzes em verde e vermelho, a presença maior dos elementos splatter, mas certamente, o maior exemplo disso é na mitologia traçada pela final girl, uma Valquíria que rejeita ser mais uma para o arquétipo da garota final, recebendo um tratamento quase épico, embebido na fantasia e simbologias. Por fim, Aterrorizante 2 aponta como apenas uma das potenciais histórias que Art pode encabeçar, esbanjando um humor mórbido e revirando estômagos.

Aterrorizante 2 (Terrifier 2 – EUA, 2022)
Direção: Damien Leone
Roteiro: Damien Leone
Elenco: Lauren LaVera, Elliott Fullam, David Howard Thornton, Jenna Kanell, Kaile Hyman, Casey Hartnett, Sarah Voigt, Amelie McLain
Duração: 138 min.

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