Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | Aterrorizante (Terrifier)

Crítica | Aterrorizante (Terrifier)

O novo ícone controverso do slasher.

por Felipe Oliveira
2,6K views

Não precisa ir muito longe para entender a síntese que Damien Leone pretendia abarcar em Terrifier, seu terceiro longa-metragem como diretor e roteirista: apresentar uma história que se configurasse nos parâmetros do slasher. Longe de tratar o chamado Palhaço Art como uma personificação social de praxe no subgênero, ou pelo prisma do whodunnit, fica evidente que Art é o responsável pelos crimes hediondos cometidos durante uma noite de Halloween. Este se faz um gancho interessante trazido logo na abertura, ao introduzir o típico arquétipo da final girl como uma mulher desfigurada, traumatizada e que reproduz a violência sofrida numa espécie de demonstração de ódio e vingança na chocante sequência cheia de gore e exibições gráficas.

Sendo umas das figuras mais marcantes da filmografia de Leone, introduzido anteriormente em curtas-metragens, Aterrorizante teve como maior apelo a caracterização de seu vilão, um palhaço maníaco com um visual anulador, sinistro e intimidador o suficiente com a cara pintada de branca, alguns traços pretos e dentes afiados. De início, sua movimentação relembra Michael Myers, mas ao contrário da máscara pálida e sem expressão, Art the Clown transmite desconforto com o jogo de mímicas e ausência de fala. Já seu sadismo, remete a Freddy Krueger, bem como o teor visual de sua representação aponta para Pennywise, porém, com uma versão oposta, sem cores, sem filtro. Ao ter uma vestimenta que alternava entre o branco e preto, estabelecia-se uma oposição à ideia de pureza e impessoalidade frente às práticas brutais do assassino.

Com tal visual, a performance irônica e desconcertante de David Howard Thornton como Art, trazia uma composição expressiva que só seria vista com o Ghostface e sua personalidade atrapalhada, diferente da desafeição nas figurações de Myers e Jason Voorhees. Dessa forma, Leone amadureceu sua criação até chegar a marcante vilania que sabia ser sádico, provocante e ácido. E embora o tremendo palhaço tenha se mostrado o maior acerto de Terrifier, o mesmo não se pode dizer do roteiro. Em alguns momentos Leone se apoiava nos acenos a ícones do slasher para a organização dos trejeitos e identidade de Art, em outros, o enredo não negava suas inspirações a títulos populares do subgênero, fazendo também claras referências a O Massacre da Serra Elétrica – O Retorno, em um dos números mais ridicularizadores de Art the Clown.

A trama, que tinha como objetivo narrar os eventos anteriores a perturbadora abertura, era simples ao apresentar duas amigas que terminam esbarrando com Art ao voltarem para casa após uma festa de Halloween. Nessa proposta, Leone tentava aplicar uma quebra de expectativas a respeito do arquétipo da final girl conforme as amigas se viam encurraladas nos mecanismos do maníaco. Por um pouco, é uma dinâmica que funciona graças a performance de Jenna Kanell, diante das repetições enfadonhas do roteiro em trabalhar o suspense alternando em blocos sem inspiração numa mesma ambientação.

Eram em momentos como esse que Leone poderia investir na criatividade, já que concentrou mais da metade da trama numa ambientação, e do nada, personagens estereotipados do subgênero surgiam apenas para cumprir um papel metódico que não atingia um mínimo de impacto. E em meio a um jogo de iluminação de tons verdes e vermelho, o que sustentava o exercício amador e terror apelativo de Terrifier, além da edição desestimulante, função essa que Leone desempenhou, era a assertiva composição de Art e entrega cínica e silenciosa de Thornton — aspecto esse exaltado na trilha de Paul Wiley, que sumia para dar ênfase aos movimentos do palhaço. Porém, ainda que contar com esse fenômeno visual tenha sido o suficiente para causar um feito memorável e apavorante, o filme carecia de qualquer motivação que não se apoiasse apenas no código das referências.

Se Myers foi estabelecido como a Forma, representação de um temor social e psicótico, em Aterrorizante, Leone parecia não se preocupar no que queria contextualizar seu vilão. As breves cutucadas ao sensacionalismo midiático e exibições por status nas redes sociais, além de uma aversão a cultura virtual, soava como esboços que não pretendiam ser aprofundados dentro do roteiro, apenas sendo menções convenientes para o momento, ou simplesmente, inserir uma suposta crítica social que fosse para fazer média. Por fim, Terrifier era um filme que bebia bastante dos elementos slashers, mas reproduzia da categoria splatter o que definiria como polêmico, num exercício que não explorava sua personalidade nem sequer potencialidade: a forte violência.

Aterrorizante (Terrifier – EUA, 2016)
Direção: Damien Leone
Roteiro: Damien Leone
Elenco: Jenna Kanell, Samantha Scaffidi, David Howard Thornton, Catherine Corcoranm Pooya Mohseni, Matt McAllister, Katie Maguire
Duração: 85 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais