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Crítica | Atividade Paranormal

por Rafael W. Oliveira
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Desde o sucesso estrondoso de A Bruxa de Blair no fim dos anos 90, muitos aguardaram ao longo dos anos por um sucessor daquele formato caseiro – câmera na mão, cores desbotadas e som pobre – que fizesse jus ao extremo realismo que o estilo do found footage trazia consigo. Houveram tentativas, algumas válidas (como o chocante Cloverfield – Monstro) e outras nem tanto (como o redundante e nada surpreendente [REC]), assim como outras investidas lamentáveis (como o grotesco O Último Exorcismo). Atividade Paranormal, do diretor estreante Oren Peli, talvez seja o mais bem-sucedido desta nova leva dos filmes de terror que tem se popularizado ao longo dos anos. Realizado ao custo de míseros US$ 15 mil, o projeto amador de Peli percorreu um longo caminho até chegar as telas do cinema e, quase que de imediato, causar um furor no meio do público.

Boa parte do sucesso de Atividade Paranormal se deve ao boca-a-boca crescente que surgiu antes da estreia do filme (apesar de ter sido rodado em 2007, o filme só chegou ao circuito comercial dois anos depois), mas os méritos do filme falam por si só e justificam a ovação em torno da obra em sua época. Com uma história pífia e nada original (semelhanças com Horror em Amytville não são meras coincidências), onde um casal decide registrar acontecimentos sombrios que andam ocorrendo em sua casa, Peli cria uma experiência assustadora e sufocante, com um nível de tensão crescente que atinge níveis quase insuportáveis. Para isso, o diretor ousadamente vai contra as convencionalidades e aposta numa narrativa extremamente lenta e que gasta boa parte de seu tempo exibindo o cotidiano de seus protagonistas. Engana-se, entretanto, quem diz que Peli está apenas “enchendo linguiça” com tal fato: tudo faz parte de um plano maior.

A familiarização que Peli constrói entre o tédio dos personagens com o espectador é o ponto-chave para que Atividade Paranormal se torne uma experiência assustadoramente pessoal. Ao mostrar Micah e Katie (nome verdadeiro dos atores que o interpretam) como um simples casal no meio de uma situação fantástica, o diretor consegue nos levar para além daquilo que estamos (ou não) vendo, afinal, tudo aquilo poderia estar acontecendo na casa ao lado. Ou mais ainda, na nossa. Afinal, o que acontece enquanto dormimos? O sono é um momento de extrema vulnerabilidade, e o diretor consegue trabalhar de forma criativa comeste fato, apostando mais subjetividade e menos em exageros visuais.

O baixíssimo custo da produção, sem dúvidas, contribuiu para isso. Sem oportunidades (leia-se, grana) para construir cenas apoiadas em efeitos visuais e maquiagem pesada (algo que [REC] fez e acabou por falhar), o diretor é obrigado a apostar em soluções que estejam de acordo com o orçamento que possuía, e como resultado, Atividade Paranormal carrega uma sequências de cenas que apostam na extrema simplicidade e, por isso mesmo, se tornam mais assustadoras a medida que contribuem para o aspecto caseiro da fita, criando um realismo imenso em cima desta história.

Obviamente, a calmaria da narrativa e os poucos (porém dignos) sustos da produção trouxeram desgosto para aqueles que se deixaram levar em excesso pela expectativa gerada em torno da obra, algo que é sempre uma armadilha. Atividade Paranormal não é um filme arrojado, feito para nos fazer pular da poltrona. O filme desperta sentimentos ainda mais primitivos, como o medo do desconhecido, daquilo que não podemos ver ou tocar. Neste sentido, o filme é extremamente bem sucedido, uma vez que muitos (e este que vos escreve está incluso neste grupo) passaram noites sem dormir tranquilamente após passarem por esta experiência.

Com um clímax perfeitamente adequado em termos de conclusão e dramaticidade (mas que também foi motivo de reclamação para muitos), Atividade Paranormal é um filme de proposta clara e objetiva: despertar no espectador o medo daquilo que está além da nossa compreensão. Há sequências capazes de ficar na mente por muito tempo (como a sequência em que Katie é arrastada pelo corredor), mas o que fica marcado é o sentimento de extrema tensão que o filme nos proporciona ao longo de seus quase 90 minutos.

Atividade Paranormal é perfeitamente recomendado para aqueles que adoram sentir medo.

Atividade Paranormal (Paranormal Activity, EUA, 2007)
Roteiro: Oren Peli
Direção: Oren Peli
Elenco: Katie Featherston, Micah Sloat, Mark Fredrichs, Ashley Palmer
Duração: 86 min.

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