Home TVTemporadasCrítica | Atração Fatal: Minissérie Completa

Crítica | Atração Fatal: Minissérie Completa

Uma versão irregular seriada, mas assistível, da clássica história de adultério que termina em tragédia.

por Leonardo Campos
12 views

Atração Fatal é uma série de televisão americana de suspense psicológico erótico, desenvolvida por Alexandra Cunningham e Kevin J. Hynes, e exibida entre abril e maio de 2023. Baseada no filme homônimo de 1987, escrito por James Dearden, a série traz Joshua Jackson no papel de Dan Gallagher, um promotor público adjunto em Los Angeles, que lidera o Major Crimes Bureau. Lizzy Caplan interpreta Alex Forrest, uma nova integrante do Departamento de Serviços às Vítimas, enquanto Amanda Peet assume o papel de Beth Gallagher, esposa de Dan e mãe de Ellen, interpretada por Alyssa Jirrels, que é filha do casal e estudante de psicologia. O elenco central tem como referência o clássico dirigido por Adrian Lyne, inspirado no curta-metragem Diversion, de 1979, também assinado por Dearden. Em comparação com o filme, que teve menos de duas horas para desenvolver sua narrativa, a série conta com quase oito horas para aprofundar seus personagens e explorar novas dimensões da história.

Essa extensa duração oferece uma oportunidade teórica de desenvolver mais profundamente nas nuances emocionais e nos conflitos internos dos protagonistas. Contudo, o desafio é grande, uma vez que as performances de Glenn Close e Michael Douglas no filme original estabeleceram padrões elevados que qualquer ator que aceite reinterpretar esses papéis deverá enfrentar. Apesar do esforço do elenco, a série não consegue capturar o impacto de suspense e erotismo presente na obra original, resultando em uma narrativa que se revela apenas vagamente curiosa. Com oito episódios de cerca de 40 a 50 minutos cada, Atração Fatal acaba dominada por um marasmo que prejudica o desenvolvimento da trama. A expectativa em torno da série não se concretiza, refletindo uma experiência que deixa os espectadores desejando mais do que o que é oferecido. A adaptação, embora inspiradora, não logra transmitir a intensidade e a complexidade emocional que tornaram o filme de 1987 uma obra-prima memorável, gerando uma recepção crítica morna em comparação ao sucesso do clássico do cinema.

Atração Fatal apresenta uma narrativa desenvolvida em duas linhas temporais que exploram a vida de Dan Gallagher. Em 2008, Dan é um promotor brilhante com perspectivas promissoras na carreira, prestes a receber uma rara promoção a juiz, ao mesmo tempo em que desfruta de uma vida familiar estável com sua esposa, Beth, e sua filha, Ellen. No entanto, sua frustração profissional o leva a uma noite de paixão com Alex Forrest, um encontro que provoca uma reviravolta em sua vida. Esta decisão impulsiva desencadeia uma série de eventos que culminam em tragédias. Em 2023, após passar 15 anos na prisão por um crime que insiste não ter cometido, o assassinato de Alex, Dan é libertado e tenta reatar relações com sua filha, Ellen, que cresceu sem ele e construiu uma nova vida. Ao mesmo tempo, ele enfrenta o desafio emocional de lidar com o novo relacionamento de sua ex-esposa e o impacto que sua ausência teve na vida dela e da filha. Assim, ao alternar entre essas duas linhas temporais, a produção busca explorar os efeitos duradouros das escolhas de Dan e as consequências de seus atos, numa narrativa carregada de conflitos emocionais, bem como tentativas de redenção.

O peso das expectativas é significativo, principalmente em um projeto que revisita um clássico tão marcante. Dentro desse contexto, o papel de Amanda Peet como Beth Gallagher se torna particularmente ingrato. Enquanto Anne Archer, que interpretou o mesmo papel no filme de 1987, recebeu uma indicação ao Oscar, Peet parece estar restrita a uma representação que a coloca em um papel meramente funcional, contraponto da breve amante.  Essa dualidade limita a profundidade da esposa enquanto personagem, deixando-a mais como uma figura em segundo plano do que como uma mulher com suas próprias complexidades e motivações, o que compromete a riqueza da narrativa em formato seriado que, apesar de ter torcido para dar certo, pois admiro o universo dramático de Atração Fatal, infelizmente não envolveu o suficiente, tamanha a “anemia” representada pelo enredo. A direção de fotografia de Cort Fey e Julio Macat entrega um bom trabalho, a trilha sonora de Craig DeLeon está acima do razoável e o design de produção de Nina Ruscio demonstra eficiência, mas nada suficiente para a série ser grande.

Desta vez, Dan Gallagher não é mais retratado unicamente como uma vítima; suas ações e personalidades são examinadas mais profundamente. Similarmente, a personagem Alex, que antes era vista apenas como uma figura insana sem um contexto narrativo desenvolvido, ganha uma nova dimensão nesta releitura. Nesse sentido, começando após o trágico desfecho da morte de Alex, enquanto Dan afirma sua inocência e busca provas para um novo julgamento, nessa jornada, ele conta com a ajuda de Mike (Toby Huss), um ex-investigador de polícia que se torna o único amigo restante de Dan após sua condenação, adicionando uma camada de camaradagem à narrativa. A estrutura que alterna entre duas linhas temporais é um recurso que busca enriquecer a exploração do personagem de Dan Gallagher.

Inicialmente, ele é apresentado como um homem narcisista que se vê no auge do sucesso e da masculinidade, acreditando que o mundo gira em torno de suas vontades. No entanto, sua queda, resultante do colapso de seu “império”, nos revela um homem vulnerável, que enfrenta o desprezo das pessoas que antes o admiravam. À medida que Dan tenta reconstruir sua vida e limpar seu nome, a série destaca as consequências de suas escolhas e a fragilidade de sua masculinidade, proporcionando um retrato mais nuançado de um homem que, em última análise, é confrontado pelos demônios de seu passado e pelas verdades sobre quem realmente é. Potencial? Sim, mas de desenvolvimento letárgico para um estilo narrativo deste tipo. Assim, a narrativa, embora apresente algumas irregularidades em sua execução, proporciona um olhar sobre a psicologia dos personagens, mostrando como a saúde mental se deteriora em meio aos relacionamentos conturbados.

Atração Fatal: Minissérie Completa (Fatal Attraction, Estados Unidos/2024)Criação: Alexandra Cunningham, Kevin J. HynesDireção: Silver Tree, Pete Chatmon, Alexandra CunninghamRoteiro: Alexandra Cunningham, Kevin J. Hynes, Stacy A. Littlejohn, Tandace Khorrami, James DeardenElenco: Joshua Jackson, Amanda Peet, Lizzy Caplan, Toby Huss, Brian Goodman, Alyssa Jirrels, Vivien Lyra Blair, Reno Wilson Duração: 43 min. (Cada episódio – 08 episódios no total)

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais