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Crítica | Avanti! Amantes à Italiana

por Fernando Campos
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Mesmo a história mais simples, nas mãos de um mestre, pode receber contornos adoráveis. Especialista em humor e romance, Billy Wilder embarca mais uma vez no gênero em Avanti!, um dos últimos filmes da filmografia do cineasta. Temos aqui uma história previsível, mas que gera encantamento pela atmosfera de graça e paixão que o diretor consegue criar.

O longa acompanha Wendell Armbruster Jr. (Jack Lemmon), um ocupado homem de negócios que precisa ir até a Itália para pegar o corpo do pai, que faleceu, e levá-lo para os EUA, onde ocorrerá o velório. Na viagem, ele conhece Pamela Piggot (Juliet Mills), uma mulher com problemas de autoestima e que está no local por causa do falecimento da mãe. Através de Pamela, Wendell descobre segredos do pai e adquire um novo olhar sobre a vida.

Avanti! possui um arco narrativo tradicional e uma história clichê até mesmo para a época, mas se torna um bom filme graças a doçura com que Wilder conduz o trabalho. No início, a direção constrói uma misancene bem elaborada para pontuar quem é o protagonista e o dilema dele; sem o uso de diálogos, vemos Wendell pulando de um avião para outro e, dentro da aeronave, fazendo uma proposta para trocar de roupa com um senhor, abrindo mão de um conjunto esportivo para adquirir um terno, uma vez que ele teve que viajar às pressas por causa do falecimento do pai. A escolha do protagonista mostra a essência do personagem, abrindo mão da vestimenta vermelha e viva para um figurino cinzento e triste. Mais do que luto, o homem possui uma vida sem graça e regrada pelo trabalho. A mesma lógica visual ocorre quando Pamela surge pela primeira vez, aparecendo com um vestido preto e largo com um chapéu da mesma cor. No caso dela, a tristeza está na cobrança estética que impõe a si mesma, escolhendo o preto para se esconder.

A partir disso, o roteiro cruza os arcos dos dois personagens para que aprendam um com o outro e, através disso, se apaixonem. Wendell passa a ver a vida com a calmaria de Pamela e ela começa a se preocupar menos com o que pensam dela visualmente, se impondo mais assim como o homem. Apesar da previsibilidade de algumas reviravoltas, Wilder é um tremendo contador de histórias, ainda mais sobre casais, e consegue em Avanti! produzir um longa envolvente. O diretor utiliza de forma impecável figurino e direção de arte não só para pontuar as mudanças dos protagonistas, como para ressaltar como é a beleza daquele lugar que transforma a dupla. Dentro dessa estratégia, a fotografia recorre a vários planos abertos e cenários iluminados para mostrar as lindas locações italianas ou o majestoso hotel em que estão hospedados. Já a trilha sonora traz acordas típicos da Itália, como se fosse uma espécie de música ambiente que rege os casais apaixonados. Portanto, uma das reflexões propostas sutilmente por Wilder é o peso que o ambiente gera em alguém. Até mesmo o humor do longa entra na proposta, como na cena em que JJ Blodgette (Edward Andrews) sugere que Carlucci (Clive Revill) não aceite uma proposta para trabalhar em Nova Iorque, devido ao estresse causado pela cidade.

Falando na parte humorística, o roteiro se apoia em momentos leves para criar graça e construir o arco dramático do filme, como nas cenas em que o tempo de almoço dos italianos é citado, irritando os americanos sempre apressados com tudo. Nisso, se estabelece outra temática proposta, a de aproveitar a vida. Um exemplo disso está quando Carlucci diz: “não somos como vocês americanos que correm para uma lanchonete na hora do almoço. Nós aproveitamos o tempo”.

No entanto, mesmo que a proposta do filme seja criar um universo leve que beira a ingenuidade, incomoda um pouco a forma com que o texto ignora questões familiares do pai de Wendell e dele mesmo. Não que o longa precisasse abraçar uma dramaticidade, mas ignorar isso soa como oportunismo narrativo. Afinal de contas, se pai e filho Armbruster sentem-se tão felizes distantes da família, o que ocorre nas casas deles que os deixa tão tristes? Por que as esposas não os agradam? Perguntas que a obra não se atreve em responder. Entendemos a paixão dos personagens, num recurso inteligente do roteiro que faz o protagonista conhecer melhor o pai mesmo depois de morto, mas não entendemos o contexto pessoal que os levou a isso.

Apesar disso, Jack Lemmon e Juliet Mills são impecáveis na construção de seus arquétipos. Lemmon ressalta a irritabilidade de Wendell sem deixar de pontuar o lado atencioso dele, algo necessário para não torná-lo antipático. Já MIlls mostra a insegurança de Pamela, sem tornar a personagem fútil, pelo contrário, há um otimismo atraente na personagem. Enquanto isso, Clive Revill é o grande responsável por causar humor, com uma prestatividade que beira o absurdo, gerando graça.

Avanti! é um filme previsível em diversos momentos e que evita nuances espinhosas da própria história. Portanto, a segurança e experiência de Wilder no comando do projeto torna a obra uma divertida jornada pelo interior da Itália que, se não nos transforma como ocorre com os protagonistas, pelo menos garante um momento de conforto e bom humor.

Avanti! – EUA e Itália, 1972
Direção: Billy Wilder
Roteiro: Billy Wilder, I. A. L. Diamond, Samuel A. Taylor
Elenco: Jack Lemmon, Juliet Mills, Clive Revill, Edward Andrews, Gianfranco Barra, Franco Angrisano, Pippo Franco, Franco Acampora, Giselda Castrini
Duração: 144 min

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