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Crítica | Avenida Paulista – 1X01: Episódio 1

Dinheiro, dinheiro, dinheiro...

por Luiz Santiago
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Bem-vindos ao Plano Piloto, coluna semanal dedicada a abordar exclusivamente os pilotos de séries de TV.

Número de temporadas: 1
Número de episódios: 17
Período de exibição: 10 a 28 de maio de 1982
Há continuação ou reboot?: Não.

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Trambiques, inveja, ganância e as mais diversas situações de crime e impunidade sempre foram retratadas nas artes e sempre tiveram camadas interessantes de intrigas, especialmente quando o texto mostra que existe mais de um bandido em cena querendo se dar bem, exatamente como vemos neste episódio inaugural da minissérie Avenida Paulista, produção da primeira fase de dramas em formato curto da Rede Globo, sucedendo a icônica Lampião e Maria Bonita. Após o sucesso da trama histórica anterior, a emissora escolheu trabalhar em algo contemporâneo e bem conhecido do público, como o mundo dos crimes de colarinho branco e das organizações ou decisões criminosas de grandes empresários, homens e mulheres que fazem de tudo para salvar a própria pele e o próprio império.

Daniel Más e Leilah Assumpção escrevem uma trama que mostra suas intenções rapidamente, tendo como guia narrativo o banqueiro Frederico Scorza (interpretado com a excelência de sempre pelo grande Walmor Chagas) que promove Alex Torres (Antônio Fagundes, excelente em cena) a um cargo alto, mesmo após descobrir que o insuspeito funcionário de uma agência do interior de São Paulo desviou 10 milhões de cruzeiros para sua conta pessoal. Arrisco dizer que quem vende a série com enorme competência são esses dois personagens, seguidos de perto pela ótima Dina Sfat no papel de Paula Alencar.

A podridão do mercado financeiro pode ser vista nos arranjos feitos pelos personagens, e essa mesma podridão se mostra na forma como os ricaços tratam os próprios familiares e os empregados. Em nenhum momento, porém, o texto se torna forçado ou estereotipado. O contraste de classe entre Alex e a família Scorza (e aliados) é a base de uma das melhores cenas do episódio: o jantar de apresentação de Alex, que acaba sendo um pesadelo cultural e sociológico com direito a pitadas de humor mórbido vindo das falas de Anamaria Scorza (Bruna Lombardi), a filha estranha de Frederico.

Fica muito claro que a intenção dos criadores era criar conflitos internos a partir das diferenças de personalidade, condições e interesses financeiros, um intento dramático que, no fim das contas, só usa o símbolo da Avenida Paulista (à época, o local de concentração dos ricaços, bancos, investidores e afins — algo na linha da Faria Lima nos anos 2020), como um canal de representação, uma vez que esses mesmos problemas poderiam acontecer em qualquer lugar.

Desacreditei quando ouvi, na cena em que Alex entra pela primeira vez no Maksoud Plaza, um trecho de Asteroid Field, de John Williams, destacando o motivo musical da Marcha Imperial. Ainda devo citar que não gosto da captação de som no início do episódio, e que a cena onde os filhos de Frederico aparecem pela primeira vez em cena ficou solta em sua construção e intenção. No geral, porém, a direção de Walter Avancini ergue uma base estrutural muito boa, fazendo com que o público se entretenha com essas faces aproveitadoras e reprováveis, buscando cada vez mais dinheiro e afundando-se cada vez mais em corrupção.

Avenida Paulista – 1X01: Episódio de 10/05/1982 (Brasil, 10 de maio de 1982)
Criação: Daniel Más, Leilah Assumpção
Direção: Walter Avancini
Roteiro: Daniel Más, Leilah Assumpção
Elenco: Antônio Fagundes, Walmor Chagas, Dina Sfat, Bruna Lombardi, Martha Overbeck, Ney Latorraca, Wanda Stefânia, Odilon Wagner, Luiz Armando Queiroz, João José Pompeo, Yara Lins, Odavlas Petti, Andrea L’abatte, Walter Forster, Lélia Abramo
Duração: 41 min.

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